Ainda há escolas que não conseguem fazer o acompanhamento necessário das crianças com diabetes. O alerta é lançado por Paula Klose, presidente da Associação de Jovens Diabéticos de Portugal, no dia mundial dedicado a esta doença. Embora não tenha quantificado ou apontado casos concretos, Paula Klose diz que este é um problemas muitas vezes apontado pelos pais de jovens diabéticos e que os reportam à associação que preside.
“O que ainda acontece é que muitas escolas não aceitam, ou não conseguem, fazer o acompanhamento necessário dos seus alunos para o bom controlo da diabetes de tipo 1. Isto acontece especialmente com crianças que ainda não têm autonomia para conseguirem elas próprias assegurar os cuidados necessários, de forma a que não tenham quaisquer problema na sequência da doença”, explica Paula Klose ao Observador.
Estas situações acontecem com alunos do 1.º ciclo do Ensino Básico, sustenta, que por serem ainda muito jovens não sabem lidar com a doença. Com alunos mais velhos, a questão não se coloca porque, como diz a presidente da Associação de Jovens Diabéticos de Portugal, “inevitavelmente têm de aprender” a seguir as suas rotinas médicas do dia a dia.
“As queixas que nos chegam dos pais é que as escolas não aceitam fazer o acompanhamento médico necessário ou então dizem que vão fazê-lo, mas não fazem, ou, pelo menos, não fazem exatamente o que é suposto. Às vezes podem acabar por seguir as rotinas médicas um bocado mais cedo ou mais tarde, o que pode levantar problemas desnecessários”, explica.
Cada doente de diabetes de tipo 1 tem o seu plano médico próprio, com diferenças de caso para caso. “Estamos a falar de uma picada no dedo para ver como estão os níveis de açúcar no sangue, de administrar a insulina — que implica manusear as bombas —, ou de fazer a contagem dos hidratos de carbono que as crianças comem”, explica Paula Klose.
Se não o fizerem de acordo com as instruções médicas, as crianças diabéticas podem passar por sintomas desnecessários. “Correm o risco de ter oscilações de níveis glicémios, podem ter uma hiper ou uma hipoglicemia. Se estiverem com uma taxa elevada de açúcar de sangue, isso pode causar-lhes mal-estar, falta de concentração, podem ficar irrequietas, sentir enjoos, tudo sintomas completamente desnecessários se a glicemia estiver regulada.”
Para Paula Klose, isto acontece porque a falta de conhecimento sobre a doença nas escolas gera muito medo em quem tem de lidar com as crianças diabéticas. “A falta de conhecimento sobre a doença gera medo, o medo gera entraves a alguns procedimentos. Por outro lado, a falta de auxiliares nas escolas também não torna as situações mais fáceis. São estas duas situações conjugadas, falta de meios e de informação, que faz com que as coisas nem sempre corram bem.”
Perante este cenário, aos pais não restam muitas soluções, defende a presidente da Associação de Jovens Diabéticos de Portugal. “Os pais podem tentar três hipóteses: a primeira é deixar a criança na escola, confiando que, pelo menos, os mínimos serão feitos, mesmo que não no momento certo. A segunda hipótese é retirar a criança daquela escola e colocá-la noutra, o que nem sempre é fácil ou possível. E a terceira — que é muito desgastante — é os pais tirarem licenças do emprego ou serem eles próprios a ir à escola à hora de almoço para perceberem se o acompanhamento está a ser feito ou, até, fazerem-no eles próprios no estabelecimento de ensino.”
A solução para o problema passaria, na sua opinião, por ter mais meios humanos nas escolas e a informação circular entre a comunidade educativa. “Isso era o mundo perfeito. Com mais meios e informação, isto não acontecia. Há aqui um esquema que tem imensos intervenientes: os médicos especialistas deveriam passar informação à saúde escolar, a saúde escolar deveria dar formação nas escolas, as escolas deveriam ser capazes de acompanhar as crianças e os pais deveriam ter um papel ativo em todo o processo. Se tudo isto funcionar e o plano do médico para a criança for seguido, é perfeito. Mas ainda há muitas falhas de comunicação”, sublinha Paula Klose.
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Uma das missões da Associação de Jovens Diabéticos de Portugal é passar a mensagem que as pessoas portadoras da doença podem ter uma vida normal. “Neste momento temos uma campanha em curso, #agarraoaçúcar, nas redes sociais. São vários cartazes onde se vê, por exemplo, uma hospedeira de bordo, um voluntário no Nepal, ou um nadador salvador e que pretende mostrar que as pessoas diabéticas podem ter uma vida absolutamente normal e serem quem querem ser”, conclui Paula Klose.
A 14 de novembro assinala-se o Dia Mundial da Diabetes, doença que pode ser do tipo 1 ou 2. A diabetes tipo 1 é uma doença crónica, que se desenvolve quando o pâncreas para de produzir a insulina de que o corpo necessita e, consequentemente, os níveis de açúcar no sangue sobem. A diabetes tipo 2, mais predominante, é caracterizada pela resistência à insulina e é provocada por hábitos alimentares pouco saudáveis, sedentarismo e hereditariedade, entre outros fatores.
Segundo o relatório de 2015 do Observatório Nacional da Diabetes, 13,3% dos portugueses têm a doença, embora metade dos casos não estejam diagnosticados. A Diabetes tipo 1 afetava, em 2015, 3.327 indivíduos até os 19 anos, manifestando uma ligeira tendência de crescimento desde 2008 .
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