A CP (Comboios de Portugal) despediu no início deste mês um diretor que se tinha oposto a uma medida da empresa que considerava colocar em causa a segurança dos passageiros, noticia o jornal Público na edição desta segunda-feira.

De acordo com o jornal, José Pontes Correia, ex-diretor de material circulante da CP, não concordou com a decisão da empresa de prolongar o ciclo de manutenção dos rodados das Unidades Triplas Elétricas em mais 300 mil quilómetros.

Estas automotoras são utilizadas para executar as ligações entre Lisboa e Tomar, os serviços regionais em vários pontos do país, a ligação entre a Figueira da Foz e Coimbra e ainda para substituir alguns Intercidades com destino a Évora, pelo que constituem um núcleo importante da frota da CP.

Segundo o Público, estas composições devem ser objeto de trabalhos de manutenção depois de percorrerem 1,7 milhões de quilómetros. Após percorrida essa distância, os rodados das automotoras têm de ser avaliados e eventualmente substituídos para que a composição possa regressar ao serviço.

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Porém, a CP preferiu aumentar o prazo de circulação das automotoras para evitar a paragem da frota durante alguns meses. A recolha destas composições às oficinas iria provocar várias supressões de comboios durante o inverno.

A notícia surge numa altura de elevada contestação face ao funcionamento da ferrovia em Portugal e na origem da decisão da CP, segundo sugere o Público, poderá ter estado também o facto de 2019 ser ano de eleições e a paragem destas automotoras ir certamente motivar mais notícias sobre os problemas da circulação ferroviária no país.

O então diretor de material circulante da CP, José Pontes Correia, opôs-se à decisão e criticou os critérios pouco exigentes da inspeção dos rodados das composições. No início de dezembro, foi exonerado.

Ao Público, a CP garantiu que a alteração ao ciclo de manutenção daquelas unidades foi feita após um estudo prévio e que foram cumpridos os requisitos de segurança, assegurando também que “esta alteração não coloca em causa a segurança da operação ou dos passageiros”.

Sobre a exoneração de José Pontes Correia, a empresa preferiu não comentar, sublinhando apenas que a sua política de recursos humanos passa “pelo ajustamento sistemático e contínuo dos perfis dos seus colaboradores às exigências e níveis de responsabilidade das diversas áreas da empresa”.

CP diz que diretor não tinha “condições objetivas para o exercício da função”

Já depois da publicação da notícia do Público, a CP divulgou um comunicado de imprensa no qual afirma que “as operações de manutenção e reparação do material circulante da CP obedecem a pareceres técnicos e decisões que, em contacto permanente com os fabricantes, asseguram os padrões de segurança ferroviária”.

“Em concreto, no que concerne ao ciclo de manutenção das unidades UTE 2240, os pareceres técnicos da Direção de Material Circulante da CP e da EMEF foram naturalmente concordantes e suportaram a decisão do Conselho de Administração da CP, tendo concluído que esta alteração não coloca em causa a segurança da operação ou dos passageiros”, explica a empresa.

“Importa salientar que a exoneração do diretor de material circulante da CP não tem qualquer ligação com tal decisão, mas, tão somente, com a não verificação de condições objetivas para o exercício da função”, termina o comunicado.

Notícia atualizada às 11h23 com a reação da CP em comunicado