À primeira vista pode parecer estranho dizer que o derradeiro party game da Nintendo é Super Smash Bros., o jogo de luta que tem saído em todas as gerações de consolas desde que o primeiro título foi lançado em 1999, na Nintendo 64. Será ainda mais estranho dizer que um dos jogos da Switch mais divertidos para toda a família é precisamente um jogo de luta. Mas não um jogo de luta como os outros.

Se Street Fighter é, como o título indica, uma representação de escaramuça violenta de rua na qual vale tudo (até golpes de magia), Super Smash Bros. está para os fighting games como uma luta de almofadas está para as restantes artes marciais. Mas Super Smash é uma luta de almofadas caótica, que está a ter presença numa festa de pijama, na qual a Nintendo conta com mais de 70 convidados, vindos dos seus jogos e de jogos de outras empresas.

Super Smash Bros. Ultimate (SSBU), a quinta iteração da série, chega à Switch apenas quatro anos depois do seu antecessor, lançado para 3DS e Wii U. Para alguns, a diferença entre ambos pode ser pouco mais do que superficial e, em muitos aspetos, têm razão nessa observação. A semelhança é válida, já que este jogo conta com uma fórmula fixa ao longo de todos os títulos. Um crossover de dezenas de personagens a combaterem pelo ecrã, na expectativa de verem os adversários a caírem das plataformas ou a serem projetados para fora da área de jogo, numa ação frenética e incessante.

Como os jogos anteriores, Super Smash Bros. Ultimate é extremamente fácil de “entrar” para qualquer novo jogador, seja ele uma criança ou um adulto. Ao contrário de outros jogos de luta, aqui os personagens controlam-se todos da mesma forma, diferindo apenas nas habilidades que fazem com cada comando e o peso e agilidade diferentes entre si. O caos em que cada partida de Super Smash se torna, especialmente se estiverem a jogar no máximo oito jogadores, é uma das suas maiores delícias. Ver personagens tão conhecidos de todos como Mario ou o seu “rival” Sonic a saltarem e a atacarem-se, a desviarem-se no momento certo ou a apanharem itens do chão em sua vantagem é sinónimo do espírito festivo da própria série. Há muito mais de jogo de festa do que de luta em qualquer dos modos em que jogamos este exclusivo da Switch: o combate, em si, amigável.

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Há quatro anos, tivemos um primeiro vislumbre de como é jogar esta série em modo portátil, mas a diferença técnica entre a 3DS e a Wii U levaram-nos a sentir a versão da primeira como um exemplo simplista da segunda. Com as características híbridas da Switch tudo isso mudou e a experiência de jogar Super Smash Bros. em todo o seu caos e glória na televisão é finalmente equiparado ao gozo de jogá-lo no pequeno ecrã da consola.

O salto tecnológico entre a Wii U e a Nintendo Switch permitem à direção artística deste SSBU e a atenção ao detalhe a serem perfeitamente exímios. As diferentes texturas dos personagens, a alta definição dos seus ambientes e modelos 3D, aliados à extrema fluidez de movimentos, fazem deste SSBU uma maravilha técnica e visual no catálogo da Switch.

Os modos de jogo a solo estão de regresso com muitos itens colecionáveis a aumentarem não só o desafio do próprio jogo, mas também a sua longevidade. Masahiro Sakurai, o seu autor, já tinha anunciado a introdução de dezenas de Spirits, pequenas “cartas” de personagens não jogáveis que têm de ser desbloqueadas e que trazem habilidades passivas aos nossos lutadores.

Ainda que os modos multi-jogador online aproveitem o serviço pago da Nintendo Switch, é na jogabilidade local que Super Smash Bros. Ultimate nos lembra o porquê de a série ser a rainha dos jogos de sofá jogados em grupo. É impossível não gargalhar com a salutar competitividade nos combates de Super Smash, com grupos de até oito jogadores a mergulharem no frenesim de movimento que este título traz, com resultados muitas vezes surpreendentes.

A magia da série reside nisto mesmo: no equilíbrio tremendo que Sakurai e a sua equipa imprimiram aos atualmente 75 personagens jogáveis disponíveis à data do lançamento. Um elenco vasto que é um quase record total de qualquer jogo do género. Um equilíbrio que permite uma justiça mecânica entre todo o elenco e que deposita, nos ombros da destreza de cada jogador, a habilidade (e muitas vezes a sorte) de conseguir derrotar os seus oponentes. Sejam jogadores casuais, como os torneios entre família que fizemos aqui em casa por entre muitos risos, ou os jogadores mais aguerridos cuja mestria de controlo do jogo elevam-no a um interessante, ainda que modesto eSport, Super Smash Bros. relembra-nos mais uma vez o porquê de ser uma das séries mais aclamadas de sempre. E este Super Smash Bros. Ultimate acaba por funcionar como corolário de evolução de uma série que pouco muda mas muito afina de iteração em iteração, tornando-se no título obrigatório e definitivo para todos os fãs da série.

Com personagens vindos das séries mais conhecidas de videojogos da Nintendo e não só, a sua grande componente de festa e de diversão com família e amigos fazem dele não só um jogo obrigatório para os possuidores da Switch, como uma excelente prenda para este Natal, agindo como um best of da série e da mestria criativa da Nintendo. Quase vinte anos depois da sua criação, este último Super Smash Bros. é também um ritual de passagem entre pais que o jogam desde sempre a esta série e os seus filhos que dão agora os primeiros murros e pontapés, virtuais, é claro. E é o título perfeito para ser a ponte entre gerações, já que concentra em si o melhor que a série foi evoluindo ao longo de quase vinte anos.

Super SmashBros. Ultimate é um exclusivo da NintendoSwitch, e está à venda por um preço aproximado de 59,99€. Análise feita com uma cópia digital enviada pela Nintendo.

Ricardo Correia, Rubber Chicken