Os rebeldes Houthi começaram este sábado a retirada das suas forças da cidade portuária iemenita de Hodeida, adiantou o grupo, dando cumprimento aos termos do cessar-fogo, mas um alto responsável leal ao Governo acusou-os de montar uma “nova farsa”.

Al-Hassan Taher, governador da província de Hodeida, disse à AFP que nos portos de Hodeida, Salif e Ras Issa os combatentes Houthis fingem uma retirada enquanto transferem a autoridade dessas instalações para as forças de segurança que lhes são favoráveis, o que na prática significa “para eles mesmos”.

De acordo com o governador, os Houthis, apoiados pelo Irão, “recorreram a uma nova farsa transferido para si mesmos os portos de Hodeida, Salif e Ras Issa, sem qualquer acompanhamento das Nações Unidas e do Governo”, que é apoiado militarmente pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos.

A retirada dos beligerantes foi acordada no decurso das conversações em dezembro sob a égide das Nações Unidas, na Suécia.

A “medida unilateral” dos rebeldes “contradiz o acordo (concluído na Suécia) e a ONU e o seu enviado para o Iémen, Martin Griffiths, devem assumir as suas responsabilidades”, disse Taher, que acusou o mediador das Nações Unidas de colaborar com os rebeldes.

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“Martin Griffiths quer reclamar uma vitória, mesmo se os Houthis transferirem a autoridades entre eles. Rejeitamos totalmente isso e o acordo deve ser aplicado na íntegra, nomeadamente no que diz respeito à identidade das forças que vão assumir a posição dos Houthis”, disse.

Um chefe dos rebeldes, Mohammed Ali al-Houthi, já anteriormente tinha anunciado a intenção dos insurgentes de se retirarem a partir de hoje dos três portos iemenitas no Mar Vermelho.

Fontes próximas dos Houthis afirmaram que os rebeldes iniciaram a retirada e entregaram o comando à guarda-costeira, sem adiantarem mais pormenores.

Segundo a Associated Press (AP), o negociador do lado do Governo iemenita, Sadek Dawed, disse receber com agrado “o primeiro passo da primeira fase da retirada” das forças rebeldes, mas apelou à ONU para verificar e acompanhar a saída dos rebeldes.

Apelou ainda à remoção das minas terrestres deixadas pelos Houthis.

O canal de televisão al-Masirah TV, gerido pelos Houthis, tem transmitido que os observadores da ONU têm monitorizado a retirada.

Hodeida é o principal porto internacional de entrada de 70% de importações de ajuda humanitária ao Iémen, onde a guerra civil que dura há quatro anos já matou cerca de 60 mil pessoas e empurrou a maioria do país para a fome.

Quase dois terços dos iemenitas precisam de ajuda humanitária e três milhões estão deslocados. Milhares morreram de malnutrição, doenças que podem ser evitadas e epidemias.

Um cessar-fogo mediado pelas Nações Unidas em Dezembro na Suécia para a retirada mútua de rebeldes e forças governamentais de Hodeida e dos outros dois portos mais pequenos da província.