A morte de Rui Lucas nos ataques no Sri Lanka, este domingo, fez aumentar o número de portugueses vítimas de atentados terroristas. Desde 2001, já morreram pelo menos 15 pessoas de nacionalidade portuguesa, em avenidas, hotéis, discotecas ou salas de espetáculo que foram palcos de atentados terroristas, em vários sítios do mundo: Barcelona, Burkina Faso, Tunísia, Paris, Marrocos, Bali ou Nova Iorque. O ataque às torres gémeas, a 11 de setembro de 2001, foi aquele em que morreram mais portugueses num só atentado.
Maria da Glória Moreira, de 76 anos, é a vítima mais velha de uma lista de 15 portugueses. Morreu depois de um estudante universitário de 23 anos ter disparado vários tiros de metralhadora sobre turistas estrangeiros, que apanhavam banhos de sol na praia, na Tunísia. A vítima mais nova da mesma lista tinha 20 anos quando morreu — morreu ao lado da sua avó a caminhar nas Ramblas, em Barcelona, em agosto de 2017, quando foi atropelada por uma carrinha que avançou contra a multidão que ali se encontrava. Avó e neta eram, até agora, as vítimas portuguesas mais recentes de atentados terroristas.
Este domingo, Rui Lucas tornou-se a última vítima mortal de ataques como estes. O jovem de 30 anos e a mulher estavam de lua-de-mel no Sri Lanka e tinham casado há uma semana. O casal estava hospedado no Hotel Kingsbury, em Colombo, um dos hotéis que foi alvo de ataques bombistas. Era natural de Viseu e técnico de automação e energia na empresa T&T multielétrica. O dono da empresa, Augusto Teixeira, recorda o empregado, em declarações ao Observador, como uma “pessoa extremamente dedicada, disponível a 100% para a empresa e para quaisquer projetos que se envolvesse e com valores humanos que são difíceis de encontrar nas pessoas“.
2017. Avó e neta “colhidas” no “acidente trágico”, em Barcelona
Avó e neta tinham acabado de chegar a Barcelona e faziam um passeio nas Ramblas, uma avenida no centro da cidade muito frequentada por turistas, no momento em que um homem avançou com uma carrinha contra a multidão que ali se encontrava. A 18 de agosto, um dia depois do atentado entretanto reivindicado pelo Estado Islâmico, o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas confirmava que uma mulher portuguesa, nascida em 1943, tinha morrido no atentado.
José Luís Carneiro adiantava ainda que “outra pessoa”, de 20 anos, que acompanhava a mulher de 74, estava “desaparecida”. Foram feitas visitas às unidades hospitalares para verificar se esta jovem estava entre os feridos. Mas não estava. “Confirmou-se o pior cenário”, disse o Secretário de Estado. Naturais de Sintra, avó e neta estavam entre as 16 vítimas mortais do atentado terrorista naquela cidade catalã.
“Esta jovem esteve de férias com o pai e vinha cá [a Barcelona] com a avó, que era a sua confidente, passar oito dias. Chegaram, instalaram-se, contactaram com a família e foram dar um pequeno passeio. E foram colhidas neste acidente trágico“, disse, na altura, José Luís Carneiro, secretário de Estado das Comunidades.
Avó e neta eram de Sintra e tinham acabado de chegar a Barcelona
2016. Trabalhador de empresa de transportes morreu em ataque num hotel no Burkina Faso
António Basto, natural de Massarelos, no Porto, vivia em França, mas estava na capital do Burkina Faso, ao serviço de uma empresa privada francesa de transportes. Encontrava-se no Hotel Splendid no noite de 15 de janeiro de 2016, quando vários homens armados e de turbante entraram a disparar no edifício, provocando a morte de 29 pessoas.
António Basto tinha 51 anos, era casado com uma francesa e pai de três filhos, com idades entre os 31 e seis anos. Junto a António Basto morreram também dois colegas seus franceses. Havia ainda um outro português no interior do hotel, um consultor da União Europeia, que saiu ileso — embora, na altura, se tenha chegada a avançar com a informação de que teria morrido.
2015. A viagem à Tunísia de Maria da Glória e as vítimas dos atentados em Paris
Era a primeira viagem que fazia sozinha depois de ter ficado viúva. O destino era Sousse, na Tunísia, onde tinha passado tantas vezes férias com o marido. Maria da Glória Moreira, de 76 anos, foi uma das 38 vítimas mortais de um ataque terrorista numa estância turística em Sousse, a 26 de junho de 2015, reivindicado pelo autoproclamado Estado Islâmico.
“Estava reformada, vivia na zona do Porto e viajou sozinha para a Tunísia”, disse o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, da altura, José Cesário. Era a única portuguesa hospedada no hotel Riu Imperial Marhaba. Falava com os familiares diariamente e chegou a partilhar com eles que estava a fazer amigos no hotel. Ao quinto dia de férias e depois de se saber que o tiroteio tinha acontecido, a família tentou contactá-la — sem sucesso. A professora reformada, Maria da Glória, morreu depois de um estudante universitário de 23 anos ter disparado vários tiros de metralhadora sobre turistas estrangeiros, que apanhavam banhos de sol na praia.
Nos atentados de Paris — que marcaram o início de uma série de atentados na Europa —, em novembro desse mesmo ano, estavam três portugueses entre os mais de 130 mortos: Manuel Colaço Dias, de 63 anos, Précilia Correia, de 35, e Christine Gonçalves, de 50.
Natural do Alentejo, de Mértola, Manuel era taxista e vivia em França há mais de 30 anos com a mulher de nacionalidade francesa e os dois filhos. Tinha acabado de deixar três clientes no Stade de France, para assistir ao jogo entre a França e a Alemanha. O estádio foi um dos locais escolhidos para o ataque e Manuel acabou por morreu numa das explosões.
Précilia Jessy Correia, de 35 anos, era filha de pai português, da zona do Montijo, e de mãe francesa. Trabalhava numa loja da Fnac, na capital francesa. Assistia a um concerto de uma das suas bandas favoritas, Eagles of Death Metal, no Bataclan, quando vários terroristas entraram a disparar naquela sala de espetáculos. O namorado de nacionalidade francesa que estava com ela a assistir ao concerto também acabou por morrer.
No Bataclan estava também a portuguesa Christine Gonçalves, de 50 anos, que acabou por morrer. A mulher esteve dada como desaparecida, durante alguns dias, mas Hermano Sanches Ruivo, vereador na câmara de Paris, viria mais tarde a confirmar a sua morte.
As 130 vítimas dos atentados Paris já estão todas identificadas. Estas são as suas histórias
2011. André morreu na sequência de uma explosão num café em Marrocos
Era a segunda vez que ia a Marrocos. 28 de abril de 2011: André Silva estava na esplanada do café Argana, em Marraquexe, com a namorada e outro casal, quando ocorreu uma explosão. O jovem português de 23 anos e o outro rapaz do grupo tiveram morte imediata.
Filho de um casal de emigrantes portugueses na Suíça, André estudava e ajudava o pai na carpintaria. Tinha ido passar férias àquele país e tinha previsto uma viagem a Portugal para ser padrinho de casamento de um primo, contou a sua avó ao Correio da Manhã, na altura. “O casamento é no sábado e o André estava previsto chegar na quarta-feira. Infelizmente já não está entre nós”, disse.
“Eu nem queria acreditar, mas no domingo uma amiga que está na Suíça disse-me que o meu neto tinha morrido. É uma tragédia muito grande“, acrescentou ainda a avó, Ester Silva. Soube através das notícias que o seu neto era uma das 17 pessoas que morreram no atentado à bomba, naquele café em Marraquexe.
2002. Diogo morreu numa discoteca em Bali, após uma explosão
Diogo Ribeirinho consta da lista das 202 vítimas mortais daquele que é considerado o ataque terrorista mais mortífero da Indonésia. O soldado paraquedista — que fazia parte do contingente português em Timor-Leste — morreu ao final do dia 12 de outubro de 2002, num atentado à bomba, em Bali. Diogo encontrava-se na discoteca Sari no momento do ataque — um dos dois locais onde explodiram bombas, naquela noite, sendo o segundo o bar Paddy’s em Kuta. Tinha 20 anos.
2001. Os cinco portugueses que morreram no 11 de setembro
António Rocha, Carlos da Costa, João Aguiar, Manuel da Mota e António Carrusca Rodrigues morreram nos atentados de 11 de setembro, nos Estados Unidos — dois deles estavam no interior das torres gémeas que foram atingida e chegaram a conseguir ligar às companheiras antes de morrer.
João Aguiar Costa “era há duas semanas vice-presidente da empresa de corretagem e gestão de património onde trabalhava, que funcionava no 87.º andar da torre sul”, segundo a agência Lusa. Tinha 30 anos. Quando o avião chocou contra a torre norte do World Trade Center telefonou à namorada e fugiu. Voltou para trás para ajudar os trabalhadores de uma outra empresa daquele andar. O segundo avião chocou contra aquela torre naquele momento.
Também António Augusto Tomé Rocha se encontrava no World Trade Center, mas na torre norte — a primeira a ser atingida. Com 34 anos à data, trabalhava na empresa Cantor Fitzgerald Securities, que ocupava os pisos 101, 103, 104 e 105. Também ele ligou para a sua mulher, Marilyn, assim que o avião chocou. “Um avião bateu contra o World Trade Center, há fogo, muito fumo, mas não te assustes…”, escreveu a agência Lusa. A chamada acabou por cair.
Carlos da Costa, de 41 anos, e António José Carrusca Rodrigues, de 36, trabalham ambos na autoridade marítima de Nova Iorque. Morreram a tentar ajudar outras pessoas a sair do local, em zonas diferentes. Carlos foi visto a tentar retirar uma pessoas que tinha ficado presas dentro do elevador e o seu corpo foi encontrado mais tarde. António estava a abandonar o local no momento em que a torre desabou.
Manuel da Mota, de 43 anos, dirigiu-se para o World Trade Center para uma reunião de trabalho. Estava a trabalhar na instalação de um novo restaurante no topo da Torre Norte. De acordo com as declarações de um colega de trabalho à Lusa, na altura, o avião chocou com aquela torre, dois minutos depois de Manuel ter chegado.