A imagem capturada por Nirmal Purja na semana passada é já um símbolo daquilo em que o Evereste se tornou: antes um pico alcançável apenas pelos melhores alpinistas, a montanha mais alta do mundo é hoje uma atração turística onde já há engarrafamentos para chegar ao topo. O Nepal não tem nenhuma limitação ao número de licenças de escalada que emite anualmente e a quantidade de alpinistas cresce a cada temporada. Este ano, a espera nas filas foi mesmo uma das principais causas de morte dos alpinistas, numa temporada que acabou com o maior número de mortes desde 2015.

O alpinista nepalês estava no Evereste na semana passada quando teve de ser uma espécie de polícia sinaleiro para gerir as mais de 200 pessoas que se acumulavam no íngreme acesso ao pico da montanha. Nirmal Purja já tinha subido ao topo do Evereste e deparou-se com a fila quando descia.

“De repente, fiquei parado, sem poder mexer-me. Havia mais de 200 pessoas a tentar subir. Olhei à volta e tirei a fotografia. Tirei as luvas. Tinha as mãos geladas e os dedos dormentes, mas queria fazer a fotografia como prova do que se passava. Claro que estava preocupado quando vi esta fila gigantesca. O vento era de uns 35 km/h. Se tivesse sido cinco quilómetros a mais, tinha havido mais mortos nesse dia”, explicou Nirmal Purja ao jornal espanhol El País.

Naquele dia, morreram três alpinistas a tentar escalar o Evereste — dois indianos e um austríaco. A temporada de subidas à montanha (um curto período entre abril e maio em que as condições climatéricas o permitem) terminaria com 11 mortos.

Naquele espaço apertado, é impossível que se formem duas filas (uma para subir e outra para descer), o que levou a um enorme engarrafamento em pleno topo do Evereste. Perante a situação, Nirmal Purja interveio: “Fiquei ali como se fosse um polícia de trânsito. Estive a orientar aquele engarrafamento humano durante uma hora e meia. Toda a gente queria subir e toda a gente queria descer. O que fiz foi parar e controlar o trânsito, mandava gente para baixo e para cima continuamente”.

Purja faz parte do Project Possible 14/7, que tem como objetivo escalar as 14 montanhas com mais de 8 mil metros de altitude em sete meses. Já subiu, desde abril, seis picos: Annapurna, Dhaulagiri, Kanchenjunga, Makalu, Everest e Lhotse. Sabe do que fala. “Creio que a montanha é para todos. Se as pessoas querem subir o Evereste, têm direito. Há muitas rotas diferentes pelas quais se pode subir. Simplesmente, é preciso saber gerir bem essa quantidade de gente”, considerou o nepalês que foi soldado da Marinha Real Britânica, condecorado em 2018 com a Ordem do Império por Isabel II e combateu ao lado dos gurkhas.

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