Ao contrário do que se passa em Portugal, onde se criam aqueles mitos do género “quem está pior costuma ganhar o dérbi”, em Inglaterra é tudo muito mais linear. Por isso, antes da final da Taça da Liga, as coisas estavam clarinhas para toda a gente, de comentadores a adeptos: o Manchester City, com confiança reforçada depois da recuperação na Premier League e do triunfo reduzido a dez na Alemanha frente ao Schalke 04, surgia como favorito diante de um Chelsea em crise onde a vitória recente com o Malmö na Liga Europa não apaga as goleadas sofridas no Campeonato ou a eliminação caseira da Taça de Inglaterra. Todavia, o futebol é tudo menos uma ciência exata. E se os citizens só ganharam nas grandes penalidades (4-3) depois no nulo no final dos 120 minutos, houve também a recusa de um jogador sair de campo, numa situação surreal que marcou (e marcará) o jogo.

Foi quebrado o mito, este mais recente e tendo em conta os últimos encontros, que o Chelsea não sabe defender. A ideia de jogo que Maurizio Sarri trouxe para esta final também ajudou bastante, com todos os homens atrás da linha da bola sobretudo no arranque da partida, por forma a evitar um resultado tão desnivelado como o que aconteceu na derradeira partida entre ambos no Etihad Stadium (6-0, com quatro golos nos primeiros 25 minutos), mas ficou provado que muitas vezes uma equipa está mais dependente daquilo que conseguir fazer em termos de dinâmica coletiva do que propriamente da valia individual (que está lá).

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É a partir desta realidade que se escreve o resto do encontro. O Manchester City de Pep Guardiola, que tem uma identidade muito ofensiva desde que o espanhol assumiu o comando, ficou apenas pela terceira vez na presente temporada em branco no final dos 90 minutos, algo que tinha acontecido apenas nas deslocações a Liverpool e a Londres, para defrontar o Chelsea em Stamford Bridge. E se aconteceram fenómenos estranhos como Agüero ter ficado estatelado no relvado logo aos três segundos de jogo por um bloqueio, o minuto do primeiro remate não foi propriamente muito normal: 28′, fraco e à figura de Kepa.

Ao longo da primeira parte, o lance de maior perigo acabou por ser um corte de Otamendi para canto que fez passar a bola perto do poste da baliza de Ederson; no segundo tempo, os blues tiveram maior capacidade de para explorarem transições perante o balanceamento ofensivo dos citizens mas Kanté atirou por cima da baliza de Ederson após passe de Hazard e mais tarde também o belga rematou muito ao lado da baliza contrária. A partida iria para prolongamento, com a chance mais flagrante a surgir aos 110′ quando Sterling cruzou atrasado na área e Azpilicueta conseguiu cortar o desvio na pequena área de Agüero. O pequeno argentino ainda voltou a visar a baliza aos 117′ mas Kepa (em dificuldades físicas) conseguiu travar o remate.

Foi preciso chegar à ponta final do prolongamento, quando ninguém tinha dúvidas sobre o desempate nas grandes penalidades, para se assistir ao “caso” da final: o guarda-redes espanhol que custou 80 milhões de euros ao Chelsea voltou a cair agarrado à perna, a equipa médica voltou a entrar, Willy Caballero estava preparado na linha lateral para entrar mas Kepa fez sinal de que estava OK e que, por isso, iria permanecer em campo. As reações, essas, não demoraram: Maurizio Sarri teve um ataque de fúria, arriscou-se a rasgar o casaco, atirou o bloco de notas ao banco entre gritos, foi para a zona de acesso aos balneários mas lá acabou por voltar; Caballero, com uma cara de quem não estava a acreditar no que se passava, também foi para a zona do túnel. E foram os jogadores dos blues que ainda evitaram que Sarri fosse ter com Kepa (sobretudo Rüdiger), para não piorar a situação…

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Nas grandes penalidades, Ederson defendeu a tentativa de Jorginho, Kepa ainda travou o castigo de Sané mas David Luiz acertou no poste e Bernardo Silva e Sterling não perdoaram, naquele que foi o oitavo título do internacional português, depois de ter ganho Campeonato, Taça de Portugal e Taça da Liga pelo Benfica; Campeonato pelo Mónaco; e Campeonato, Supertaça e agora a segunda Taça da Liga no Manchester City. Uma noite de festa em Manchester, que será bem mais complicada para Kepa. É que, no caso do espanhol, a final está longe de ter terminado após o desempate nas grandes penalidades…