O encerramento do Europa, do Tokyo e do Jamaica é dado como certo há pelo menos três anos, mas não se sabia até agora qual o novo sítio que iriam ocupar. Há poucos dias, a Câmara de Lisboa reuniu-se com os proprietários daqueles bares do Cais do Sodré e acertou pormenores. O encontro decorreu precisamente no espaço que lhes está destinado: armazéns do Cais do Gás, junto ao porto fluvial e mesmo ao lado de outras duas casas noturnas: a discoteca africana B.Leza e o bar do músico Manuel João Vieira, Titanic Sur Mer. É aí, a 10 minutos a pé do sítio atual, que uma nova vida se antecipa em 2019 para três dos mais antigos e conhecidos espaços noturnos da capital.
A Câmara é proprietária dos armazéns do Cais do Gás, apesar de a zona pertencer à Administração do Porto de Lisboa, e comprometeu-se por escrito, há vários meses, a arrendá-los ao Europa, ao Tokyo e ao Jamaica, disse esta semana ao Observador o empresário Fernando Pereira, responsável pela Tokyo e pelo Jamaica, juntamente com a sócia Ana Cabral. A expectativa agora é a de que o arrendamento se concretize nos próximos meses, depois de serem transferidas para a zona de Belém algumas associações que hoje utilizam aqueles armazéns.
Num armazém maior ficarão alojados o Tokyo e o Europa (este gerido pelo empresário Pedro Vieira), enquanto um pavilhão mais pequeno irá albergar o Jamaica. A divisão parece coincidir com o ambiente que cada casa tem atualmente: música ao vivo e eletrónica no Tokyo e no Europa, para um público maioritariamente adolescente, e clássicos da música no Jamaica, para um público acima dos 35 anos.
A recente reunião de trabalho no Cais do Gás foi coordenada pelo gabinete de Duarte Cordeiro, vereador da Economia e Inovação, e serviu para que os diversos serviços camarários se coordenem com vista à instalação definitiva dos bares. “Da reunião saíram instruções para os serviços camarários acelerarem o processo”, disse Fernando Pereira. “Acreditamos que a mudança será em 2019, está tudo pendurado por pormenores”, sublinhou.
“Já temos projeto e já fizemos consultas a empresas de construção para adaptarmos os armazéns aos bares”, adiantou Fernando Pereira. “Precisamos de um contrato definitivo de arrendamento por parte da Câmara e do licenciamento das obras. Temos a garantia de que após a conclusão das obras no Cais do Gás temos duas semanas para sair do prédio no Cais do Sodré.” Até lá, os bares continuam de portas abertas.
A Assembleia Municipal recomendou em 2016 à Câmara que empenhasse “todos os esforços” para que estabelecimentos comerciais históricos, como é o caso daqueles três bares, fossem “protegidos da especulação imobiliária”, assim se salvaguardando a “identidade histórico-cultural” do Cais do Sodré. A Junta de Freguesia da Misericórdia, liderada pela socialista Carla Madeira, tem feito saber que desejaria manter na zona o comércio diurno e noturno que “desenvolva atividade responsável, dentro de portas e com insonorização, como é o caso destes três bares”, por entender que assim previne ruído e desordem nas ruas.
O Observador contactou sem êxito o gabinete de Duarte Cordeiro. Fonte da Câmara explicou ao Observador que o executivo tem estado ativamente empenhado numa solução para o futuro do Europa, do Tokyo e do Jamaica porque pretende reorganizar a noite lisboeta e levar à transferência de bares e discotecas para junto do rio, o mais longe possível de habitação e hotéis. No Cais do Gás projeta-se assim um “cluster” de diversão noturna que relembra o objetivo das Docas na década de 1990.
Surgidos há quase 50 anos, os bares ocupam hoje um prédio na Rua Nova do Carvalho, conhecida como Rua Cor de Rosa desde há menos de uma década, devido à cor que passou a dominar o pavimento. Tem seis andares e terá sido construído em 1947. Há quem atribua a fachada do edifício a Cassiano Branco (1897-1970), mas o único registo confirmado dá conta do envolvimento do arquiteto no desenho do bar Europa no início dos anos 50.
Devoluto há décadas, o imóvel acabou por abater no último andar em 2011 e o receio de uma derrocada total levou ao encerramento dos bares por vários meses, para obras de pormenor, a cargo de um fundo municipal de reabilitação urbana. Em maio do ano passado, foi vendido pelas dezenas de proprietários das frações a uma empresa que, alegadamente, pretende transformá-lo em hotel. É essa a informação na posse dos donos dos bares. A Junta de Freguesia da Misericórdia não tem conhecimento desse projeto e a Câmara não adiantou pormenores. Não foi possível apurar de que empresa se trata. Ao contrário do noticiado há alguns meses, não será a distribuidora farmacêutica Farmaka, a mesma que abriu o Hotel do Corpo Santo em 2017. Contactados pelo Observador, a gerente da Farmaka, Sofia Manji, e o diretor do Hotel do Corpo Santo, Pinto, disseram não ter qualquer ligação ao edifício da Rua Nova do Carvalho.