A pergunta é: quem diria? Numa altura em que a série “Friends” parece ter ressuscitado (sim, anda meio mundo a rever, ou a ver, a série de comédia mais icónica de todos os tempos) e em que demos como garantido que Jennifer Joanna Aniston vai aparecer algures e em qualquer altura com a mesma cara e com a mesma silhueta esguia (apesar do seu 1,64 de altura), eis que uma das caras mais constantes de Hollywood se prepara para celebrar o seu 50º aniversário, na próxima segunda-feira, dia 11 de fevereiro.

Dificilmente partilhará os festejos com o mundo. Jennifer não tem Instagram, nem Twitter, muito menos Snapchat. Infoexclusão? Nem por isso. “Se estiver aqui sentada a postar qualquer coisa sobre os meus cães ou se fizer um boomerang da minha caneca de café logo de manhã, isso seria só dar aos outros mais uma peça de algo que é meu”, afirmou numa entrevista à revista Elle. “O que faço é manter este pequeno círculo sagrado que é meu”, acrescentou.

Jennifer pode nunca ter sido um ícone de estilo, pelo menos não um dos mais proeminentes, mas, em mais de 30 anos de carreira na televisão e no cinema, o seu rosto tornou-se um dos mais emblemáticos de Hollywood. Em janeiro, foi capa da edição norte-americana da revista Elle. Gucci, Isabel Marant, Alexandre Vauthier foram algumas das marcas escolhidas para vestir a atriz numa produção fotografada por Zoey Grossman, com o deserto da Califórnia, de onde é natural, como pano de fundo.

Jennifer Aniston, na capa da edição de janeiro da Elle

“O facto de a obsessão do público com ela nunca ter diminuído é um grande mistério. Durante anos, questionei-me sobre isso — acho que a Jen representa um arquétipo para nós, enquanto cultura”, explica Kristin Hahn, produtora e amiga de longa data da atriz, no mesmo artigo da Elle. A sensação não podia ser mais partilhada. Sem redes sociais e mantendo o seu dia-a-dia relativamente secreto, Aniston nunca deixou de estar sob o holofote — por um lado, devido ao ritmo quase ininterrupto com que foi invadindo as salas de cinema, ano após ano, por outro, graças ao interesse exacerbado do público em relação à sua vida amorosa.

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Na passadeira vermelha, habituou-se a fazer escolhas seguras. O preto é, sem sombra de dúvida, a opção mais recorrente, obra das irmãs Nina e Clare Hallworth, stylists de Aniston, mas também de estrelas como Patrick Dempsey. Há, obviamente, exceções, como o Versace em tom nude que usou nos Óscares, em 2015, quando esteve nomeada para a estatueta de Melhor Atriz. Ou quando, na mesma cerimónia, em 2013, exibiu um vermelho Valentino.

Segundo a Forbes, esteve entre as mais bem pagas em 2018, com um ganho que ultrapassou os 19 milhões de dólares (cerca de 17.200.000 euros). Em 2017, a mesma revista avaliava a sua fortuna em 200 milhões de dólares (cerca de 176.500.000 euros). Mas talvez a empatia que estabelece com o público venha de outro lado, da atitude meio desastrada com que, muitas vezes, desconstrói (ou destrói) as aparições tipicamente solenes das celebridades. Aos 50, Jennifer mantém a leveza e descontração com que tomou conta da televisão nos anos 90 e isso, de facto, não é para todos.

Rachel Green e a rainha das comédias românticas

Aniston nasceu em Sherman Oaks, nos subúrbios de Los Angeles, mas mudou-se para Nova Iorque ainda em criança. Apesar de ser filha de atores — John Aniston e Nancy Dow –, a família sempre a desencorajou de ver televisão. Os pais separaram-se quando tinha nove anos e, aos 11, Jennifer começou a interessar-se pela representação. No fim dos anos 80, começou na Off-Broadway. Complementava as pequenas participações em espetáculos com trabalhos em part-time. Chegou a ser assistente de telemarketing, empregada de mesa e até estafeta com uma bicicleta.

De volta a Los Angeles, a primeira aparição no grande ecrã, ainda que com um pequeno papel não creditado, foi em 1988, no filme de ficção científica “Mac & Me”, uma espécie de versão low-budget do “E.T.” de Steven Spielberg. Com o início da década de 90, o primeiro papel regular. Aniston era Courtney Walker em “Molloy”, uma série da Fox que não foi além da primeira temporada. Entre pequenos filmes e séries de televisão falhadas, participou em cerca de oito produções.

Os protagonistas de “Friends” © Getty Images

Na altura, a atriz pôs em causa a sua possível carreira na televisão. “A Jennifer tinha estado na nossa fraca tentativa de fazer o [programa baseado no] ‘Ferris Bueller'”, conta Warren Littlefield, então presidente da NBC, no seu primeiro livro de memórias, Top of the Rock: Inside the Rise and Fall of Must See TV, lançado em 2012. “Fizemos-lhe casting para alguns outros pilotos, mas nenhum correu muito bem”, continua. A reviravolta aconteceu no dia em que Aniston avistou Littlefield numa estação de serviço e correu na sua direção. “Alguma vez isto vai acontecer para mim?”, perguntou-lhe. Anos mais tarde, Warren recorda-se de ter pensado: “Céus, eu quis que acontecesse”.

A abordagem arriscada deu resultado. Aniston fez o casting para a série “Friends”, que viria a estrear-se em setembro de 1994. Embora os primeiros planos fossem de lhe atribuir o papel de Monica Geller, os produtores acharam-na mais adequada para desempenhar Rachel Green, ficando o primeiro papel entregue à atriz Courteney Cox. Com 25 anos, Jennifer Aniston integrava um dos elencos mais bem sucedidos de sempre na história da televisão nos Estados Unidos. Durante dez anos, a projeção da série não parou de aumentar. Rachel e Ross, personagem de David Schwimmer, depressa se destacaram como o casal favorito do público.

Cena do filme “O Insustentável Peso do Trabalho”, de 1999 © Getty Images

Em 2004, com a última temporada, Jennifer, bem como as outras protagonistas da série, tornaram-se as atrizes de televisão mais bem pagas de sempre, com um milhão por episódio. Os prémios também não tardaram. Em 2003, ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz numa Série de Comédia ou Musical, prémio que sucedeu ao Emmy conquistado em 2003 e ao SAG Award de 1996. O favoritismo do público expressou-se através do People’s Choice Awards. Entre 2001 e 2004, a atriz ganhou quatro prémios na categoria de Favorite Female Television Performer.

Em 1996, volta ao cinema em “Aquela Que Eu Quero”, embora o seu primeiro papel principal num filme tenha chegado só no ano seguinte, com “Noivo de Aluguer”. As comédias românticas sucederam-se: “Muito Mais Que Amigos”, com Paul Rudd, “É Agora ou Nunca”, com Jake Gyllenhaal, “Bruce, o Todo-Poderoso”, um estrondoso sucesso de bilheteira com Jim Carey, “Romance Arriscado”, com Ben Stiller, “Dizem por aí…”, com Mark Ruffalo, “Separados de Fresco”, com Vince Vaughn, “Marley & Eu”, com Owen Wilson, “Ex-Mulher Procura-se”, com Gerard Butler, “A Troca”, com Jason Bateman, “Engana-me que Eu Gosto”, com Adam Sandler, e a lista continua.

Jennifer Aniston e Jake Gyllenhaal na antestreia do filme “É Agora ou Nunca”, em 2002, no Sundance Film Festival © Darren McCollester/Getty Images

O currículo faz de Jennifer Aniston a rainha das comédias românticas. Em 2012, o seu nome foi acrescentado ao Passeio da Fama, em Hollywood. Em 2015, quase 30 anos depois do seu primeiro (e insignificante) papel, o mundo, por momentos, acreditou que Aniston pudesse ter a sua primeira nomeação para os Óscares. O drama “Cake: Um Sopro de Vida” e a personagem Claire Bennett suscitaram a curiosidade da crítica. Enquanto uns reconheciam que Aniston tinha saído da sua zona de conforto, outros estranharam a possibilidade de vê-la entre as nomeadas ao prémio de melhor atriz. Não aconteceu, ao contrário dos Globos de Ouro e dos SAG Awards, onde a atriz conseguiu a nomeação.

Mas, como mostrou ao longo dos anos, Jennifer Aniston não pára. Enquanto começa a filmar uma nova série para a Apple, ao lado de Reese Witherspoon, com quem produz, e Steve Carell, há duas novas produções a caminho da Netflix — “Murder Mystery”, com Adam Sandler, e First Ladies, com Tig Notaro, sobre a primeira presidente lésbica dos Estados Unidos.

Maridos e namorados: os 50 anos da girl next door

É inegável: grande parte da atenção mediática sobre Jennifer Aniston tem sido em torno da sua vida amorosa. Entre 2000 e 2005 foi casada com Brad Pitt. Os dois conheceram-se em 1998 e foram, durante anos, o power couple de Hollywood. Durante o namoro, chegaram a passar férias em Portugal, em maio de 1999, com direito a passeios românticos em Sintra. O casal anunciou a separação em janeiro de 2005, sob rumores de que Pitt teria traído a atriz com Angelina Jolie, com quem contracenava no filme “Mr. & Mrs. Smith”. Os dois foram fotografados juntos, poucos meses depois, e chegaram mesmo a admitir que se apaixonaram durante a rodagem do filme. Novos rumores surgiram: na origem do divórcio teria estado a recusa de Aniston em ter filhos. A atriz veio desmentir.

Brad Pitt e Jennifer Aniston, em 1999, na antestreia do filme “Ficht Club” © LUCY NICHOLSON/AFP/Getty Images

Mas o primeiro relacionamento público da atriz foi, na verdade, com Daniel McDonald, uma espécie de primeiro amor. O ator viria a morrer em fevereiro de 2007, na sequência de um tumor no cérebro. Depois de um caso fugaz com o músico e produtor Adam Duritz, que mais tarde viria a namorar com Courteney Cox, estrela da série “Friends” e melhor amiga da atriz, veio Tate Donovan, com quem começou a namorar em 1995. A relação terminou dois anos e meio depois, curiosamente a poucas semanas da estreia de Donovan como Joshua, namorado de Rachel Green, na série “Friends”. Sobre o ator Paul Rudd, paira outro rumor, depois de terem contracenado no filme “Muito Mais Que Amigos”, em 1998. Um pós Donovan e um pré Pitt, portanto.

Depois do primeiro casamento, o ator Vince Vaughn foi o primeiro namoro da atriz, também na sequência de um filme em conjunto. 2007 foi o ano em que Aniston teve um breve caso com o modelo britânico Paul Sculfor. Em 2008, a atriz começou a namorar com o músico John Mayer, mas este terá posto termo à relação, repleta de aparições públicas, cerca de um ano depois. Em 2010, outro rumor, desta vez a juntar Jennifer ao ator escocês Gerard Butler. Nunca nenhum dos dois confirmou, tudo o que sobrou foram alguns avistamentos durante as filmagens de “Ex-Mulher Procura-se”.

Justin Theroux e Jennifer Aniston, em 2015 © Andrew Toth/Getty Images for Labyrinth Theater Company

Em agosto de 2015, casa com o ator Justin Theroux, de quem ficou noiva em 2012. A confirmação do divórcio chegava em fevereiro do ano passado, sete anos depois de terem começado a namorar, momento em que a internet enlouqueceu com o facto de Jennifer Aniston e Brad Pitt estarem ambos solteiros. “Não sinto que haja um vazio. Não sinto mesmo. Os meus casamentos foram muito bem sucedidos, na minha opinião”, afirmou na entrevista à Elle.

“Quando [os casamentos] acabaram, foi uma escolha feita por termos decidido ser felizes e, por vezes, a felicidade já não existe dentro daquele compromisso. É óbvio que houve solavancos e que nem todos os momentos foram fantásticos, mas no final esta é a nossa única vida e eu não ia ficar numa situação por medo. Medo de ficar sozinha. Medo de não ser capaz de sobreviver. Permanecer num casamento com base no medo é estares a destruir a tua única vida”, afirmou ainda.

Solteira e sem filhos, Jennifer Aniston chega aos 50. “Tenho sido uma pessoa, predominantemente, feliz”, contou à Elle, na mesma entrevista em que admitiu não ter ainda certeza quanto à possibilidade de ter filhos. “Algumas pessoas foram feitas para serem esposas e terem filhos. Não sei como é que isso surge, naturalmente, para mim […] Quem sabe o que o futuro reserva no que toca a uma criança e a uma relação — seja lá de que forma essa criança venha… ou não. E agora, com ciência e milagres, conseguimos fazer coisas em momentos diferentes do que estávamos habituados”.