Vamos a factos. A GM foi incapaz de evitar os prejuízos da Opel durante 15 anos consecutivos, mas bastou apenas um ano para que, depois de a vender à PSA – também ela a evitar a falência devido à injecção de capital pelos chineses da Dongfeng, do Estado francês e à gestão do português Carlos Tavares –, a marca alemã regressasse aos lucros. É certo que poderá haver aqui alguma engenharia financeira, mas nada que evite que se ponha em causa a aptidão do maior fabricante americano de automóveis para realizar a sua função.

Mary Barra, a CEO do gigantesco grupo americano que andou a prometer a Donald Trump que iria trazer de volta aos EUA fábricas e postos de trabalho, espantou agora o mercado ao anunciar que, afinal e contra o que tudo faria prever, vai despedir mais 14.000 funcionários e encerrar até cinco fábricas. Isto após os enormes cortes que já tinha anunciado. A única notícia positiva que saiu da boca de Barra teve a ver com a promessa de “duplicar o investimento em veículos eléctricos e carros autónomos”, o que não só não é muito, como é ainda uma magra consolação para quem já foi o maior fabricante do mundo.

Para já, as reduções anunciadas incluem 8.100 funcionários em cargos de gestão ou direcção, a que se têm de somar mais 6.300 empregados das linhas de produção, incluindo 3.000 no Canadá e o restante nos EUA. O objectivo é poupar cerca de 6 mil milhões de dólares, o que passa pela descontinuação da fabricação de uma série de modelos, do Chevrolet Impala ao Buick LaCrosse, passando pelo Cadillac CT6 e pelo Chevrolet Volt, o eléctrico do grupo com extensor de autonomia, que foi vendido na Europa como Opel Ampera.

Essencialmente, a GM descobriu, só agora, que os clientes estavam a virar as costas aos automóveis convencionais e aderir cada vez mais aos SUV – realidade com que todos os construtores lidam há anos – e daí que os modelos cuja produção vai terminar em breve integrem o primeiro grupo. É claro que com menos empregados e menos modelos para produzir, há fábricas que deixam de fazer sentido, condenadas pois ao encerramento. Na lista das “condenadas à morte” estão as instalações de Hamtramck, em Detroit (que monta o LaCrosse, o Impala, o Volt e o CT6), as de Lordstown, no Ohio (produz o Chevrolet Cruze) e as de Oshawa, no Ontário, no Canadá. No rol das instalações a fechar estão ainda as fábricas de caixas de velocidades em Warren, no Michigan, e a de Baltimore, o que não surge como uma surpresa uma vez que os veículos eléctricos não necessitam de caixas de velocidade, mas apenas um redutor, ou seja, uma engrenagem simples.

Este anúncio de Mary Barra foi recebido como um choque, tanto mais que a GM já tinha feito saber anteriormente que iria cortar até final de 2018 mais de 6,5 mil milhões de dólares, o que será conseguido com o encerramento da fábrica de Gunsan, na Coreia do Sul, entre outras, a somar a uma redução salarial de 15% nos operários de linha e de 25% nos executivos do grupo. O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, já fez saber o seu desagrado, pelo encerramento da fábrica canadiana e os consequentes despedimentos, aguardando-se a resposta de Trump, que prometeu empregos aos seus eleitores, o que agora, obviamente, não vai acontecer.

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