A escritora uruguaia Ida Vitale venceu esta quinta-feira o Prémio Cervantes de literatura, pela “sua linguagem, uma das mais destacadas e reconhecidas da poesia”, anunciou esta quinta-feira, em Madrid, o ministro da Cultura espanhol, José Guirao.

Ida Vitale “é um referente para os poetas em [língua] espanhola”, pela sua “trajetória poética e intelectual”, detentora de uma das “mais destacadas e reconhecidas” expressões da poesia, “ao mesmo tempo intelectual e popular, universal e pessoal, transparente e profunda”, disse o ministro, citando a decisão do júri do mais importante prémio literário das letras hispânicas. A presidente do júri, a escritora Carmen Riera, qualificou Vitale de “poeta extraordinária com grandes ligações a Espanha”.

De acordo com José Guirao, Ida Vitale (Montevideo, 1923), ao saber da atribuição do Prémio Cervantes, mostrou-se surpreendida e muito agradecida. Nascida em Montevideo, em 2 de novembro de 1923, Ida Vitale afirmou-se como poetisa, jornalista, tradutora e crítica literária. Entre a vasta obra publicada da autora, destacam-se títulos como “La luz desta memoria”, “Procura de lo imposible”, “Léxico de afinidades”, “Sueños de la constancia” e “Cada uno en su noche”.

A escritora pertenceu à chamada Geração de 45, que integrou igualmente os escritores Mario Benedetti (1920-2009) e Juan Carlos Onetti (1909-1994), e que é considerado, na história das literaturas hispanas, o mais importante movimento literário no Uruguai, no século XX.

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Ida Vitale estudou Humanidades e lecionou até 1974, em Montevideu, quando a ditadura militar a obrigou a exilar-se no México, durante dez anos. Colaboradora de jornais e revistas, fez também parte do conselho assessor da revista Vuelta e do grupo fundador do periódico Unomasuno, no México.

Sem obra publicada em português, de acordo com o catálogo da Biblioteca Nacional, Ida Vitale traduziu, contudo, em 1968, para castelhano, as “Cartas de amor de la religiosa portuguesa”, atribuídas a Mariana Alcoforado, publicadas em Montevideo, no Uruguai, pela Arca-Galerna.

Entre os prémios que recebeu contam-se o Prémio Internacional Octavio Paz de Poesia e Ensaio, o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-americana (2015) e o Internacional de Poesia Federico García Lorca (2016). É também doutora honoris causa pela Universidade da República do Uruguay.

No passado mês de setembro, Ida Vitale foi distinguida com o Prémio em Línguas Românicas da Feira Internacional do Livro (FIL) de Guadalajara, que será entregue no México, no próximo dia 24, durante a FIL. O júri do prémio mexicano, que distinguiu Vilate por unanimidade, destacou então “a depurada voz” da escritora, que “sabe renovar a tradição e afirmar a sua presença na modernidade”, constituindo “uma força poética no âmbito da língua espanhola”.

Em 2017, o Prémio Cervantes, dotado de 125 mil euros — prémio conhecido em Espanha como “o Nobel de literatura em catelhano” –, foi atribuído ao nicaraguense Sergio Ramírez. A distinção da uruguaia Ida Vitale, este ano, rompe a tradição de alternância, entre autores espanhóis e latino-americanos, estabelecida ao longo das diferentes edições do prémio.