O presidente dos Estados Unidos declarou na quarta-feira “emergência nacional” e emitiu uma ordem executiva a proibir empresas do país de usarem equipamentos de telecomunicações de empresas estrangeiras consideradas de risco, uma medida que visa nomeadamente a China e a gigante chinesa de telecomunicações Huawei.

A ordem autoriza o Departamento do Comércio a impedir negócios que envolvam tecnologias desenvolvidas por “adversários estrangeiros” que a Casa Branca considera que estão a explorar vulnerabilidades nos serviços e infraestruturas tecnológicas de informação e comunicação dos Estados Unidos para espionagem ou sabotagem.

O decreto presidencial dá 150 dias ao Departamento do Comércio para levar a cabo a medida, estabelecendo as proibições.

Além disso, o Departamento do Comércio colocou a Huawei na “lista negra” dos Estados Unidos, o que poderá impedir as empresas norte-americanas de venderem os seus produtos à gigante chinesa. Na prática, esta decisão exige que as empresas norte-americanas obtenham licença para vender tecnologia crítica à Huawei, o que pode cortar o acesso da chinesa aos semicondutores fabricados nos Estados Unidos e outras peças cruciais para a produção do seu equipamento.

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A ordem executiva assinada pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, declara mesmo uma “emergência nacional” face à ameaças contra as telecomunicações dos EUA, uma decisão que autoriza o Departamento de Comércio a “proibir transações que colocam um risco inaceitável” à segurança nacional.

A Casa Branca e o Departamento de Comércio dos EUA proibiram ainda as empresas dos EUA de usar qualquer equipamento de telecomunicações fabricado pela Huawei.

Colocar a Huawei na lista “negra” teria “efeitos em cascata” em todo o mundo, considerou Samm Sacks, especialista em cibersegurança da unidade de investigação New America, com sede em Washington, citado pelo jornal Financial Times.

“As redes na Europa, África e Ásia que dependem dos equipamentos da Huawei sentirão o impacto, porque a Huawei depende de componentes fornecidos pelos EUA”, disse.

Paul Triolo, especialista em políticas de tecnologia do Eurasia Group, considerou a decisão um “grande passo”, que não prejudicará apenas a empresa chinesa, mas terá também um “impacto” nas cadeias globais de fornecimento, envolvendo as empresas norte-americanas Intel, Microsoft, Oracle ou Qualcomm.

“Os EUA declararam abertamente uma guerra tecnológica contra a China”, afirmou. A Huawei fornece dezenas de operadoras líderes em todo o mundo.

Em dezembro do ano passado, durante a visita a Lisboa do Presidente chinês, Xi Jinping, foi assinado entre a portuguesa Altice e a empresa chinesa um acordo para o desenvolvimento da próxima geração da rede móvel no mercado português.

Washington tem pressionado vários países, incluindo Portugal, a excluírem a Huawei na construção de infraestruturas para redes de quinta geração (5G), a Internet do futuro, acusando a empresa de estar sujeita a cooperar com os serviços de informação chineses.

Austrália, Nova Zelândia e Japão aderiram já aos apelos de Washington e restringiram a participação da Huawei.

A Huawei respondeu às medidas da Casa Branca afirmando que está pronta para trabalhar com o Governo dos EUA visando adotar medidas que garantam a segurança dos seus produtos.

“Restringir a Huawei de fazer negócios nos EUA não tornará os EUA mais seguros ou mais fortes; limitará apenas os EUA a alternativas inferiores, mas mais caras, atrasando os EUA na implementação do 5G e, eventualmente, prejudicando os interesses das empresas e consumidores norte-americanos”, afirmou em empresa, em comunicado.

Pequim e Washington travam, desde o verão passado, uma guerra comercial, que se agravou na última semana, com os governos das duas maiores economias do mundo a imporem taxas alfandegárias adicionais sobre centenas de milhares de milhões de dólares das exportações de cada um.

No cerne das disputas está a política de Pequim para o setor tecnológico, que visa transformar as firmas estatais do país em importantes atores globais em setores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros elétricos.

Washington vê aquele plano como uma ameaça ao seu domínio industrial e considera uma violação dos compromissos da China em abrir o seu mercado, nomeadamente ao forçar empresas estrangeiras a transferirem tecnologia e ao atribuir subsídios às empresas domésticas, enquanto as protege da competição externa.