A líder da Câmara dos Comuns, equivalente a ministra dos Assuntos Parlamentares, Andrea Leadsom, demitiu-se do governo britânico, dizendo que já não acredita que a estratégia do executivo de Theresa May vai resultar no Brexit. A demissão de Leadsom surge na sequência de fortes criticas dos deputados conservadores sobre o plano de May para o Brexit.
Vários ministros do governo de May afirmaram à BBC que a primeiro-ministra já não tem condições para ficar. “É o fim da linha”, disseram à cadeia britânica.
Leadsom tinha sido candidata à liderança dos Tories mas afastou-se da corrida, abrindo caminho a May como líder do executivo. A demissão da líder da Câmara dos Comuns é a 36.ª de um ministro sob a liderança de Theresa May – 21 dos quais por causa do Brexit – e surge um dia antes de o Reino Unido votar nas eleições europeias.
It is with great regret and a heavy heart that I have decided to resign from the Government. pic.twitter.com/f2SOXkaqmH
— Andrea Leadsom MP (@andrealeadsom) May 22, 2019
A saída de Leadsom também surge no mesmo dia em que a primeira-ministra disse que apresentaria uma nova proposta de saída da União Europeia, para a qual ela espera finalmente conseguir aprovação do Parlamento.
Este acordo inclui a possibilidade de o documento ser colocado a votação num segundo referendo, deixando essa decisão para os deputados da Câmara dos Comuns.
“Reconheço o forte e genuíno sentimento em toda a Câmara dos Representantes sobre esta matéria. O Governo irá, por isso, incluir na proposta de lei do acordo de saída uma exigência para que seja votada a possibilidade de um segundo referendo. Isto deve acontecer antes de o próprio acordo ser ratificado”, disse Theresa May esta tarde.
No discurso desta tarde, a primeira-ministra sublinhou que não concorda com a realização de um segundo referendo, mas está disposta a ceder nesse aspeto para que os deputados façam a sua escolha. “Para aqueles deputados que querem um segundo referendo confirmatório sobre este acordo: vocês precisam de um acordo e, portanto, deste acordo de saída para que ele aconteça”, referiu a primeira-ministra.
Leadsom enumerou as quatro razões que levaram à sua demissão
Numa carta enviada esta quarta-feira a Theresa May, Andrea Leadsom defende as razões pelas quais decidiu deixar o governo.
“Não acredito que continuemos a ser um Reino Unido totalmente soberano com o acordo proposto”, começa por dizer. Continua, lembrando que sempre alertou para os “perigos divisórios” que um segundo referendo traria. “Não apoio a facilidade com que o governo concedeu este acordo”, explica, referindo ainda que o segundo referendo contribuirá para prejudicar e não fortalecer a União Europeia.
Andrea Leadsom oferece ainda mais duas razões. Fala num “esgotamento do governo”. Este esgotamento, defende a ministra, contribuiu para a falta de escrutínio de leis e propostas relacionadas com o Brexit e falta de aprovação adequada dos deputados. Por último, Leadsom refere ainda que a oposição entre os deputados dentro do executivo contribuiu para esse mesmo “esgotamento”.
A agora ex-líder da Câmara dos Comuns termina a sua carta apelando a May para que tome as “decisões certas para o interesse do país, do governo e do partido conservador”.
Downing Street já reagiu à demissão
O governo britânico respondeu à demissão da ministra através de um comunicado.
“Andrea Leadsom serviu o governo com distinção e louvor e a primeira-ministra está grata por todo o seu trabalho. Estamos tristes por (Leadsom) ter optado por se demitir”, refere o comunicado, emitido esta quarta-feira por um porta-voz do número 10 de Downing Street, a residência oficial da primeira-ministra May.
A mesma fonte refere que Theresa May “continua focada em conseguir o Brexit que as pessoas votaram”.