A China continua a executar prisioneiros para a colheita de órgãos, de acordo com o The Guardian, que cita as conclusões de um tribunal independente de Londres. Entre as vítimas estão seguidores do movimento religioso Falun Gong, perseguidos desde 1999, revelou Geoffrey Nice QC, líder do mesmo tribunal.

“A conclusão mostra que muitas pessoas morreram indescritivelmente sem qualquer motivo, que mais podem sofrer de forma semelhante e que todos nós vivemos num planeta onde a extrema maldade pode ser encontrada no poder daqueles, por enquanto, administram um país com uma das civilizações mais antigas conhecidas pelo Homem moderno”, referiu o responsável.

A perseguição ao movimento Falun Gong começou em 1999, depois de o grupo ter angariado milhões de seguidores e de ser visto como uma ameaça ao partido comunista. Em 2014, o Governo chinês garantiu que a colheita de órgãos para transplante de prisioneiros chegaria ao fim. Mas, segundo Geoffrey Nice QC, “não há provas de que a prática tenha acabado”. Para estas conclusões, o tribunal baseia-se em relatos de especialistas médicos e investigadores em direitos humanos.

Myanmar e China não impedem tráfico de mulheres e meninas, denuncia HRW

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na China, o tempo de espera para um transplante é baixo (de apenas algumas semanas), segundo o tribunal. Uma ativista do movimento, que esteve num campo de trabalho para mulheres, explicou que os prisioneiros são submetidos repetidamente a exames e análises clínicas e questionados sobre doenças. “No dia em que fomos transferidos para o campo de trabalho, fomos levados para um centro médico onde fizemos check-ups físicos. Fomos interrogados sobre as doenças que tivemos e eu disse-lhes que tinha hepatite”, explicou.

A ativista acrescentou que os detidos não podiam trocar informações de contactos entre si. “Quando alguém desaparecia do campo, eu pensava que tinha sido libertado. (…) Agora temo que tenham sido levados para o hospital e os seus órgãos removidos sem consentimento e mortos na sequência do processo.”

Ao The Guardian, a embaixada chinesa garantiu que as acusações não passam de “rumores” e que a “21 de março de 2007, o conselho estadual chinês promulgou o regulamento sobre o transplante de órgãos humanos, que obriga que doação de órgãos humanos seja feita de forma voluntária e gratuita”.

As estimativas do tribunal independente dão conta de 90 mil operações de transplante por ano, um número muito superior ao revelado por fontes oficiais do governo da China, segundo o qual o país respeita os padrões internacionais.

O tribunal teve acesso a depoimentos de transplantes que remontam a 1970. A maioria das provas, porém, datam dos anos 2000.