A Montepio Geral Associação Mutualista voltou a ter, em 2018, um ano marcado pela deterioração da situação financeira. O exercício só foi positivo — em 1,6 milhões de euros — porque, segundo o Eco, a associação registou novamente ativos por impostos diferidos (DTA), uma questão contabilística que surgiu quando a mutualista decidiu, por sua iniciativa, deixar de ser considerada pelo fisco uma instituição privada de solidariedade social isenta de IRC. Sem esse efeito, teria havido um prejuízo de seis milhões. Mas o dado mais preocupante para a associação é o ritmo de perda líquida de associados — mil por mês, em média — e o resultado negativo em quase 200 milhões na margem associativa, isto é, a diferença entre os custos e os proveitos com aplicações dos associados na mutualista.
Esse é um dado que mostra as dificuldades da atividade da mutualista liderada por António Tomás Correia. A margem associativa já tinha sido negativa em 370 milhões no ano anterior e em 2018, embora tenha melhorado, voltou a ser significativamente negativa — 191 milhões, segundo o Eco. Outro dado preocupante, patente nas contas a que o jornal teve acesso, é que em 2018 a mutualista captou 487 milhões de euros em produtos mutualistas (novas subscrições ou renovações), o que além de ser uma queda de 32% em relação ao ano anterior, é aproximadamente metade do objetivo que a mutualista tinha traçado para si própria.
O Observador sabe que neste mês de março a mutualista enfrenta mais um teste decisivo porque tem cerca de 63 milhões de euros em instrumentos de poupança que atingem o vencimento, sendo crucial para a gestão que o máximo seja renovado por parte dos mutualistas. Essa pressão imediata ocorre numa altura em que algumas notícias apontam para a possível saída de Tomás Correia, depois da contraordenação aplicada pelo Banco de Portugal (com multa de 1,25 milhões, de que vai haver recurso). E os candidatos derrotados nas eleições de dezembro defendem que a saída de Tomás Correia é mais urgente do que nunca.
Candidatos querem novas eleições para tirar do Montepio o “abcesso” Tomás Correia
A subscrição do principal produto da mutualista — que se chamava “Capital Certo” — poderá ter sido penalizada pelo facto de o produto estar suspenso enquanto se reformulavam alguns aspetos do instrumento, por imposição dos reguladores, desde logo o nome: passou para “Poupança Mutualista”.
Ao mesmo tempo, a mutualista teve de suportar encargos de 680 milhões no reembolso destes produtos (e de outros, também), daí que a margem associativa tenha sido negativa em quase 200 milhões.
Mas a mutualista garante que, apesar destes números, os rácios de capitais próprios sobre o ativo líquido médio “manteve-se em níveis significativos” e o rácio de cobertura das responsabilidades teve “um comportamento positivo”, o que, garante a mutualista Montepio, “continua a refletir a capacidade da associação mutualista em honrar os seus compromissos futuros”.
O Observador tentou contactar fonte da mutualista, sem sucesso até ao momento. A associação tinha, no final de 2018, 612.607 associados.