Estávamos a 12 de julho de 2014 quando o FC Porto comunicava à CMVM a transferência de Adrián López, apresentando-o em termos públicos: “O Futebol Clube do Porto vem comunicar ter chegado a acordo com o Atlético de Madrid para a aquisição do atleta Adrián López pelo montante de 11 milhões de euros”. 11 milhões, um montante elevado para um clube português. Mas vinha do Atl. Madrid, uma espécie de garantia de qualidade do jogador. Só assim se explicaria a contratação de um avançado que por tão elevado valor ficara apenas a 60% na posse dos azuis e brancos. Mas as coisas não correram assim tão bem como a teoria fazia prever. Pelo menos até ao dia de hoje, já depois de ter marcado no Olímpico de Roma.

A equipa com amor ao clube caiu aos pés do miúdo que ama o futebol (a crónica do FC Porto-Benfica)

Primeira vida: 11 milhões de euros?

Adrián vinha de um Atleti campeão, um feito épico numa liga dominada pelos deuses Messi e Ronaldo. Na Liga dos Campeões foi finalista vencido. Tinha sido o terceiro avançado mais utilizado da equipa em todas as competições, depois de um surpreendente Diego Costa e do veterano David Villa. No final daquela histórica época, e apesar de ser o terceiro avançado mais utilizado, ainda participou em 39 partidas, mas em termos de golos… apenas três. Começavam a aparecer algumas dúvidas na cabeça dos adeptos mesmo ainda antes de Adrián vestir a azul e branca: o que teria levado o FC Porto a comprar um jogador que tinha média de 0,16 golos por jogo na sua carreira de profissional por 11 milhões de euros? A resposta foi dada anos depois (por Pinto da Costa, que culpou Lopetegui e Jorge Mendes em 2016), mas começava aí o pesadelo do avançado espanhol.

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Nas primeiras três jornadas da Liga 2014/2015, Adrián foi titular e jogou os 90 minutos em duas ocasiões. Nem golos, nem bons apontamentos. Ainda marcou na primeira jornada da Liga dos Campeões, fazendo parte da goleada de 6-0 frente ao Bate Borisov, mas face às sucessivas oportunidades foi desaparecendo e somando apenas meia dúzia de minutos por jogo. Acabou por participar em 18, com o único golo marcado a ser mesmo aquele frente ao Bate Borisov, que nem teve impacto pontual. Pelo meio teve uma paragem de mês e meio por lesão, mas nem isso mudou a opinião dos adeptos. Adrián López não convencia nem os treinadores e acabou por ser emprestado. A época seguinte foi passada ao serviço do Villarreal, por empréstimo dos dragões. Seria o primeiro de duas cedências, com um regresso pelo meio.

Segunda vida: não deu para aquecer nem marcar

Na entrada para a época 2016/2017, o FC Porto aparecia de cara lavada e o treinador era agora Nuno Espírito Santo. Como sempre, quando se muda de treinador renasce a esperança dos jogadores menos utilizados para poderem aparecer e dar nas vistas. Não sabemos se Adrián deu nas vistas ou não, mas convenceu o treinador dos azuis e brancos a dar-lhe uma oportunidade. Durou pouco e o último jogo do avançado espanhol pelo FC Porto nessa temporada foi em novembro. O resultado deu uma participação em alguns minutos de nove jogos – Champions incluída – e o piorar da marca de golos da primeira experiência: de um golo passou para nenhum. No mercado de inverno foi então emprestado mais uma vez, e novamente ao Villarreal. Tudo apontava para que tivessem sido os últimos jogos da carreira de Adrián no Dragão.

FC Porto volta a emprestar Adrián López ao Villarreal

A convicção nessa hipótese ficava ainda mais forte se somássemos as declarações de Pinto da Costa uns meses antes: em janeiro de 2016, o presidente do FC Porto dizia que nunca mais faria um negócio como o de Adrián López e que só o aceitou fazer devido a uma combinação com Jorge Mendes que nunca foi cumprida: “A ideia seria aceitarmos os 11 milhões. E ele disse-nos que se tivéssemos problemas, que se não o quiséssemos, que ele vendia o jogador pelo mesmo preço. O treinador queria-o, era caro, mas o empresário garantiu que o tirava daqui sem risco. O tempo foi passando e nada aconteceu”. Parecia o fim de linha para Adrián no FC Porto e sem retorno financeiro. Ou não?

Terceira vida: finalmente o sabor dos golos (importantes)

Até que chegamos à época atual. Adrián vem de mais uma temporada de empréstimo, desta vez de época inteira e ao Deportivo, onde tinha marcado nove golos em 31 participações. A juntar a isso há, mais uma vez, novo treinador (visto que Adrián não encontrara Sérgio Conceição na primeira época do técnico português no FC Porto). Nasce mais uma janela de oportunidade para o avançado espanhol, aproveitada até pela incógnita sobre se Tiquinho ou Aboubakar ficavam no plantel portista.

Não é que Adrián esteja a fazer uma época de sonho, que não está. Mas para aquilo que tem sido requisitado, o ser um suplente (é o quarto avançado) pronto a intervir, o espanhol não se tem saído mal. Ainda mais tendo já apontado dois golos importantes. Dado os resultados finais, um foi mais importante do que o outro, mas Adrián marcou o golo que deixa o FC Porto com tudo em aberto para seguir em frente na Liga dos Campeões e abriu o marcador no clássico deste sábado frente ao Benfica. O resultado não foi o melhor, mas somando a importância destes golos ao póquer que fez frente ao Vila Real para a Taça de Portugal – independentemente do nível de dificuldade da partida – os cinco golos em 22 jogos esta época podem abrir a janela a uma parceria mais prolongada com o FC Porto.

“Agora sinto-me feliz e importante, mesmo sendo suplente”, disse Adrián em dezembro passado. Por enquanto ainda não há notícias sobre uma possível renovação de contrato com o FC Porto. Mas dada experiência europeia do ponta-de-lança, a resiliência para vingar no clube e uma época mais presente de Adrián, com golos, nunca se sabe se não estará para vir uma quarta vida para o antigo colchonero no Dragão.