João Perna, antigo motorista de José Sócrates e um dos arguidos da Operação Marquês, admite que era Carlos Santos Silva quem, todas as semanas, entregava dinheiro ao primeiro-ministro que, mais tarde, colocava na sua conta. “Eu sabia que o Carlos lhe trazia [o dinheiro] todas as semanas, porque ele não se dirigia a lado nenhum”, contou João Perna ao Correio da Manhã. Além disso, o ex-motorista comentou também os gastos exagerados de Sócrates, bem como as vezes em que emprestava dinheiro a outras pessoas.

Segundo a acusação do caso Marquês, o antigo funcionário de Sócrates recebia cheques ou dinheiro vivo de Carlos Santos Silva e dava-lhes uma de duas utilizações: ou pagava diretamente as despesas de Sócrates e dos seus familiares a partir desses fundos; ou entregava dinheiro vivo ao ex-primeiro-ministro.

Acha que eu ia confrontar o homem a perguntar-lhe: ‘Ó senhor engenheiro, onde é que foi buscar este dinheiro e a que pretexto é que você vai transferir dinheiro para a minha conta?”, questionou João Perna.

João Perna, o homem que levava e trazia o dinheiro. Ou melhor, “os documentos”

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João Perna garante que não era ele quem guardava o dinheiro e que apenas se limitou a cumprir ordens. “Era o primeiro-ministro. Eu ia lá meter em questão alguma coisa? Em três anos com aquele homem, eu chegava de manhã e dizia-lhe bom dia. A resposta era ‘João, traz-me dois cafés'”, referiu o antigo funcionário, que agora procura um novo emprego. E acrescenta: “Nunca meti em causa que aquela pessoa estivesse a mandar-me cometer algum crime. Fui arrastado nesta situação”.

Motorista de José Sócrates desde 2011, João Perna conta como uma das suas tarefas era pagar as contas do patrão, contando ainda que o antigo primeiro-ministro “rebentava com o dinheiro todo com a vida que tinha. E emprestava também muito dinheiro”. O antigo motorista recorda que quando dizia a Sócrates que precisava de dinheiro para pagar as despesas “do tabaco e dos jornais no quiosque”, este dizia-lhe que não tinha e, mais tarde, Carlos Santos Silva chegava, “ia lá acima” e quando saía, Sócrates chamava o funcionário. “João, vai lá pagar a despesa”, dizia-lhe.

João Perna. O que o motorista dos “recados” de Sócrates disse nos dois interrogatórios