Na viragem para a segunda, e última, semana de campanha, o CDS sobe o tom dos ataques ao Governo. No Montijo, no dia em que se assinalam cinco anos desde a saída “limpa” da troika de Portugal, Assunção Cristas fez um exercício de memória — “porque sabemos que a memória muitas vezes escasseia” — para lembrar, preto no branco, que “houve um governo que levou o país para a bancarrota e, já de joelhos, acabou por assinar com a troika o memorando”. E houve outro governo, depois desse, que “libertou o país da troika”. Foi isto: “Não aceitamos branqueamentos da história”. Já Nuno Melo, embalado pela recente sondagem do ISCTE, divulgada pela SIC/Expresso, aproveitou o discurso da noite para colocar uma meta que é nova no discurso dos centristas: ter mais votos do que o PCP e o BE, numa luta entre “partidos tolerantes”, no caso, o CDS, versus “partidos extremistas”, no caso, o BE e o PCP.

“O que eu desejo no próximo dia 26 de maio, é que o 25 de novembro possa vencer o 11 de março”, disse Nuno Melo, numa referência ao golpe falhado de Spínola que ditou uma guinada à esquerda no processo revolucionário (11 de março) de 1975, e ao movimento militar que pôs fim ao período revolucionário em curso (o 25 de novembro).

É desta forma, no jantar mais aplaudido e com maior mobilização dos últimos dias, que o CDS vira a página da primeira semana de campanha e entra com novo fôlego na reta final até às urnas. Daí que Assunção Cristas tenha estado esta manhã na campanha, e tenha estado novamente à noite a encerrar o dia. Segundo a líder do CDS, que faz questão de não deixar cair em esquecimento o que Portugal viveu há cinco anos, o dia em que a troika saiu de Portugal, depois de muito esforço dos portugueses, foi uma espécie de “dia da restauração da independência financeira”. Passando à frente da parte em que foi o PSD e o CDS que executaram o memorando, indo por vezes, como se dizia, “além da troika”, Cristas simplifica a história no seu ponto de origem — o PS chamou a troika –, e no seu ponto de saída — o CDS libertou da troika (o PSD não entra na equação).

“Agora, vale a pena dizer aos que nos acusavam de ir para lá da troika que hoje pode não haver troika, mas há austeridade, e as esquerdas unidas funcionam como a nova troika“, disse, sintetizando a austeridade da nova troika das esquerdas em dois ganchos fundamentais: carga fiscal máxima e investimento público (e serviços públicos) mínimos. “Este é o governo das esquerdas unidas, da troika à portuguesa, que mesmo depois de nos termos livrado da troika, continua a querer governar entre nós”, disse ainda.

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Feito o ataque ao governo, é hora de virar a página e falar de alternativas. “Vamos começar a segunda e última semana de campanha cheios de força”, prometeu Assunção Cristas entre fortes aplausos dos militantes centristas que estiveram esta noite no Montijo, distrito de Setúbal que é encabeçado por Nuno Magalhães.

Extremismo vs. tolerância. “O que eu desejo no próximo dia 26 de maio, é que o 25 de novembro possa vencer o 11 de março”

No dia em que se conhece mais uma sondagem feita pelo ICS e pelo ISCTE para o Expresso e para a SIC, que dá 36% para o PS, 28% para o PSD e que põe o CDS e a CDU (PCP/Verdes) na mesma casa dos 8%, estando o Bloco ligeiramente à frente, com 9%, Nuno Melo ensaiou uma nova meta eleitoral: ficar à frente dos partidos da “esquerda radical”.

A luta, diz, é entre um partido da democracia e dois partidos que defendem a ditadura: entre a tolerância e o extremismo. “Devemos desconfiar dos partidos radicais, sejam de extrema-direita ou de extrema-esquerda, e os partidos tolerantes devem vencer ao extremismo”, disse o candidato do CDS — o mesmo que afirmou que o Vox espanhol não era um partido de extrema-direita.

“Na luta contra os extremismos, é crucial que um partido de direita, tolerante, como o CDS fique à frente, tenha mais votos, do que qualquer partido da extrema-esquerda, do Bloco ao PCP”, disse Nuno Melo, fazendo a sala irromper em aplausos. De tal forma, que repetiria novamente a mesma ideia: “Portugal tem de mostrar que consegue dar um melhor resultado a um partido fundador da democracia, como o CDS, do que a partidos que defendem no Parlamento Europeu e no Parlamento nacional, ditaduras como a ditadura coreana ou venezuelana”.

Ou seja, e resumiu, o que Nuno Melo deseja é que no próximo dia 26 de maio, o “25 de novembro vença ao 11 de março”. É um apelo ao voto à direita democrática.