Sem lutas por lugares, sem guerras para disputar listas. Rui Rio chegou à primeira convenção do Conselho Estratégico Nacional do PSD a querer centrar todas as atenções no “debate de ideias”. Por isso é que, à chegada ao Europarque, em Santa Maria da Feira, o presidente do PSD não disse uma palavra sobre o desafio lançado por Assunção Cristas: o CDS apresentou uma moção de censura ao Governo de António Costa, que será debatida e votada na próxima quarta-feira, e que também pretende obrigar o PSD de Rui Rio a clarificar de que lado está, se do governo se da oposição. Mas hoje, pelo menos, Rio nada dirá sobre o assunto. Quando muito “amanhã ou depois”.
“O Conselho Estratégico Nacional é uma obra dificílima de pôr de pé e nós conseguimos pôr isto de pé. Penso que tenho aí 1500 pessoas à espera, por isso hoje só vou falar do CEN. Não vou desfocar as atenções para mais nada. Tudo o resto que queiram falar comigo eu falo, mas não é hoje, falo amanhã ou depois. Isto é suficientemente grandioso para eu não dispersar as atenções”, disse aos jornalistas à chegada ao evento — uma hora depois da hora marcada –, sublinhando que a convenção deste sábado é o culminar do seu primeiro ano de mandato à frente do PSD, e que as ideias ali debatidas vão ser a base de trabalho para a elaboração do programa eleitoral do partido, que Rio quer que esteja pronto em junho, antes das férias. “Isto custa a fazer, portanto não vou dispersar as atenções”, insistiu.
Em jeito de remoque ao PS, que também está hoje reunido em Vila Nova de Gaia, mas em torno de uma convenção apenas dedicada às europeias, onde será anunciado o nome do cabeça de lista, Rio deixou claro que na convenção do PSD não se vai falar de “nomes”, de “lugares”, de “listas”, de “golpes” ou de “contra-golpes”. “As pessoas aqui hoje não vão discutir nomes, não vão andar aqui com golpes e contra golpes para entrar para a lista A ou B. Não há listas, não há nomes, só há ideias. Quem cá está só, está motivado por isso”, disse. O que o PS está a fazer hoje em Gaia, disse, é “campanha eleitoral”, enquanto o que o PSD está a fazer na Feira “não é uma ação de campanha, nem é nenhum comício”.
Eu não quero que isto seja visto como uma ação de campanha, isto estava marcado para hoje e não tem nada a ver com a campanha eleitoral. A partir de agora, sim, vamos começar a assistir cada vez mais a ações de campanha. Ainda ontem houve uma cerca ação de campanha no Porto, com o candidato da comissão europeia pelo PPE, em que também estive com o dr. Paulo Rangel. Isto aqui não é nenhuma ação de campanha. O Partido Socialista está hoje a fazer uma ação de campanha, é uma coisa diferente, nós não, nós estamos a debater ideias”, disse.
Por isso é que o candidato do PSD às europeias, Paulo Rangel, não vai ter sequer um palco privilegiado na convenção deste sábado, estando apenas destacado como um dos oradores do painel dedicado aos Assuntos Europeus, que decorre à porta fechada. No encerramento, antes de Rio e David Justino, quem fala é o comissário europeu Carlos Moedas, e não Paulo Rangel. Mas sobre isso, Rio tem uma explicação: é que o programa europeu tem de estar inserido no programa nacional. Daí que a perspetiva nacional tenha prioridade. “O programa europeu tem de encaixar dentro do programa nacional, nós também temos aqui uma secção especifica de Assuntos Europeus, da mesma forma que a secção de Economia ou da Agricultura também não estão dissociadas das questões europeias”, disse.
O que Rio quer é que o PSD tenha “uma militância diferente”. E que militância é essa? É uma militância que foge aos contornos habituais dos partidos, onde o militante está integrado numa concelhia, que está inserida numa distrital, e que espera um lugar numa lista municipal ou nacional. Rio quer uma militância focada nas ideias, por isso sublinha a importância da inclusão de independentes no debate. “A forma tradicional de militar é militar numa concelhia, votar num ou noutro, arranjar mais quotas ou menos quotas para pagar a este e aquele. Ganhar as eleições para ver se somos vereadores ou se somos isto ou aquilo na câmara municipal: isto é a vida dos partidos”, disse, recusando alinhar nessa lógica. “Isto hoje aqui é muito diferente, não esta cá ninguém para lista nenhuma, para coisa nenhuma”, insistiu.