Em “temas de telecomunicações, media e tecnologia, Portugal tem sempre um pequeno atraso”, afirma Sérgio do Monte Lee, responsável nacional do setor na consultora Deloitte. Contudo, o estudo da empresa merece atenção no país, afirma o consultor. Porquê? São 105 páginas que resumem quais as áreas e pontos mais importantes para a indústria tecnológica em 2019 que, mesmo com atrasos, impactam Portugal. Do 5G a computadores quânticos, fomos perceber melhor estas previsões. Há uma grande preocupação: os cuidados com cibersegurança vão ter de aumentar.

Este estudo é um estudo global. Não é nem nunca foi feito para só Portugal. Nestes temas de telecomunicações, media e tecnologia, o delay [atraso] que tem em Portugal relativamente a outros países, mas não é assim tão grande”, justifica Sérgio do Monte Lee, sobre o impacto das tendências para a tecnologia e telecomunicações a nível mundial.

Mas que tendências são estas? O 5G vai arrancar;  a Inteligência Artificial vai chegar a todos (e todas “as empresas”); as colunas inteligentes estão em crescimento e são acessíveis; a televisão desportiva vai ter cada vez mais receitas de apostas; ver desportos eletrónicos é o próximo nível de entretenimento desportivo; a ‘antiga rádio’ continua a crescer e mantém-se “resiliente“; há um novo crescimento na impressão 3D; “são os chineses que vão dar os componentes para isto tudo”; e os computadores quânticos estão a aí, mas não devem substituir nada.

Os temas olham todos para o futuro, mas falam de tendências que já estão a ter bastante impacto na economia global. Em conversa com o Observador, Sérgio do Monte Lee explica que, até ao final de 2019, “vão ser vendidos um milhão de dispositivos vendidos com 5G”. Esta tecnologia, que permite ligações à Internet mais rápidas e fiáveis, “mais cedo ou mais tarde” chega a Portugal. Podemos estar atrás de países como a Espanha, mas a Alemanha ainda não tratou também de todos os procedimentos necessários para a concessão deste novo espectro de rede.

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O 5G pode ser o futuro que está a chegar, mas até ser implementado a nível mundial como atualmente está o 4G, pode demorar mais de 5 anos. Para já, apenas 25 operadoras ( nenhuma é portuguesa) vão disponibilizar acesso a esta infraestrutura de rede.

O mesmo estudo refere-se também às colunas inteligentes, uma tecnologia que tem tido rápido crescimento e está cada vez mais acessível. Estes dispositivos estão a criar uma nova forma de rádio e de ouvir conteúdos áudio, por, facilmente, permitirem aos utilizadores perguntarem a assistentes digitais como a Alexa, da Amazon, ou à Google Assistant, informações como o tempo ou quais as principais notícias.

Testámos a Alexa e a Ok Google. Não nos apaixonámos, mas estivemos perto

Contudo, apesar de o mercado de dispositivos estar a aumentar, os usos ainda são os mesmos: “Esta tecnologia é utilizada de forma incipiente. É para ouvir música, consultar a meteorologia e programar alarmes”. A pouco complexa utilização destes dispositivos, que desde 2017 têm conseguido cada vez mais espaço no mercado, deve-se ao “nível de sofisticação” destas colunas ainda “precisar de ser apurado”.

Há outro problema para o crescimento dos “smartspeakers” (com se diz genericamente e em inglês) e países como Portugal são exemplo disso: “O inglês como língua nativa influencia as colunas inteligentes”. Apesar de equipamentos como os Echo, da Amazon, recentemente ficarem disponíveis noutras línguas como Francês, Alemão e Espanhol, não há tanto investimento como em inglês. Quanto a Portugal, não somos um mercado apelativo: “[as empresas] vão para os mercados onde vale o investimento]”.

A rádio a crescer e a democratização do acesso a tecnologias de I.A.

O consumo tradicional de rádio caiu muito menos do que a televisão. O podcast influencia muito”, conta Sérgio do Monte Lee.

A rádio, apesar de não ter crescido, continua “resiliente para 99 anos” (faz este ano), diz o estudo. Os resultados, são transponíveis para o mercado português, explica o responsável da Deloitte. “É a [plataforma] menos impactada com a chegada do digital”, como diz Sérgio do monte Lee. Uma das principais previsões é que, a nível mundial, 3 mil milhões de pessoas vão ouvir rádio. “Os adultos vão ouvir cerca de 90 minutos por dia”, afirma a Deloitte.

Quanto às afirmações de que este ano é o da inteligência artificial para todos “tem a ver com, em 2019, o tema ser [também] a cloud“. “Portugal não é diferente dos outros mercados” e “projetos de aplicação da inteligência artificial, mas em conceito de testes”. Contudo, enquanto, no passado, eram as grandes empresas que tinham acesso a esta tecnologia, agora com a possibilidade de contratar serviços remotos que disponibilizam estes algoritmos, há uma democratização do acesso à tecnologia, explica a consultora.

Há várias possibilidades e “algumas empresas, ao comprar software, já estão a conseguir aceder a estes programas [de inteligência artificial] ao comprarem serviços na cloud”, explica o consultor. Lá fora, este mercado tem tido muito investimento e há técnico de dados informáticos que constroem os algoritmos de I.A., “que ganham tanto como jogadores de futebol”.

As apostas digitais, impressão 3D e computadores quânticos

Ainda neste estudo, refere-se a importância das apostas digitais no desporto, que tornam muito mais apelativo aos “espetadores apostadores” seguirem em direto os resultados de vários jogos. Há tendência para a televisão desportiva continuar a juntar grandes audiências por este motivo, até porque “a tendência de apostas online é generalizada a nível global e vale muito mais do que os patrocínios”. Também do lado digital do desportos, os utilizadores estão a procurar novos tipo de entretenimento, como o eSports, salienta a Deloitte.

Quanto à impressão 3D, que “está a crescer de forma continuada”, o que a consultora afirma é que “é que é uma tecnologia que já chegou”. Com o plástico a deixar de ser o único material disponível para impressões e a Lei de Bezos — sim, do Jeff Bezos da Amazon — a dizer que “a cada três anos a tecnologia fica 50% mais barata”, o que a tecnologia vai permitir é “descentralizar a produção em 3D”. Contudo, a produção tradicional, como produzir parafusos em série e não produtos personalizados, vai continuar a ser como tem sido até agora.

Os computadores quânticos — teoricamente conseguem resolver operações de forma muito mais rápida e eficiente que computadores tradicionais — são também abordados. Podemos olhar para esta tecnologia. Contudo, para já, é incerto “se sequer vão substituir os computadores tradicionais”. É a partir da década de 2020 que este mercado vai começar a crescer exponencialmente. Há já vantagens a surgir, refere o estudo: “as inovações que a computação quântica promete tem desafiado a inovação da computação tradicional a evoluir”.

A tecnologia em 2019, com a China a abrir caminho

A China tem um conjunto de fatores que permitem estar a ganhar base [tecnológica]. Tem um mercado gigante. Tem programas do governo que proporcionam este tipo de investimento”, conta a Deloitte.

Com países como Portugal a ter cada vez mais proximidade com empresas chinesas e com o governo chinês, como demonstrou a recente visita de estado do presidente Xi Jiping, o estudo foca-se também na influência que este mercado vai ter na indústria tecnológica e de telecomunicações.

O consultor, com base nas previsões da consultora, afirma que “a China terá as maiores redes de telecomunicações do mundo porque há apoio governamental neste sentido”. “A grande inovação a nível tecnológico virá da China, estar próximo tem bastante interesse”, continua. Contudo, as afirmações são do ponto de vista económico e não político.

No fim, todos estes temas mostram como a tecnologia nos media e telecomunicações estão a “assumir uma importância muito superior”. No fim, a palavra a reter é também “cibersegurança“. Com infraestruturas de redes a mudar e novos hábitos digitais, é cada vez mais importante ter em atenção que vulnerabilidades digitais podem ser muito arriscadas.

Pode ler aqui, em inglês, o estudo completo.