Tulip Siddiq decidiu adiar o nascimento do filho por dois dias para poder participar na votação do acordo do Brexit, esta terça-feira. A deputada do Partido Trabalhista, que votou contra o plano apresentado por Theresa May, chegou ao Parlamento britânico numa cadeira de rodas, empurrada pelo marido, Chris. Ao editor de política da Sky News, Faisal Islam, Siddiq admitiu que tenciona voltar na quarta-feira, caso a moção de censura ao governo de Theresa May venha mesmo a acontecer.

Siddid, que já tem uma filha de dois anos, teve uma primeira gravidez difícil e os médicos aconselharam-na a fazer uma cesariana na neste segundo parto. O nascimento do filho foi marcado para 4 de fevereiro, mas complicações de saúde (a deputada desenvolveu diabetes gestacional) levaram os médicos do Royal Free Hospital de Hampstead a aconselhá-la a ter o bebé mais cedo, esta terça ou na quarta-feira. Para que pudesse votar, a deputada de 36 anos pediu que a cesariana fosse adiada para quinta, o que acabou por acontecer depois de ter sido confirmado que tudo estava bem com a criança.

“Se o meu filho entrar no mundo um dia depois do que os médicos aconselharam, mas num mundo com uma hipótese de uma relação mais forte entre o Reino Unido e a Europa, então vale a pena lutar”, disse Tulip Siddiq em entrevista ao Evening Star.

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No Twitter, horas antes da votação Siddiq agradeceu as mensagens de apoio e explicou que a decisão de adiar o nascimento do filho não foi tomada de ânimo leve. “Deixem-me esclarecer, não acredito no sistema de ‘pairing’ — em julho, o governo roubou o voto de uma nova mãe”, afirmou a deputada, referindo-se ao caso de Brandon Lewis, no verão passado.

Geralmente, é dada às deputadas com uma gravidez muito avançada, que foram recentemente mães ou aos membros do parlemento que estão doentes a possibilidade de fazerem par (“pairing”) com um deputado do partido da oposição que também não pode votar. É uma maneira de garantir que os resultados das votações não são afetados. Contudo, em julho do ano passado, Brandon Lewis do Partido Conservador quebrou um acordo de “pairing” com Jo Swinson dos Democratas Liberais. Lewis pediu desculpa pelo incidente e disse que o seu voto foi um acidente.

Desde então, Tulip Siddiq defende que o sistema não funciona. “Se o sistema de ‘pairing’ não é honrado, não há nada que eu possa fazer, e vai ser uma votação muito renhida”, afirmou ao Evening Star. “Esta é a maior votação da minha vida.”

Adiamento de cesariana é “lamentável”, dizem deputados

A situação levou a que vários deputados britânicos mostrassem o seu desagrado. Na segunda-feira, a trabalhista Hariet Harman defendeu que Siddiq não devia ter de escolher entre deslocar-se até ao parlamento britânico numa cadeira de rodas e perder o seu direito a votar. John Bercow, porta-voz do Câmara dos Comuns, considerou a situação como “lamentável” e voltou a descrevê-la da mesma forma esta terça-feira durante a votação. Philippa Whitford, do partido nacional escocês, disse que o caso é “chocante”, citou o The Guardian.