O deputado Nuno Sá disse à direção da bancada parlamentar do PS que esteve presente na reunião plenária no dia 12 de junho de 2017 e que “desenvolveu já as diligências, junto dos serviços da Assembleia da República, para o completo esclarecimento da situação referida“, explica uma nota do grupo parlamentar. O deputado admite, no entanto, renunciar ao mandato caso se comprove que não estava presente em plenário. Horas antes da nota de imprensa do grupo parlamentar, o deputado disse ao Observador que já sabia o minuto em que foi feito o registo (15h22) e que — como na emissão da AR TV a câmara está focada na deputada Mariana Mortágua nesse minuto — não há forma de comprovar em imagens se estava ou não em plenário.
Deputado do PS com presença-fantasma no Parlamento em dia passado em Famalicão
Nuno Sá, como noticiou o Observador, estava ao final da manhã do dia 12 de junho em visita à fábrica Caixiave (em Ribeirão, Famalicão) e à noite continuava no concelho de Famalicão, onde assistiu às marchas Antoninas. Contactado pelo Observador — em três conversas telefónicas (no sábado, no domingo e uma já esta segunda-feira) — o deputado nunca explicou que tinha feito uma visita-relâmpago a Lisboa (alegou, simplesmente, que não se lembrava) e não quis sequer dar a garantia de que nunca tinha partilhado a password. Depois da saída da notícia deu essa garantia à direção parlamentar.
Na própria nota, o Grupo Parlamentar não considera o assunto encerrado, apenas informa que o deputado garantiu que “renunciaria ao seu mandato caso se comprovasse a irregularidade que lhe é apontada, mesmo que, como agora reitera, nunca tenha solicitado a qualquer pessoa para proceder a qualquer registo indevido da sua presença em reunião plenária.”
Foi na terceira conversa com o Observador — já esta segunda-feira e após o artigo ser publicado — que o deputado revelou que o registo tinha sido feito às 15h22 no Parlamento. A linha de argumentação do deputado foi: não se lembra do que aconteceu nesse dia, mas como a imagem também não prova que não está lá naquele minuto, ninguém pode provar que estava ausente. O deputado contou, aliás, a mesma versão à Antena 1, apenas com o acréscimo de que não partilhou a password com ninguém. Como o Observador noticiou, nas várias imagens da sessão plenária ao longo da tarde — em que as bancadas são focadas várias vezes — o deputado não aparece em qualquer frame.
A hora do registo também não ajuda à versão do deputado, de que estava em Lisboa àquela hora. O registo foi feito às 15h22 e, perto do meio-dia, o deputado ainda estava a meio da visita à Caixiave, em Ribeirão (Famalicão) a 360 quilómetros e a mais de três horas e meia de distância de Lisboa.
Ao longo de todas as conversas, o deputado não se disponibilizou para mostrar qualquer prova de que tenha vindo a Lisboa nesse dia, alegando simplesmente: “Não me lembro”. Recusou-se ainda a dar a garantia que nunca deu a password a ninguém. A postura de Nuno Sá contrasta com a de vários deputados que — perante situações duvidosas ou denúncias similares — se disponibilizaram a demonstrar (com bilhetes de avião, recibos de portagem ou outros elementos) que tinham efetivamente ido a Lisboa.