Há cada vez menos liberdade religiosa no mundo, de acordo com o relatório que é apresentado esta quinta-feira pela Fundação AIS — Ajuda à Igreja que Sofre. O documento, que é produzido a cada dois anos pela fundação, analisa os níveis de liberdade religiosa em todo o mundo, e conclui, este ano, que “a liberdade religiosa diminuiu em onze — quase metade — dos 23 países com piores infrações”. Além disso, o relatório indica que “os atores não estatais (ou seja, organizações fundamentalistas ou militantes) são responsáveis pela perseguição religiosa em 12 dos 23 países com piores infrações”, e não os governos nacionais.

O relatório apresentado este ano analisa o período entre junho de 2014 e junho de 2016, um período que “viu surgir um novo fenómeno de violência com motivação religiosa, que pode ser descrita como hiper-extremismo islamita, um processo de radicalização intensificada, sem precedentes na sua expressão violenta”. E os números são bem demonstrativos: “Desde meados de 2014, ocorreram ataques islamitas violentos num em cada cinco países de todo o mundo, desde a Suécia à Austrália, incluindo dezassete países africanos”.

Trata-se, como se lê nas conclusões do relatório, consultadas pelo Observador, de um fenómeno novo que é marcado sobretudo por um “sistema radical de lei e governo”, pelo “tratamento cruel das vítimas”, e ainda pelo “uso das redes sociais (…) para recrutar seguidores”. Além disso, a presença de grupos infiltrados em diversos países, não só no Médio Oriente, permite que o fenómeno tenha um impacto global.

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Os países onde há violações mais significativas da liberdade religiosa, de acordo com o relatório da Fundação AIS. (Imagem: Fundação AIS)

Além do fenómeno do extremismo islâmico, que é considerado o mais grave, o relatório identifica mais casos no resto do mundo. Segundo a fundação, tem havido um aumento dos ataques anti-semitas, “nomeadamente em países da Europa”. Por outro lado, na Coreia do Norte e na Eritreia, que são os países com maiores infrações, “a contínua penalização da expressão religiosa representa a negação total dos direitos e liberdades, por exemplo através do encarceramento de longa duração sem julgamento justo, da violação e do assassínio”. Há ainda outro caso considerado grave, em países com “regimes autoritários, como a China e o Turquemenistão”, em que “os grupos religiosos que se recusam a seguir a linha do partido” dominante são perseguidos. “Mais de 2.000 igrejas viram as suas cruzes demolidas em Zheijang e nas províncias vizinhas”, exemplifica o relatório.

No relatório, são ainda analisados alguns casos concretos, como a reunião do Papa Francisco com o Grande Imã da Mesquita de Al-Azhar, no Cairo, e a declaração muçulmana para proteger as minorias religiosas, mas também exemplos de ataques e iniciativas contra a liberdade religiosa em vários países do mundo.

O relatório é apresentado esta tarde, na Sociedade Portuguesa de Geografia, em Lisboa, às 16h, pela responsável da Fundação AIS em Portugal, Catarina Martins Bettencourt.

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