O presidente de governo de Espanha, Pedro Sánchez, antecipou vários cenários para o dia seguinte às eleições legislativas, agendadas para 28 de abril, dizendo que o PSOE está disposto a negociar com quase todas as alas da política espanhola, dos independentistas catalães ao Partido Popular (PP).
“Nós, democratas, temos de nos respeitar e reconhecer mutuamente”, disse o líder socialista numa entrevista à Telecinco, a primeira após ter convocado eleições antecipadas na passada semana para 28 de abril. Questionado sobre a possibilidade de voltar a recorrer a um entendimento com os partidos separatistas catalães para conseguir uma base de apoio parlamentar, Pedro Sánchez disse que não fecha essa porta.
“Tal como não fecho [a porta] a entender-me com o Ciudadanos, com o Podemos ou com o PP em múltiplas questões, como fizemos nos últimos oito meses. Aquilo de que o país precisa é de unir-se em torno dos grandes projetos que temos pela frente”, sublinhou.
A verdade é que, da parte dos restantes partidos que compõem a paisagem política espanhola, apenas a coligação do Podemos com a Esquerda Unida, o Unidos Podemos, parece disposto a aceitar a chamada de Pedro Sánchez para um entendimento que leve o PSOE de novo ao governo.
A entrevista de Pedro Sánchez à Telecinco surgiu na sombra da promessa do Ciudadanos, que se reuniu na manhã desta segunda-feira, de não celebrar qualquer pacto com PSOE, seja antes ou depois das eleições.
A suposta proximidade entre o presidente de governo e os independentistas catalães — que estiveram à beira de iniciar um processo de diálogo interrompido à última hora pelos socialistas, quando já se sabia que uma das condições dos separatistas era o reconhecimento do direito da autodeterminação da Catalunha — é a principal razão apontada pelo Ciudadanos para ter decidido não pactar à sua esquerda.
“Nascemos no século XXI, não temos empecilhos. E como estamos no centro do tabuleiro político podemos chegar a acordo com os moderados. O Ciudadanos situa-se no centro ideológico”, disse o líder do Ciudadanos, Albert Rivera, depois da reunião da comissão executiva do partido.
Já na véspera da reunião, Albert Rivera foi particularmente duro com o PSOE no comício inaugural da campanha eleitoral do Ciudadanos para as eleições de 28 de abril. “Uma menina de sete anos entende isto: não se pode governar um país com quem quer liquidá-lo”, disse. “Tínhamos um problema, o separatismo, e agora temos dois: o separatismo e o aliado da Moncloa. Sánchez converteu-se no obstáculo para o diálogo entre constitucionalistas. Sánchez envenenou a política deste país, ao chamar de facho quem ergue a bandeira espanhola.”
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Na entrevista à Telecinco, Pedro Sánchez reagiu também num tom crítico à decisão do Ciudadanos de fechar a priori a porta a um entendimento com o PSOE, seguindo assim as pisadas do PP.
“Hoje ouvi o senhor Rivera e o grupo parlamentar do Ciudadanos a dizer que vão fazer um cordão sanitário ao PSOE”, disse. “Excluem os milhões de espanhóis e espanholas que votam no PSOE?”
Pedro Sánchez procurou ainda sublinhar que “nunca houve um acordo com os independentistas” e disse que estes têm “pavor a sentar-se à mesa, entender que a independência é impossível e dizer aos catalães que lhes mentiram e que têm de voltar à senda constitucional”.
Referindo-se à moção de censura socialista que derrubou Mariano Rajoy e o PP em junho de 2018, e automaticamente levou Pedro Sánchez e o PSOE ao poder com o apoio do Unidos Podemos e dos independentistas, o presidente de governo disse: “O PSOE assumiu a sua responsabilidade porque Rajoy não se quis demitir e os grupos parlamentares deram um passo em frente sem qualquer tipo de condições”.
Sondagens continuam a dar maioria à direita com o Vox
A sondagem mais recente, publicada pelo El Español e realizada pela SocioMétrica, veio confirmar a tendência que outros estudos de opinião já tinham apontado: Pedro Sánchez e o PSOE deverão sair vencedores das eleições de 28 de abril, mas a soma dos partidos de direita vai permitir ao PP, Ciudadanos e Vox formar um bloco maioritário.
De acordo com o a sondagem da SocioMétrica, o PSOE ficará no primeiro lugar com 24,3%, o que no Congresso dos Deputados corresponderá a 105 e 107 assentos parlamentares. A estes, podem somar-se os do Unidos Podemos, que surge em quarto lugar, com uma previsão de 40 a 42 deputados. Assim, este bloco da esquerda, que foi o único a votar favoravelmente o orçamento chumbado na semana passada, somaria entre 142 a 149 deputados, ficando aquém dos 176 necessários para ali ter uma maioria.
Do outro lado da barricada, a união poderá fazer a força — tal como já fez na Andaluzia, cujo governo regional está pela primeira vez na História da democracia espanhola nas mãos de um executivo não-socialista. Com o PP (18,6%, 72 a 74 deputados), Ciudadanos (18,7%, 64 a 66 deputados) e o Vox (11,8%, 38-42 deputados), todos somados poderão ter entre 174 a 182 deputados.
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