João Mário foi um dos principais elementos da equipa que a 10 de julho de 2016 viu Éder ser mais forte do que Koscielny e rematar de pé direito para o golo que deu a Portugal o título de campeão da Europa. Virtuoso, combativo, com a capacidade de fazer maravilhas com os pés enquanto mantém a cabeça levantada à procura de linhas de passe – qualidade já raramente vista -, tinha sido fulcral no Sporting do primeiro ano da era Jorge Jesus que lutou pelo campeonato até à última jornada e ficou no segundo lugar da classificação, com menos dois pontos que o Benfica. Um mês depois da final de Saint-Denis, saiu para o Inter Milão.

A primeira temporada em Milão foi satisfatória: João Mário fez 32 jogos pelos italianos e marcou três golos, apesar de esta ter sido uma época terrível para os nerazzurri, que terminaram a Serie A na 7.ª posição e viram passar três treinadores diferentes pelo banco entre setembro e maio. A chegada de Luciano Spalletti no ano seguinte marcou o princípio do calvário recente do médio formado no Sporting, que deixou de ser opção principal, começou a passar jogos atrás de jogos sentado no banco e até falhou algumas convocatórias.

A meio da época passada, em janeiro, João Mário decidiu que estava na hora de tentar a sorte noutras paragens – pelo menos durante algum tempo. Seguiu emprestado para a Premier League para reforçar o West Ham à altura orientado por David Moyes e, ainda que nunca se tenha conseguido assumir como uma figura da equipa e que os londrinos não tenham desbloqueado a cláusula de opção de compra no final do empréstimo, foi largamente elogiado pela crítica e conseguiu regressar às boas exibições regulares, aos magistrais passes para golo e à capacidade criativa que foi tantas vezes chave durante o Campeonato da Europa de França.

A fase menos boa que se prolonga desde que deixou Alvalade acabou por afastá-lo progressivamente da Seleção Nacional, face a opções mais regulares e em evidência. Ainda assim, foi convocado para o Mundial da Rússia e ganhou mesmo o direito à titularidade no segundo e terceiro jogos da fase de grupos (Marrocos e Irão) e nos oitavos de final, com o Uruguai, depois de uma entrada com tudo no jogo de estreia com a seleção espanhola. Desde aí, não voltou a ser convocado por Fernando Santos.

João Mário regressou ao Inter Milão para a presente temporada, tem realizado boas exibições e parece estar a voltar aos níveis de qualidade que deixaram meio mundo atrás dele depois do Euro 2016. Uma semana depois de ser titular pela primeira vez esta época, foi o herói da goleada do Inter ao Génova (5-0): marcou um golo, assistiu Nainggollan e ainda esteve na origem dos lances que deram outros dois golos. A extraordinária exibição do médio português levou o jornal The Guardian a escrever um texto sobre “a reinvenção de João Mário”, recordando que durante o verão o jogador tinha até colocado a hipótese de não regressar a Itália.

Esta noite, precisamente no estádio do Inter Milão, João Mário foi chamado por Fernando Santos aos 67 minutos de jogo para render um apagado Pizzi. Voltou à seleção cinco meses depois da última internacionalização e foi o grande responsável pelo ressurgimento da Seleção Nacional na partida: quase marcou em resposta a uma boa jogada de Cancelo, trouxe dinâmica ao meio-campo e ajudou a balançar o bloco para a frente, acabando por asfixiar uma já desgastada seleção italiana. Esta noite, na noite em que Portugal se tornou a primeira seleção a garantir o apuramento para a final four da Liga das Nações, João Mário voltou – depois de nunca ter estado ausente mas de tantas vezes ter estado longe daquilo que era.

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