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O fundamental é acreditar mas assim há cada vez menos quem acredite (a crónica do Benfica-Arouca)

Este artigo tem mais de 5 anos

Krovinovic voltou, o bom futebol nem por isso: Benfica vence Arouca (2-1) na Taça no dia em que os vencidos ficaram com as certezas e os vencedores acrescentaram dúvidas antes da "final" de Munique.

Jonas marcou pelo quarto jogo consecutivo, esteve na jogada do 2-1 e acabou o jogo em claras dificuldades físicas
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Jonas marcou pelo quarto jogo consecutivo, esteve na jogada do 2-1 e acabou o jogo em claras dificuldades físicas

AFP/Getty Images

Jonas marcou pelo quarto jogo consecutivo, esteve na jogada do 2-1 e acabou o jogo em claras dificuldades físicas

AFP/Getty Images

“O fundamental é acreditar. Quando apresentamos isto aos jogadores, há um grau de certeza muito grande, há muito tempo de trabalho. São imagens selecionadas, que já têm uma densidade do que pode acontecer muito grande. Acreditamos muito nisso. Mais do que treinar complexidade, tem que se tirar complexidade. Isto é muita vivência. Temos que selecionar muito bem o que temos de treinar. Selecionar, aplicar e corrigir são três palavras muito importantes, que guiam este processo. Há treinadores que podem corrigir bem o exercício mas que não o sabem escolher”.

https://observador.pt/2018/11/22/benfica-arouca-quarta-eliminatoria-da-taca-de-portugal-tem-pontape-de-saida-na-luz/

Beneficiando da paragem nas competições nacionais devido aos compromissos das seleções, Rui Vitória aproveitou para dar uma aula na Faculdade de Motricidade Humana, mais tarde divulgada também em várias plataformas através da transmissão de canais televisivos. Partindo da preparação para o encontro na Grécia frente ao PAOK, que viria a carimbar o apuramento do Benfica para a fase de grupos da Liga dos Campeões, o técnico encarnado explicou de forma pormenorizada a forma como foi feito o relatório do adversário, da análise coletiva aos aspetos mais individuais, e a maneira como passou depois essa informação aos seus jogadores, do plano A aos esquemas alternativos. No entanto, e como fez questão de sublinhar na citação supracitada, o futebol é tudo menos uma ciência exata. O futebol é momento. E este continua a ser um momento particular na Luz.

É um momento particular porque não há intervenção pública em que Rui Vitória não seja confrontado com a possibilidade de vir a ser substituído por Jorge Jesus, atual treinador do Al Hilal que já admitiu estar de regresso em breve a Portugal. É um momento particular porque estamos em plena fase de instrução do processo e-toupeira que tem a SAD encarnada como arguida da prática de 30 crimes, algo que o próprio técnico assumiu em conferência de imprensa que o grupo não consegue ficar a imune a tudo (mesmo destacando que os jogadores conseguem focar-se no que é importante em termos desportivos). É um momento particular porque o mercado de janeiro veio mais cedo e o Benfica ganhou um reforço: Krovinovic.

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Ficha de jogo

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Benfica-Arouca, 2-1

4.ª eliminatória da Taça de Portugal

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Hélder Malheiro (AF Lisboa)

Benfica: Svilar; Corchia, Rúben Dias, Conti, Grimaldo (João Félix, 82′); Alfa Semedo, Gabriel (Pizzi, 62′), Zivkovic, Krovinovic (Rafa, 46′); Jonas e Seferovic

Suplentes não utilizados: Bruno Varela, André Almeida, Samaris e Ferreyra

Treinador: Rui Vitória

Arouca: Rui Vieira; Thales, Massaia, Deyvison, Kiko; Soares, Didi (Bruno Alves, 70′), Ericson; Adílio Santos, Bukia e Fábio Fortes

Suplentes não utilizados: Gasparotto, João Graça, Sanchez, Bertaccini, Pedró e Arteaga

Treinador: Quim Machado

Golos: Bukia (19′), Jonas (42′) e Rafa (90+3′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Rui Vieira (40′), Alfa Semedo (50′), Gabriel (62′), Ericson (78′), Kiko (88′) e Corchia (90′); cartão vermelho direto a Soares (90+5′)

O médio croata já tinha sido chamado para os jogos contra Ajax e Tondela mas teve de esperar até esta noite, pouco mais de dez meses depois da grave lesão contraída no joelho na receção ao Desp. Chaves, para regressar aos relvados. E com um outro ponto curioso: na última temporada, o melhor momento do Benfica no Campeonato chegou com a inclusão do jogador contratado ao Rio Ave num modelo de 4x3x3 que colocou Jonas pela primeira vez sem apoio direto no ataque pelo corredor central (depois de duas épocas de Rui Vitória onde a aposta passou quase sempre pelo 4x4x2); agora, Krovinovic voltou no dia em que as águias experimentaram de novo o 4x4x2 assimétrico, com um dos falsos alas a jogar por dentro enquanto o outro abria no corredor contrário. O reflexo disso, pela falta de dinâmica, foi curto. E não foi por falta de indicações do técnico encarnado, que com apenas três minutos decorridos já falava com o croata. Salvou-se o novo “reforço”… e o resultado.

O Benfica voltou a fazer uma exibição cinzenta, com pouca dinâmica ofensiva e escassez de ideias na zona de construção. A isso juntou-se ainda uma clara falta de confiança de uma equipa que tem vindo a jogar sobre brasas e que fica mais intranquila com o passar dos minutos sem reflexo no resultado. Jonas, o suspeito do costume que está de regresso à média do costume (quarto encontro consecutivo a marcar), disfarçou algumas carências, Rafa foi o acrescento positivo de velocidade que desequilibrou de quando em vez o adversário. No final, as críticas ficaram para os vencedores e os elogios para os vencidos – o Arouca, que há pouco tempo estava no último lugar da Segunda Liga, deixou uma excelente imagem na Luz com algumas individualidades, como Bukia ou os centrais, a fazerem aquela exibição que lhes pode valer um contrato melhor no final da época.

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Benfica-Arouca em vídeo]

O encontro começou como se esperava em termos posicionais mas fora do que se pensava a nível das dinâmicas. Traduzido por miúdos, o Benfica “acampou” no meio-campo do Arouca, com Alfa Semedo e Gabriel à procura de recuperações algumas vezes quase à entrada da área adversária, mas nunca teve a velocidade de processos e movimentações para desposicionar uma equipa contrária que se mostrava confortável com a forma como os encarnados montavam o cerco à baliza de Rui Vieira. Foi por isso que, no primeiro quarto de hora, os únicos remates da formação de Rui Vitória surgiram de fora da área, de bola corrida (Corchia e Zivkovic) ou parada (Jonas). Perigo, esse, pouco ou nenhum. Ao contrário do conjunto da Segunda Liga.

O Arouca ainda não tinha chegado uma única vez com bola controlada ao último terço do Benfica mas quando lá foi isso acabou por traduzir-se em muito mais do que uma mera ameaça: aproveitando um lance com alguma confusão à mistura e mais um corte infeliz de Conti que acabou por manter a bola nos visitantes, Bukia recebeu à entrada da área descaído na esquerda e apontou um fantástico golo numa trivela que deixou Svilar pregado ao relvado apenas a controlar a bola com os olhos. Um remate à baliza, um remate enquadrado, um remate para golo. E havia surpresa na Luz contra a corrente do jogo (19′).

O Benfica reagiu quase de imediato. Seferovic, após uma combinação com Jonas à entrada da área que deixou os defesas do Arouca a protestar por um alegado domínio com o braço do suíço, atirou a rasar o poste; Jonas, de cabeça, desviou à figura de Rui Vieira; Grimaldo, de livre direto, ficou a meio entre o cruzamento e o remate e perdeu mais uma boa ocasião para levar perigo. Os encarnados tentavam ser mais incisivos na frente mas chegariam apenas ao empate já perto do intervalo e numa das raras ocasiões em que a bola saiu mais rápido do que a transição defensiva adversária, com Seferovic a assistir para Jonas na área que, após ganhar uma bola dividida, disparou colocado sem hipóteses para o guardião arouquense (42′).

No início do segundo tempo, Rui Vitória sacrificou Krovinovic não tanto pela exibição mas pela necessidade de imprimir outra velocidade na frente e lançou Rafa. Em poucos minutos, o internacional português já tinha tentado um remate de meia distância, já tinha estado num lance que permitiu a Jonas rematar à figura de Rui Vieira e já tinha feito uma fantástica combinação com o brasileiro num espaço curtíssimo de terreno que só não acabou em golo porque Deyvison tirou em cima da linha de baliza. As dinâmicas coletivas continuavam muito aquém do esperado mas a inspiração individual ia chegando para criar oportunidades não concretizadas entre os raríssimos espaços que a bem organizada defesa do Arouca concedia. No lado contrário, houve apenas um lance que podia trazer perigo por Kiko e pouco mais (70′).

Pizzi substituiu Gabriel no meio-campo à procura de outro critério na organização ofensiva, João Félix entrou para o lugar de Grimaldo na tentativa de colocar mais unidades na frente mas, perante um jogo com tendência a partir perante o desgaste físico acumulado que se começava a sentir em muitos jogadores, até pertenceu ao Arouca a melhor oportunidade da segunda parte, quando Svilar travou o cabeceamento de Adílio (82′) e, no lance seguinte, Fábio Fortes falhou por pouco um calcanhar sozinho na pequena área (83′). Jonas era o único que ainda tentava fugir ao prolongamento e, de forma indireta, acabou por contribuir para o 2-1 no terceiro minuto de descontos: cruzamento de Seferovic da esquerda, desvio do brasileiro a tirar a hipótese a João Félix que estava em melhor posição e golo de Rafa ao segundo poste, aproveitando uma saída infeliz de Rui Vieira que acabou por não conseguir desfazer o lance e viu o internacional fazer o chapéu que sentenciou o jogo.

Naquela palestra na Faculdade de Motricidade Humana, Rui Vitória colocou o enfoque na importância do acreditar. Acreditar naquilo que se faz nos treinos, acreditar naquilo que depois se quer passar para os jogos. E essa ideia do “acreditar” poderia ser aplicável a uma equipa que consegue resolver o jogo nos descontos. No entanto, esta foi mais uma exibição falhada do Benfica, que iniciou esta noite um ciclo que será determinante em termos de futuro na Liga dos Campeões (o próximo jogo é em Munique frente ao Bayern e o Benfica não tem margem de erro depois do duplo confronto com o Ajax) e no Campeonato. No final, ouviram-se aplausos pela última imagem e assobios pela fotografia geral. Assim, há cada vez menos quem acredite.

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