O ex-Presidente da República Cavaco Silva classificou esta quarta-feira a prática de nomeações partidárias para cargos dirigentes da administração pública, conhecida como “jobs for the boys”, como “indecorosa”.
Na apresentação do livro “A Reforma das Finanças Públicas em Portugal”, do porta-voz do Conselho Estratégico Nacional do PSD Joaquim Miranda Sarmento, Cavaco Silva defendeu a transparência nas nomeações para cargos dirigentes da administração pública, dizendo estar apenas a recuperar o que já escreveu em 2017 no livro “Quinta-feira e outros dias”. “Como se tem vindo a e verificar, a prática de ‘jobs for the boys’ é muito negativa para o país e para os portugueses. No livro que escrevi em 2017, classifiquei as situações deste tipo como indecorosas”, realçou.
A este propósito, Cavaco Silva defendeu ser fundamental que a CRESAP (Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública) “volte a ser respeitada como entidade independente”. “É fundamental combater a tentação do poder político de a controlar”, apelou.
O antigo primeiro-ministro defendeu ainda uma melhor remuneração dos dirigentes da administração pública, “muito inferior ao setor privado”, ao contrário do que acontece nas funções menos qualificadas. “O atual leque salarial da função pública, que no passado se apelidava de albanês, é bem reflexo da hipocrisia e cobardia de boa parte da classe política portuguesa”, referiu.
Cavaco Silva considerou ainda que, “se houvesse a racionalidade e espírito de compromisso que ultrapassasse ciclos eleitorais”, a reforma das finanças públicas seria “tema de debate na próxima legislatura” e defendeu que o saldo orçamental equilibrado já nem deveria ser assunto de discussão. “No curto prazo esse consenso político entre as principais forças partidárias encontra-se afastado dado o elevado nível de crispação reinante”, considerou.
Além da crispação política, Cavaco Silva considerou que existe no país “uma crispação social palpável nas greves e no descontentamento de tantos setores”. “O saldo das contas públicas tal como o das contas externas não é objeto da política económica em si próprio (…) Não faz qualquer sentido que o saldo das contas públicas continue a ser um tema dominante da política orçamental portuguesa”, referiu.
Na apresentação do livro de Joaquim Sarmento esteve também o presidente do PSD, Rui Rio, os ex-ministros das Finanças Maria Luís Albuquerque e Eduardo Catroga e da Saúde Paulo Macedo e Leonor Beleza.