O Vaticano publicou esta segunda-feira um documento oficial no qual abre a porta à possibilidade de homens casados serem ordenados padres para assegurar o acompanhamento religioso das comunidades católicas na Amazónia. Trata-se de um Instrumentum laboris [instrumento de trabalho] para o próximo Sínodo dos Bispos, assembleia que decorre em outubro e que se debruça, este ano, sobre os problemas do Cristianismo na Amazónia, particularmente entre os povos indígenas.

O documento foi publicado esta segunda-feira pela secretaria-geral do Sínodo dos Bispos com o objetivo de dar aos participantes desta reunião magna da hierarquia católica linhas orientadoras e sugestões de atuação nesta matéria. Entre as sugestões apresentadas no documento estão várias ideias sobre como “responder de modo mais eficaz às necessidades dos povos amazónicos”, que vivem numa região onde faltam pessoas do clero para celebrar os sacramentos com os muitos cristãos que ali vivem.

O objetivo deve ser evangelizar aquela região “a partir da perspetiva indígena, segundo os seus usos e costumes”. Para isso, continua o documento, são necessários “indígenas que preguem a indígenas, a partir de um profundo conhecimento da sua cultura e da sua língua, capazes de comunicar a mensagem do evangelho com a força e a eficácia de quem tem a sua bagagem cultural”.

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“Afirmando que o celibato é um dom para a Igreja, pede-se que, para as zonas mais remotas da região, se estude a possibilidade da ordenação sacerdotal para pessoas mais velhas, preferencialmente indígenas, respeitadas e aceites pela sua comunidade, ainda que já tenham uma família constituída e estável, com a finalidade de assegurar os Sacramentos que acompanham e sustentam a vida cristã”, lê-se no documento.

Outra sugestão apresentada aos bispos da região da Amazónia é que identifiquem “o tipo de ministério que pode ser conferido à mulher, tendo em conta o papel central que hoje desempenham na Igreja amazónica”. “No campo eclesial, a presença feminina nas comunidades não é sempre valorizada. Reclama-se o conhecimento das mulheres a partir dos seus carismas e talentos. Eles pedem para recuperar o espaço dado por Jesus às mulheres, onde todos-todas cabemos”, continua o documento.

O texto que estará em cima da mesa na reunião do Sínodo em outubro vai mais longe e propõe, em concreto, “que as mulheres tenham garantida a sua liderança, assim como espaços cada vez mais amplos e relevantes na área formativa: teologia, catequese, liturgia e escolas de fé e política”.

“Também se pede que se escute a voz das mulheres, que sejam consultadas e participem nas tomadas de decisão, e possam assim contribuir com a sua sensibilidade para a sinodalidade eclesial”, acrescenta o texto, que pede ainda “que a Igreja acolha cada vez mais o estilo feminino de atuar e de compreender os acontecimentos”.

Se o Sínodo vier a incluir a possibilidade de ordenar padres casados e o Papa Francisco aprovar essa alteração, esta será apenas uma situação de exceção que não deverá mudar a doutrina católica — que continuará a exigir o celibato dos padres e a proibir que os padres se casem.

Em 2017, numa entrevista ao jornal alemão Die Zeit, o Papa Francisco já tinha mostrado abertura à possibilidade da ordenação dos chamados viri probati, ou seja, homens casados mais velhos respeitados nas comunidades cristãs que pudessem ser ordenados padres e colaborar nas celebrações, para reduzir o impacto da falta de padres na Igreja Católica.