A Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo “renasce das cinzas” com um espetáculo de homenagem a Sophia de Mello Breyner Andresen, que se estreia em abril, em Lisboa, graças a uma parceria com a Allianz Portugal, para os próximos três anos. O anúncio foi feito esta terça-feira pela Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo (CPBC) e pela seguradora que, durante o próximo triénio, será a sua principal parceira, garantindo o apoio à agenda de espetáculos e atividades de âmbito cultural e artístico.

“Este apoio para nós é o renascimento da companhia, é o retomar da carreira. Estamos numa fase que é um recomeço. Os bailarinos estão a viver uma nova fase de grande entusiasmo”, afirmou Vasco Wellenkamp, diretor da CPBC.

A materialização deste apoio será possível ver a partir de dia 10 de abril, data em que se estreia no Teatro Camões, em Lisboa, o espetáculo “Na substância do Tempo”, coreografado por Vasco Wellenkamp e Miguel Ramalho.

Segundo o diretor artístico, o espetáculo, que homenageia a poesia e Sophia de Mello Breyner Andresen, a propósito do centenário do seu nascimento, está dividido em três partes e inclui duas obras: a 5.ª Sinfonia de Mahler e Sinfonia de Requiem. Além da estreia, estão também agendados espetáculos nos dias 11, 12 e 13 de abril, no Teatro Camões, e no dia 13 de dezembro, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

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Extravasando as fronteiras da capital, o espetáculo vai andar por Setúbal, no Fórum Municipal Luísa Todi, a 31 de maio, e vai marcar a abertura do Festival Algures a Nordeste, no Teatro Municipal de Bragança, no dia 7 de setembro.

Além destas exibições estão igualmente agendadas outras localidades e salas no país, ainda a serem divulgadas, bem como uma possível atuação em Itália, avançou o diretor artístico, explicando que o repertório só começou a ser preparado este ano e que o espetáculo se estreia em abril, o que significa que a companhia está já “atrasada para marcar teatros”.

“Para o ano, começamos a marcar já este ano, e depois vamos ganhando dinâmica própria”, afirmou Vasco Wellenkamp, não escondendo a comoção por ver a sua companhia ganhar novamente vida, comparando o seu percurso ao de um vento que para, ou de um fogo que se extingue, deixando apenas cinzas.

Afirmando que a companhia tem passado tempos “muito complicados”, Vasco Wellenkamp lembrou o “período rico e importante que [a companhia] atravessou desse o seu nascimento, em 1998, tendo passado a atuar com apoios do Estado a partir de 1999”. Mas depois, “a crise veio arrasar a companhia, perdemos todos os apoios”, afirmou, recordando que “o momento mais dramático da companhia” foi quando, em 2014, lhe foram recusados apoios públicos, apesar da pontuação positiva atribuída pelo júri, nos antigos concursos plurianuais da Direção Gearl das Artes.

“Não tive apoio porque não escrevi um texto sobre a relação entre a dança e a literatura. Fiquei arrasado completamente e foi este o ponto em que decidi que não queria mais, em que pensei: ‘não estou mais para isto'”, contou emocionado. Por isso, Vasco Wellenkamp considera que mais do que o apoio económico, é o apoio moral que lhe dá “alento”, e que o “faz acreditar outra vez”.

“O mais importante de tudo, foi esta força, o voltar a acreditar. Sinto-me de novo entusiasmado, como há 40 anos”, afirmou o responsável, que diz querer continuar na mesma linhagem do Ballet Gulbenkian, onde foi bailarino e coreografo.

Para Teresa Brantuas, CEO da Allianz Portugal, este é um dia histórico, porque marca mais um passo que a empresa dá no sentido de aproximar as pessoas da cultura. Com uma forte presença já em termos de apoio à música e ao cinema, a parceria agora estabelecida com a CPBC é a entrada da seguradora no mundo da dança. Teresa Brantuas recordou que a empresa tem como objetivo “criar proximidade entre as pessoas, particularmente através do desporto e da cultura”.

A escolha da CPBC é justificada pela responsável pela “qualidade do repertório, a linha técnica e artística, a sua excecional à arte e a valorização da dança”. Em 2014, a coreografia de Vasco Wellenkamp, para a CPBC, “Fado Ritual e Sombras”, foi distinguida, na Holanda, com o Prémio do Público para o Melhor Espetáculo de Dança (Danspublieksprijs), entre 65 espetáculos apresentados no país, durante esse ano. O bailado tinha sido estreado, no ano anterior, numa coprodução com a companhia holandesa Internationaal Dansetheater (IDT).

Vasco Wellenkamp iniciou-se na dança em 1961, nos Bailados Verde Gaio, ingressou no Ballet Gulbenkian, em 1968 e estudou na Escola de Dança Contemporânea de Martha Graham, em Nova Iorque. Foi professor-coordenador da Escola Superior de Dança de Lisboa e diretor da Companhia Nacional de Bailado, até 2010.

Trabalhou com companhias como o Ballet Guaíra, da Argentina, Ballet Contemporâneo do St. Martin’s Theatre e com Extemporary Dance Theater, de Inglaterra, Ballet du Grand Théâtre de Gèneve, Suíça, Balleto di Toscana, Itália, Companhia de Bailado do Teatro de Zagreb, Croácia, e com o Ballet da Ópera de Graz, na Áustria.