O Facebook quer tornar-se uma força positiva no progresso social e vai motivar os funcionários nesse sentido. Como? Alterando o sistema de bónus da empresa. As melhorias de ordenado vão passar a depender do progresso da gigante tecnológica no combate às notícias falsas, ao discurso de ódio e a outros problemas sociais em que o Facebook tem influência. “Mudámos fundamentalmente a nossa forma de gerir o Facebook”, declarou a empresa que quer “incentivar as pessoas a desenvolver melhorias nos grandes problemas sociais com que se depara a Internet e a nossa companhia”. O novo sistema vai começar a medir o desempenho dos trabalhadores desta forma no primeiro trimestre de 2019, avança a CNBC.

A mudança está em linha com as prioridades indicadas pelo presidente executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, numa chamada com investidores em janeiro de 2019. Os quatro objetivos da rede social a curto prazo, como indicados pela CNET, são:

  1. Fazer progresso nos problemas sociais que afetam a Internet e o Facebook;
  2. Criar serviços que melhorem a vida das pessoas;
  3. Apoiar negócios.;
  4. Ser mais transparente sobre o papel do Facebook no mundo;

Resolução para 2019 de Mark Zuckerberg? Organizar discussões públicas sobre tecnologia e sociedade

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2018. Reconquistar a confiança depois de um ano de escândalos

A luta para “reconquistar a confiança das pessoas”, como a caracterizou a COO da empresa, Sheryl Sandberg, ganha importância depois de 2018 ter sido marcado por sucessivos escândalos relacionados com a rede social. Ao longo do ano, foi exposto que vários agentes políticos utilizaram sistematicamente a rede social para disseminar informações falsas, criar polémicas e influenciar vários atos eleitorais (incluindo a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos da América em 2016). A empresa passou a limitar os anúncios políticos e quer proteger votos futuros.

Em março de 2018, as Nações Unidas denunciaram o uso da rede social para coordenar o genocídio da população Rohingya do Myanmar, permitindo a propagação de linguagem de ódio e retóricas racistas na plataforma. Em resposta, o Facebook admitiu não ter feito o suficiente para prevenir a tragédia.

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Dias depois seria revelado pelo New York Times e pelo The Guardian que a empresa de análise de dados britânica Cambridge Analytica tivera acesso a dados de 87 milhões de utilizadores do Facebook sem o consentimento destes. As informações eram depois utilizadas para refinar campanhas eleitorais. Mark Zuckerberg acabaria por ser chamado a testemunhar perante o Congresso dos EUA para justificar as falhas de segurança.

A empresa tentou restringir a publicidade política na plataforma, mas acabou envolta em polémica por suprimir anúncios de organizações LGBTQ+, incluir artigos noticiosos no que considerava propaganda publicada e por o sistema ser fácil de abusar atribuindo autoria dos anúncios a qualquer político conhecido.

Sheryl Sandberg: “Não antecipámos todos os riscos. O Facebook precisa reconquistar a confiança das pessoas”

Em junho voltou a ser o New York Times a revelar que o Facebook vendia os dados dos seus clientes aos produtores de computadores e telemóveis, como a Apple, Amazon, Microsoft, ou Blackberry.

Internamente, a empresa começou a fragmentar-se, com acusações de “liberalismo intolerante” e de uma cultura de opressão política dentro do Facebook. Um memorando interno queixava-se de falta de diversidade de pensamento dentro da organização. O Facebook seria uma “monocultura política”.

Em setembro — logo após os fundadores do Instagram (comprado pelo Facebook em 2012) se demitirem devido à crescente influência do Facebook na plataforma que criaram — foi a própria empresa a assumir que os dados de 30 milhões de contas tinham sido expostos numa falha de segurança. Os hackers ainda não foram identificados. Outro bug, ligado à partilha de fotos, poderia ter exposto 6,8 milhões de pessoas semanas depois.

O ano não terminou sem ser revelado que, mesmo após os escândalos dos meses anteriores, o Facebook continuava a vender os dados dos seus utilizadores a pelo menos 150 empresas, da Amazon ao Spotify.

Resposta com lucros: 19,2 mil milhões de euros

O Facebook continua a tentar recuperar a sua imagem pública e limpar a rede social. Depois de perder duas importantes agências de combate às notícias falsas (a Associated Press e a Snopes) manteve o esforço para eliminar agentes negativos da plataforma. Em agosto eliminou as quatro páginas de Facebook do popular criador de teorias de conspiração Alex Jones. Agora apagou outras 22 páginas ligadas a Alex Jones e à sua empresa noticiosa, a Infowars.

Facebook perde duas das maiores agências de combate às notícias falsas

Independentemente da imagem pública do Facebook, a empresa atingiu lucros recordes este ano. Foram 19,2 mil milhões de euros, o que representa um aumento de 39% em relação ao ano anterior. O número de utilizadores da plataforma também continua a crescer — são 1,523 mil milhões de utilizadores ativos todos os dias. O grupo Facebook é proprietário de algumas das maiores redes sociais do mundo: além do próprio Facebook, detém o Instagram e a plataformas de troca de mensagens WhatsApp.