A islamofobia e o ódio religioso aumentaram nos países ocidentais nos últimos dois anos, conclui a edição de 2018 do relatório Liberdade Religiosa no Mundo, realizado pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre e que é apresentado esta quinta-feira.

Segundo as conclusões apresentadas no sumário executivo do relatório, o “recrudescimento dos ataques extremistas na Europa e noutras partes do Ocidente, motivados, em parte, pelo ódio religioso”, sugere que “a ameaça do extremismo militante está a tornar-se universal, iminente e sempre presente” e pode ser “apelidada de terrorismo de proximidade”.

O relatório aponta ainda para o facto de a crise migratória em curso estar a contribuir para o aumento da islamofobia no Ocidente e revela que “a maioria dos governos ocidentais falhou em dar a assistência urgentemente necessária aos grupos religiosos minoritários, em especial às comunidades deslocadas que desejam regressar a casa”.

O documento analisa a situação da liberdade religiosa em 196 países e conclui que há 38 nações no mundo onde existem “violações significativas da liberdade religiosa”. Destes, 21 estão classificados na categoria “Perseguição” (onde as minorias religiosas são perseguidas por uma religião maioritária) e 17 na categoria “Discriminação” (onde os próprios estados discriminam as minorias religiosas).

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O mapa dos países onde existem “violações significativas” da liberdade religiosa. A vermelho, a categoria “Perseguição”; a laranja, a categoria “Discriminação” (Fonte: Fundação AIS)

Segundo o relatório agora apresentado, que se reporta ao período entre 2016 (data do último relatório) e 2018, houve um “declínio especialmente acentuado” da liberdade religiosa na China e na Índia. Já num outro conjunto de países, como Coreia do Norte, Arábia Saudita, Iémen e Eritreia, “a situação já era tão má que dificilmente poderia piorar”.

Ao mesmo tempo, dois países entraram pela primeira vez no grupo dos que têm violações significativas da liberdade religiosa: Rússia e Quirguistão.

Estas conclusões podem ser lidas à luz do fenómeno crescente do “nacionalismo agressivo, hostil às minorias religiosas”, que se agravou ao ponto de “poder ser chamado de ultra-nacionalismo”. Como se lê no documento, “a intimidação violenta e sistemática dos grupos religiosos minoritários levou a que fossem considerados como estrangeiros desleais e uma ameaça para o Estado”.

Não obstante o crescimento da islamofobia e da discriminação de muçulmanos na Europa, o relatório aponta que é nos hiper-extremistas islâmicos que está a origem de grande parte das situações de violência e intolerância religiosa no mundo e sublinha ainda que “o sucesso das campanhas militares contra o Daesh e outros hiper-extremistas escondeu a propagação de movimentos islamitas militantes em regiões de África, do Médio Oriente e da Ásia”.

Outra das conclusões mais preocupantes do relatório é a “extensão do abuso sexual de mulheres por grupos e indivíduos extremistas em África, no Médio Oriente e em partes do subcontinente indiano”, que têm aumentado.

No que toca aos casos mais graves, a Coreia do Norte é descrita como “provavelmente o pior país do mundo para a liberdade religiosa”, onde existe uma “recusa sistemática de cada preceito” dessa liberdade. “Pensa-se que 25% dos cristãos estejam em campos de detenção”, acrescenta o documento.

Outro caso grave é o das Maldivas, onde, por lei, apenas os muçulmanos podem ter cidadania do país, onde a importação de Bíblias foi proibida e onde é proibida qualquer tipo de evangelização não muçulmana. Já na Mauritânia, a renúncia ao Islão e a blasfémia são punidas com a pena de morte.

Portugal reforça liberdade religiosa

No capítulo dedicado a Portugal, o relatório destaca que não houve “casos significativos de discriminação por razões religiosas ou abusos de liberdade religiosa que possam ser imputáveis ao Estado ou a outras entidades, nem se perspetivam num horizonte temporal próximo, tensões sociais, económicas ou políticas que façam prever uma alteração desta situação”.

O relatório sublinha até que “a questão da liberdade religiosa ou da perseguição às comunidades cristãs” poderá “vir a ganhar um protagonismo assinalável”, uma vez que as instituições públicas têm dado cada vez mais atenção a esse problema — quando, por exemplo, deputados portugueses escreveram ao embaixador do Paquistão em Lisboa exigindo a libertação de Asia Bibi, a cristã condenada à morte por blasfémia naquele país.