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Lisboa ao sabor da palavra

Este artigo tem mais de 5 anos

Entre 8 e 11 de março, a capital vai receber a primeira edição do Abecedário_Festival da Palavra, um evento literário que visa promover as livrarias de rua e o livro enquanto veículo cultural.

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Getty Images/iStockphoto

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Dar voz à palavra. É esse o mote do Abecedário_Festival Da Palavra, um evento que conta com o apoio da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, da Câmara Municipal de Lisboa, das Juntas da Freguesia do Areeiro, de Alvalade e de Arroios, da APEL, do programa Lojas com História e da Fundação Altice, e pretende servir de homenagem, não só à cultura como veículo de união e agregação social, mas também às próprias palavras soltas que se transformam em mensagem e moldam pensamentos.

5 perguntas a Carlos Moura-Carvalho

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«Um livro, como obra de arte, tal como uma peça de teatro, são poderosos instrumentos de cultura, que derrubam fronteiras, agitam consciências, estimulam reflexões, promovem a liberdade»

Com décadas de experiência na área da cultura, Carlos Moura-Carvalho foi responsável pela Direção-geral das Artes, integrou a Inspeção-Geral das Atividades Culturais, a Tóbis Portuguesa, a Companhia Nacional de Bailado e o Gabinete de Estratégia, Planeamento e Avaliação Culturais, cargos que acumulou com uma forte intervenção cívica e de escrita, e é hoje responsável pela organização do. Em conversa com o Observador Lab, falou da génese desse evento, de cultura e do mercado livreiro nacional, e do que se espera desta primeira edição.

1. Como nasceu a ideia de fazer um evento como o Abecedário_Festival da Palavra?

Do conhecimento que tenho da situação difícil em que se encontram as livrarias de rua, as livrarias independentes, as pequenas livrarias. São muitas as razões e poucas têm sido as soluções. No âmbito de um projeto cívico que criei em 2014, na Praça de Londres, em Lisboa, a Cabine de Leitura, uma micro biblioteca numa antiga cabine telefónica, que hoje tem mais de 20 “irmãs” por todo o país, considerei que o passo seguinte seria realizar um festival literário que ajudasse a promover três livrarias da mesma zona da cidade, que alertasse, que mexesse no assunto. E surgiu o mote do festival que é #DarAsMaosAsLivrarias. Por outro lado, Lisboa não tinha um festival literário, apesar de ter tomado conhecimento, durante o desenvolvimento do Abecedário_Festival da Palavra, que foi aprovada recentemente a realização de um festival literário em 2020. E por isso pareceu-me que seria interessante explorar um festival literário assente nos vários sentidos de uma palavra.

2. O tema desta primeira edição é a palavra “fronteira”, nos seus vários sentidos. O livro pode ser um “instrumento” de unificação cultural que pode derrubar fronteiras e diferenças? 

Um livro, como obra de arte, tal como uma peça de teatro, são poderosos instrumentos de cultura, que derrubam fronteiras, agitam consciências, estimulam reflexões, promovem a liberdade. Apesar de vivermos num mundo cada vez mais global, existem muitas fronteiras que não conseguimos derrubar e até construímos muros para dificultar e alegadamente para nos proteger. Vários painéis do festival procuram refletir sobre isso e sobre a necessidade de termos consciência da força das palavras, dos livros e da cultura no reforço dos Direitos Humanos, da liberdade e do desenvolvimento da sociedade contemporânea.

3. O painel de convidados Abecedário Festival da Palavra faz uma tangente às várias áreas da cultura e sociedade portuguesa. Como foi elaborada essa autêntica “seleção nacional”? 

Com o critério do mérito, da competência e da capacidade de refletir e conversar sem constrangimentos. É uma escolha pessoal, de pessoas que conheço e que respeito, e que vão conversar entre si em painéis, nalguns casos, talvez improváveis. Por exemplo, conseguimos trazer do Brasil a professora de teatro Deolinda Vilhena que vai conversar com a nossa referência em Portugal e que é a Professora Eugénia Vasques, sob a moderação da Sandra Vieira Jürgens. Vamos também ter a Marta Porto que vai conversar com o Anísio Franco, com moderação da Filipa Oliveira. Num outro painel, só composto por mulheres e que vai ter lugar a 8 de março, Dia Mundial da Mulher, a Dra. Virgínia Brás Gomes vai conversar com a Sara Tavares e com a Elisabete Jacinto, sob moderação da Dora Santos Silva. O objetivo é ter conversas assentes na experiência de vida de cada um dos participantes, testemunhos sem filtros em tertúlias que se pretendem próximas das pessoas.

4. Apesar de, nos últimos anos, o número de livros editados no mercado nacional ter aumentado, Portugal continua a ser dos países da Europa com índices de hábitos de leitura mais baixos. Este tipo de eventos pode funcionar como um estímulo à leitura?

Penso que sim. Não tenho dados sobre o verdadeiro impacto deste tipo de iniciativas, nem é a minha área, mas a proximidade com escritores, pensadores, investigadores e historiadores, seguramente estimulará a procura de mais sobre essas pessoas. O facto de este festival não ser organizado  por nenhuma entidade tradicional, institucional, nem por uma consultora editorial, dá liberdade total na escolha dos participantes e dos temas, e também dos locais (livrarias, bibliotecas e cafés), o que pode aproximar as pessoas e humanizar o mundo do livro. As pessoas precisam de literatura, precisam do simbólico, precisam da proximidade informal. Em maio, vou estar no Filipoços no Brasil, um festival literário que contribuiu para que em poucos anos Poços de Caldas, uma pequena cidade de Minas Gerais, tenha hoje os maiores índices de leitura do país, mais do dobro da média nacional. E há muitos outros exemplos, como Toulouse.

5. Lisboa é o palco desta primeira edição do Abecedário Festival da Palavra. No futuro, pondera alargar este evento a outras cidades do país?

Não. Não sou adepto de replicar projetos. Uma ideia com estas características quer-se pequena, intimista, feita com uma determinada realidade e para um determinado público. Tem uma enorme componente emotiva que só resulta pela proximidade aos livreiros e aos participantes. Para o ano, será melhor e envolverá seguramente outras livrarias, mais apoios, mais parceiros e outras zonas da cidade. Mas alargar para realidades que não se conhece seria, a meu ver, contraproducente.

A iniciativa partiu da Cabine de Leitura, um projeto cívico idealizado por Carlos Moura-Carvalho que consistiu na transformação de uma antiga cabine telefónica numa micro biblioteca, um incentivo às livrarias de rua, em colaboração com três livrarias independentes de Lisboa: a Barata, Tigre de Papel e Leituria. Tudo em prol da difusão e valorização da língua e literatura portuguesas, em paralelo com as ciências humanas, desafiando o público a conhecer com originalidade, intimismo e informalidade, os grandes autores e textos da literatura portuguesa e estrangeira.

Assim, todos os anos, o Abecedário_Festival Da Palavra vai dar voz e homenagear uma palavra diferente, convidando para isso escritores e artistas vários para leituras, reuniões literárias, debates, cafés literários e concertos.

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A primeira edição, que ocorrerá entre os dias 8 e 11 de em março, será dedicada à palavra “fronteira” e está agendado todo um programa que procura explorar os seus vários sentidos, seja ele real, geográfica, natural, económico, cultural, religioso, social, tecnológico, psicológico, ou de pensamento.

Cultura com fronteira(s)

Assim, durante quatro dias, dezenas de atividades, incluindo declamações, tertúlias e cafés literários, terão lugar em livrarias, bibliotecas, cafés e Lojas com História de três freguesias de Lisboa (Areeiro, Alvalade e Arroios), dando voz à palavra, com o objetivo de constituir o Abecedário_Festival Da Palavra como uma genuína manifestação cultural da língua portuguesa.

Deolinda França de Vilhena, jornalista e professora de Teatro na Universidade Federal da Bahia, e uma das palestrantes convidadas do evento, não esconde o entusiasmo de participar neste festival. «As expectativas são muitas, mas creio que a mais importante é a oportunidade que temos de devolver a palavra à palavra. Além disso, dá possibilidade do encontro em torno da palavra, de ouvir o outro, um exercício fundamental e em completo desuso nos tempos de exaltação à virtualidade», confessa.

Essa questão é também sublinhada por Carlos Vaz Marques, jornalista e um dos nomes que integra o festival enquanto moderador. «Este tipo de eventos potencia sempre a possibilidade de encontro. E num tempo dominado pelas relações virtuais, os pretextos para o contacto pessoal, cara a cara, são cada vez mais precisos e preciosos».

Quatro dias, três temáticas

Com o objetivo de traçar uma tangente à atualidade, numa perspetiva de futuro, os quatro dias que compõem o programa do Abecedário_Festival Da Palavra vão dividir-se num trio de temáticas diferentes que serão preenchidas com a visão de escritores, pensadores, encenadores, realizadores, artistas plásticos, gestores culturais e músicos lusófonos, através da realização de tertúlias, cafés literários, declamações e concertos.

O evento terá como palco as três livrarias já referidas, as bibliotecas Coruchéus, Galveias, São Lazaro e Cabine de Leitura, os cafés Vává, Mexicana e Império, e, ainda a conhecida Loja Sinfonia, e pretende animar as freguesias de Areeiro, Arroios e Alvalade.
No que toca ao programa, o festival irá dividir-se em três temáticas diferentes: Fronteiras do pensamento, Territórios sem fronteiras e Estrangeiros e fronteiras.

A primeira, que terá por base conversas com escritores, poetas e criadores, vai decorrer no trio de livrarias e contará com seis painéis: O céu é o limite?; Penso, logo existo; Tudo tem um preço?; Transpor barreiras, repensar limites; Amor sem fim; A arte fala. A segunda área a explorar vai juntar sociólogos, pedagogos e gestores, que serão figuras centrais de debates e tertúlias a realizar nas já referidas livrarias, assim como nos cafés Vává, Império e Mexicana, e nas bibliotecas Coruchéus, Galveias, São Lazaro e Cabine de Leitura. Os painéis a explorar são Um mundo global; O país real; Uma cidade sem fronteiras; Livrarias e editoras, irmãs desavindas?; Identidade – herança ou construção?; A cultura não tem fronteiras. O último bloco temático será dedicado a leituras encenadas, contadores de histórias e declamações de poesia, e será distribuído pela Cabine de Leitura e pelos restantes espaços do festival.

Para mais informações, visite https://ppl.pt/abecedario#

Um painel de luxo

A lista de convidados do Abecedário_Festival Da Palavra reúne alguns dos nomes mais marcantes da cultura nacional, mas também de áreas como a política, desporto, música, economia ou gastronomia. E não fosse “fronteira” a palavra escolhida desta primeira edição, nada melhor que ter também convidados no outro lado do Atlântico para sublinhar a uma realidade cuja unidade de medida é uma distância que se quer encurtada pela ideia de cultura e do objeto livro. Assim, vão passar pelo roteiro cultural do evento, por exemplo, os escritores Lídia Jorge, Rodrigo Guedes de Carvalho e Isabel Alçada, o deputado João Soares, o padre José Manuel Pereira de Almeida, Virgínia Braz Gomes, especialista em direitos humanos e atual presidente do Comité dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais da ONU, a piloto de todo-o-terreno Elisabete Jacinto, o realizador João Mário Grilo, o encenador Carlos Avilez, a Professora Deolinda Vilhena, da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia ou a gestora cultural e jornalista brasileira, Marta Porto. A moderação dos debates estará a cargo dos jornalistas Sara Belo Luís, Teresa Nicolau, João Villalobos, Paulo Farinha, Carlos Vaz Marques, Tiago Pais e Tiago Carrasco, da actriz Susana Sá, da historiadora Dalila Rodrigues, da curadora Filipa Oliveira e das investigadoras Sandra Vieira Jurgens e Dora Santos Silva.

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