A residência artística do escritor norte-americano Michael Cunningham em Cascais, durante as próximas semanas, foi uma das três grandes novidades culturais anunciadas à imprensa nesta quinta-feira de manhã pela Fundação D. Luís I. As outras novidades foram uma exposição de fotógrafos emblemáticos do século XX, como Man Ray, Robert Doisneau, Alfred Stieglitz ou Henry Cartier-Bresson, e na qual estão incluídas obras nunca antes exibidas em Portugal, e ainda “Paula Rego: Looking In”, exposição de toda a obra gráfica da artista portuguesa, assim reunida pela primeira vez.
As iniciativas acontecerão nos próximos meses em Cascais e integram o programa da Fundação D. Luís I, entidade tutelada pela Câmara de Cascais e que tem sido comparada ao ali inexistente pelouro municipal da cultura.
A estância de Michael Cunningham iniciou-se por estes dias e prolonga-se até ao fim de junho, como parte do Programa de Residências Internacionais de Escrita Fundação D. Luís I, em vigor desde outubro do ano passado, com comissariado da escritora e jornalista Filipa Melo. A iniciativa levará a Cascais, até 2020, cinco autores de “valor e prestígio reconhecidos internacionalmente”, descreve a organização. O primeiro foi o romancista francês Olivier Rolin (entre outubro e dezembro de 2018). Depois de Cunningham, seguir-se-ão o britânico Jonathan Coe (outubro a dezembro deste ano), o espanhol Javier Cercas (abril a junho de 2020) e o cabo-verdiano Germano Almeida (outubro a dezembro de 2020).
Os nomes para as residências são escolhidos exclusivamente por convite, sendo este “orientado pela diversidade de origem dos escritores e pela sua dimensão internacional de reconhecimento”. Os autores ficam hospedados no Hotel Pestana e durante a estada dedicam-se à escrita e à participação em iniciativas de divulgação do seu trabalho e de intercâmbio com portugueses.
Cunningham, de 66 anos, é autor dos romances Sangue do Meu Sangue e As Horas (este último, adaptado ao cinema por Stephen Daldry, com Meryl Streep, Nicole Kidman e Julianne Moore nos papéis principais). É conhecido pela escrita de temática “queer” e já visitou Portugal algumas vezes. O seu mais recente livro a ser traduzido ente nós foi Um Cisne Selvagem e Outros Contos, em 2015. No domingo, dia 12, participará numa entrevista ao vivo no festival Literatura em Viagem (LeV), em Matosinhos, e também no âmbito desta residência irá dar uma aula em data e local a anunciar.
Quanto à exposição de fotografia, intitula-se “Instantes Decisivos”. É inaugurada já nesta quinta-feira, no Centro Cultural de Cascais, onde se mantém até 14 de julho, com comissariado da curadora independente María Toral. Baseia-se na Coleção Himalaya, do empresário espanhol do setor do turismo Julián Castilla Gigante, e mostra 80 obras de grandes nomes da fotografia, constituindo “um verdadeiro itinerário pelo século XX, desde 1930 a 1960”, lê-se na folha de sala. Poderão ser vistas obras como “O Violino de Ingres”, de Man Ray, e imagens captadas por Carlos Saura, Alberto Korda, Robert Capa, Cartier-Bresson, Robert Doisneau e, entre outros, Alfred Stieglitz (1864-1946), o primeiro fotógrafo a ter as suas fotografias expostas num museu.
Finalmente, a exposição no museu Casa das Histórias — Paula Rego, que, tal como o Centro Cultural de Cascais, funciona na dependência da Fundação D. Luís I: “Looking In”, de 11 de julho a 17 novembro.
“Esta exposição reúne uma significativa parte da obra gráfica da artista, alguns desenhos preparatórios concebidos para a execução das gravuras, as chapas de zinco em que o processo de gravação decorreu e inclui os seus trabalhos de gravura mais recentes e menos conhecidos”, escreve a curadora, Catarina Alfaro, na folha de sala.
Segundo a mesma responsável, Paula Rego realizou gravuras entre 1952 e 1956, enquanto estudante da Slade School of Fine Art, em Londres, mas só a partir do fim dos anos 80 se dedicou consistentemente a esta prática. A obra agora reunida, num total de 182 peças, inclui doações da artista, através do filho, Nick Willing, à Câmara de Cascais.
Entretanto, a exposição “Paulo Rego: Anos 80”, que abriu em dezembro e deveria terminar a 26 de maio, teve elevada afluência de público, quase nove mil pessoas até agora, de acordo com a fundação, pelo que será prolongada até 23 de junho.
Além destas novidades principais, a Fundação D. Luís I anunciou, entre outras iniciativas, uma exposição de Antonio López (1943-1987), famoso ilustrador e fotógrafo de moda publicado pela Harper’s Bazaar e pela Vogue e ligado a ícones como Grace Jones e Karl Lagerfeld – de 5 de julho a 12 de outubro, no Centro Cultural de Cascais. E ainda o regresso de uma iniciativa já com alguma tradição na zona, a mostra Artemar, que reúne de 25 de maio a 23 de junho obras de arte no Passeio Marítimo do Estoril. Desta vez, os artistas convidados são os escultores Carlos No, Carlos Menino, Cecília Costa e Teresa Braula Reis, sob o tema “Fronteiras Líquidas” e com curadoria da historiadora de arte e crítica Luísa Soares de Oliveira.