Um estudo da Federação Europeia dos Transportes e Ambiente defende que a venda de automóveis a diesel e gasolina deve ser banida até ao início da década de 30, para a Europa cumprir a meta de descarbonização no setor dos transportes de 2050. O estudo é citado pela associação ambientalista ZERO, que é associada desta federação, num comunicado onde apela ao Governo português que adote medidas mais ambiciosas para descarbonizar os transportes antes do horizonte temporal de 2030.

Entre as medidas sugeridas pela ZERO, com base no estudo da Federação Europeia dos Transportes e Ambiente (T&E) estão o aumento dos impostos sobre os combustíveis e das taxas rodoviárias (portagens), a redução dos limites de velocidade, a partilha de carros, uma maior passagem de passageiros para os transportes públicos. A combinação destas iniciativas, para além de baixar as emissões de CO2, permitiriam ainda reduzir o número de carros a circular e o congestionamento nos grandes polos urbanos.

No caso dos impostos dos combustíveis, a federação sublinha que este instrumento não serve apenas para cobrar mais receitas, mas também permite influenciar comportamentos e opções dos consumidores. Um aumento de impostos que faça subir o preço final dos combustíveis em 10% pode reduzir a procura entre 3% a 5%, estima o estudo. O que não é referido é a contestação que este tipo de medidas pode provocar, como está a acontecer em França, onde o anúncio de um aumento de imposto até sete cêntimos por litro (no gasóleo), precisamente em nome da meta de descarbonização, provocou uma onda de manifestações com bloqueios de estradas e episódios de violência.

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Portugal teve um aumento do imposto petrolífero comparável em dimensão em 2016, mas foi justificado com razões de natureza orçamental. Os combustíveis nacionais também pagam taxa de carbono, mas o seu peso ainda é relativamente pequeno e penaliza mais o gasóleo do que a gasolina.

O setor dos transportes contribui com cerca de 27% paras as emissões totais de CO2, gás apontado como responsável pelo efeito de estufa e o aquecimento global, com os automóveis individuais a representarem uma fatia significativa de 44%. Considerando que a União Europeia se comprometeu a ter zero emissões até 2050, a T&E sustenta que esse objetivo só será alcançado se os veículos vendidos a partir de 2030 conseguirem já não emitir CO2. No limite, o fim da venda de automóveis que usam combustíveis fósseis deve ser eliminada até 2035. E a partir de 2050, os veículos a gasolina e gasóleo a circular nas estradas terão mesmo de ser banidos.

Neste estudo é ainda afirmado que as melhorias incrementais nos motores de combustão interna não serão suficiente para obter a necessária redução de emissões, isto porque estes veículos não vão conseguir baixar as suas emissões até ao nível zero. Na mesma linha afirma-se que será “quase impossível produzir combustíveis líquidos com baixo teor de carbono em quantidade suficiente e de forma rentável” para abastecer toda a frota automóvel em circulação e os biocombustíveis deverão apenas responder por 3,5% do consumo de combustíveis rodoviários em 2030. Também o uso do gás natural nos transportes têm um potencial limitado.

A principal alternativa apontada é a mobilidade elétrica, mas também é sublinhado o potencial da célula de hidrogénio. As análises realizadas mostram que a solução ótima a partir da geração elétrica, do ponto de vista dos custos e da eficiência, para automóveis são veículos com baterias elétricas. Os consumidores já estão a responder a esta mudança de paradigma no transporte individual que muitos defendem vai acontecer mais depressa do que prevemos.

A nível europeu, e Portugal não é exceção, tem havido uma transferência da procura por novos automóveis dos modelos a diesel, cuja circulação já foi a prazo travadas por várias cidades, para carros a gasolina e híbridos que combinam eletricidade com gasolina. Apesar de ainda não terem uma grande expressão, a venda de veículos elétricos tem vindo a registar uma forte subida.

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