O presidente do conselho geral e de supervisão da EDP admite que existe “alguma instabilidade acionista” na empresa que “é preciso acompanhar”. Luís Amado, que foi ouvido esta quarta-feira na comissão parlamentar de inquérito às rendas excessivas da eletricidade, lembrou o contexto da oferta pública da China Three Gorges sobre a empresa, sobre a qual não deve pronunciar-se. Mas sinalizou que nesse cenário é preciso esperar pelos desenvolvimentos no futuro mais imediato.
“É preciso estar atento a essas dinâmicas num setor onde a pressão externa para a reestruturação e para a mudança é muito grande. É uma empresa que está sujeita a muitas pressões”.
https://observador.pt/especiais/ativista-ou-abutre-as-manobras-agressivas-do-fundo-americano-que-quer-dar-a-volta-a-edp/
Sem nunca ser referir às propostas radicais feitas por outro acionista, o fundo americano Elliott para a EDP, Luís Amado realçou as mudanças do modelo de negócio colocadas pela transição energética e avisou que havia um “desgaste” com este ruído sobre a empresa. Mas quando questionado pelo deputado do PSD, António Topa, sobre se existia o risco de a EDP se transformar numa nova PT — a Portugal Telecom foi desmantelada e os ativos portugueses foram vendidos à Altice — nomeadamente por ações ou decisões do Governo, Luís Amado afastou esse cenário. O presidente do conselho geral da EDP acredita que o “Governo é sensível à necessidade de estabilidade na empresa”, lembrando as últimas intervenções públicas dos novos responsáveis pela pasta da energia, o ministro Matos Fernandes e o secretário de Estado, João Galamba.
A propósito do tema das rendas excessivas e das divergências entre Governo e empresas sobre os contratos e as compensações a pagar à empresa, Luís Amado questiona que a EDP se “transforme numa bola de jogo político”. E considera que se existem divergências sobre a aplicação dos contratos, ou em temas como a cobrança da CESE (contribuição extraordinária sobre o setor energético) elas devem ser resolvidas pela arbitragem ou pela via judicial,
O presidente do conselho geral, que foi ouvido um dia depois de António Mexia, reconheceu que o preocupa nesta fase o futuro da EDP e gostaria de ver passar a página da comissão de inquérito às rendas excessiva, que deve produzir o seu relatório que terá as respetivas consequências, e o ruído criado à volta da empresa que precisa de estabilidade.
“É uma empresa que tem muitos acionistas, sobretudo estrangeiros e muito exposta ao mercado de capitais e à sensibilidade dos investidores internacionais.”
Em resposta ao deputado António Cardoso do PS, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros dos governos de José Sócrates, reconhece que as decisões tomadas nestes governo fizeram das renováveis uma bandeira para o país que deu uma vantagem relevante. É uma vantagem que a EDP hoje tem em relação às empresas europeias e que decorre da constatação de que todas as empresas querem fazer hoje aquilo que a elétrica portuguesa fez há dez anos. Admite que essa opção representou um com sobrecusto — que acabou por ser pago pelos consumidores de eletricidade nos preços — mas porque foi uma transição energética antecipada e lembra que os custos já estão a baixar.