Marisa Matias, cabeça de lista bloquista às eleições europeias, rejeita que o BE seja um partido populista e acredita que a recomposição do Parlamento Europeu vai passar pelo crescimento das “forças progressistas” e “a implosão do bloco central”. “Eu compreendo que, quando o debate eleitoral aquece, se entra em facilitismos dessa natureza e se chama populismo ao que não é. O Bloco não é um partido populista”, assegura Marisa Matias em entrevista à agência Lusa.
Candidata a um terceiro mandato no Parlamento Europeu (PE), admite que as eleições do dia 26 de maio vão traduzir-se numa maior fragmentação do hemiciclo de Estrasburgo, com “forças partidárias ou grupos parlamentares mais iguais entre si em termos de dimensão”, ao contrário do atual, em que “dois grupos parlamentares [centro-esquerda e centro-direita] podiam fazer a maioria”, juntando-se num bloco central.
A eurodeputada destaca que há “uma transformação profunda” na política europeia cuja “dimensão e alcance é difícil de prever”, mas acredita que “há margem para um crescimento e um reforço significativo das forças políticas progressistas europeias”, constituídas por partidos de esquerda e partidos associados ao grupo parlamentar dos Verdes.
Forças políticas que, frisa, “têm uma agenda que é de confrontação e distinção total em relação à extrema-direita, que na realidade não propõe nada de novo em termos de política económica e que contribui muito para a desintegração do espaço europeu”.
Marisa Matias acredita que a extrema-direita vai aumentar a sua representação no PE, porque “lhes foram sendo abertas portas” por partidos tradicionais “que foram deixando entrar a agenda da extrema-direita” no seu discurso. Contudo, espera que esta “não cresça o suficiente” e seja possível “fazer alianças democráticas para impedir que essas políticas vinguem”.
Antevê, por outro lado, “uma implosão do bloco central” e frisa: “Isso não é uma previsão, é uma constatação daquilo que está a ser a trajetória” de pesadas derrotas eleitorais dos partidos sociais-democratas em França, na Alemanha, na Itália, na Holanda, nos países nórdicos ou até em Espanha, que “já não é um sistema bipartidário”.
Para Marisa Matias, “a social-democracia colapsa porque cedeu à economia de mercado, cedeu ao ideal do neoliberalismo e deixou fugir a defesa do Estado social das suas mãos”. “Prova-se, portanto, que a manutenção de políticas claras e de reais opções políticas para a vida das pessoas tendem a favorecer mais as forças políticas honestas consigo próprias, com o seu programa, com a sua história, do que tentar vender um ideário que não faz outra coisa a não ser destruir um projeto comum”, argumenta.
A Europa está “no meio de um turbilhão, de uma tempestade”, “um momento muito difícil de desintegração”, o que pode explicar porque vários dos partidos portugueses apostaram na continuidade dos eurodeputados que os representam, como é caso do BE.
“Neste momento a experiência pode contar. Não é apenas a necessidade de renovação, que existe sempre, mas é um momento muito particular, em que aos fatores de desintegração relacionados com a política económica se juntam outros que advêm precisamente de uma agenda que está nos antípodas de uma Europa solidária ou que sequer possa almejar algum sentido de coesão e de defesa dos direitos mais fundamentais”, explica.