Vestidas com coletes refletores, mais de 280 mil pessoas mobilizaram-se esta semana para bloquear estradas em França, num protesto contra a subida do preço dos combustíveis. As manifestações, que se tornaram violentas em algumas zonas do país, já resultaram em mais de 400 feridos, incluindo 14 em estado grave, e na morte de uma das manifestantes, atropelada nos Alpes franceses.

Os protestos são dirigidos concretamente ao presidente francês, Emmanuel Macron, e às suas políticas na área da energia. A gota de água foi o anúncio recente de que o imposto sobre hidrocarbonetos irá aumentar em janeiro de 2019. Serão mais 6,5 cêntimos por litro no gasóleo e mais 2,9 cêntimos por litro na gasolina. Este ano, este imposto já tinha aumentado em 7,6 cêntimos por litro no gasóleo e em 3,6 cêntimos por litro na gasolina.

Estas medidas fazem parte de uma campanha que o presidente francês está a levar a cabo para tornar o país mais ecológico e menos dependente dos combustíveis fósseis. Aliás, no ano passado o governo francês anunciou mesmo que pretende acabar com os carros movidos a combustíveis fósseis até 2040. As medidas têm provocado uma descida acentuada da popularidade de Macron, que em outubro se situava apenas nos 21%.

Mais de 400 feridos nos protestos dos “coletes amarelos” no sábado em França

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Quanto é que os franceses pagam pelo combustível (em comparação com Portugal)?

Além da subida do imposto sobre os hidrocarbonetos, o preço dos combustíveis tem aumentado consideravelmente ao longo dos últimos anos. Nos últimos 12 meses, o preço do gasóleo, o combustível mais utilizado em França e principal motivo dos protestos, subiu em média 23%. Em outubro foi atingido o preço médio mais alto desde o início do século, de 1,51 euros por litro.

Uma consulta à página do governo francês sobre o preço dos combustíveis mostra que os preços na região da capital, Paris, rondam os 1,6 euros por litro no gasóleo e os 1,5 euros por litro na gasolina. Os preços são inferiores em cidades mais pequenas de França, o que justifica o valor médio nacional de 1,51 euros por litro no gasóleo.

Os preços do gasóleo são, nessa proporção, superiores em França aos praticados em Portugal. O preço do gasóleo este domingo em dois postos de abastecimento de Lisboa contactados pelo Observador era de 1,476 euros por litro (Galp) e de 1,489 euros por litro (BP).

Contudo, na gasolina o preço em Lisboa, este domingo, era de 1,579 euros por litro (Galp) e de 1,599 euros por litro (BP), mais elevados do que em França (cerca de 1,5 euros em Paris).

Em França, o salário mínimo bruto é de 1.480 euros mensais. Em Portugal é de 580 euros mensais.

Combustíveis. Por que razão pesam tanto os impostos nos preços?

Emmanuel Macron já veio culpar o aumento dos preços do petróleo, mas admitiu que são precisos mais impostos sobre os combustíveis para financiar os investimentos em energias renováveis. Mas os manifestantes não se conformam e acusam o presidente francês de se esquecer dos mais pobres e de governar para os ricos.

Para se perceber a dimensão do protesto, uma sondagem feita na semana passada revelou que 70% dos franceses querem uma reversão do aumento de impostos sobre os combustíveis e que mais de metade dos eleitores que votaram em Macron apoiam o movimento dos Coletes Amarelos (como ficou conhecido o protesto).

Apesar de o protesto não ter origem em partidos da oposição, é certo que estes têm tentado tirar dividendos políticos ao apoiar os manifestantes. “O governo devia deixar de ter medo dos franceses que vêm expressar a sua revolta e que o fazem de maneira pacífica”, escreveu Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, no Twitter.