Aprovar a proposta de acordo para o Brexit que está em cima da mesa “seria pior” para o Reino Unido do que ficar dentro da União Europeia (UE). A avaliação foi feita por Dominic Raab, ex-ministro para o Brexit de Theresa May, que se demitiu na passada quinta-feira em protesto contra a proposta apresentada pela primeira-ministra britânica.

Em entrevista à BBC esta sexta-feira, o antigo ministro começou por não se querer pronunciar sobre “cenários hipotéticos” quando confrontado com a pergunta sobre se preferia aprovar este acordo ou que o Reino Unido saísse da UE sem qualquer entendimento assinado. “Eu não tenho de fazer escolha. Lamento, mas não vou dar espaço a cenários hipotéticos. Vou continuar a lutar pelo melhor e mais bem sucedido Brexit”, declarou.

Já quando questionado sobre se o pior cenário seria a aprovação deste acordo ou a manutenção do país na UE, Raab foi claro: “Não vou defender a manutenção na UE, mas se me colocassem a questão nos termos de ‘este acordo ou pertença à UE’ — tendo em conta que [com o acordo] continuamos a estar sujeitos às mesmas regras, mas não temos controlo sobre elas ou voz ativa —, considero que esta opção seria ainda pior do que [ficar na União].”

Para Raab (e para vários outros conservadores que se opõem à proposta) está em causa a aplicação do chamado backstop. O instrumento funcionaria como uma espécie de “apólice de seguro” ou “rede de segurança” que só entrará em vigor se Reino Unido e a UE não chegarem a acordo sobre a fronteira na Irlanda até ao final do período de transição (2021). Contudo, se tal acontecer, todo o Reino Unido ficará incluído numa união aduaneira com a UE, que permitirá a circulação de bens sujeitos às regras definidas pelos europeus — sem prazo para terminar e cujo fim está sujeito a um acordo entre as duas partes.

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Não posso apoiar um acordo para um backstop sem prazo definido onde a UE tem poder de veto sobre a nossa saída”, declara Raab, que classifica esta opção como um acordo “híbrido” entre “uma união aduaneira com a UE e as obrigações do mercado comum”.

Por esta razão, Raab considera que esta é uma proposta inaceitável e prevê que a maioria dos deputados da Câmara dos Comuns acharão o mesmo quando forem chamados a votá-lo: “A realidade é que é inevitável que vejamos este Parlamento a chumbar este acordo.”

Dominic Raab demitiu-se na passada quinta-feira, um dia depois depois de May ter apresentado a proposta de acordo em Conselho de Ministros. Em causa, explicou à altura, estava a sua oposição ao acordo. Raab, contudo, deixou claro à altura que apesar de se opor à política que estava a ser defendida, defendia a manutenção de Theresa May no cargo como primeira-ministra. “Penso que ela deve continuar, mas acho mesmo que temos de mudar de rumo em termos de políticas”, disse à altura.