Cientistas de vários países que estudam a Antártida querem enviar, no final de uma reunião internacional que começou esta segunda-feira em Coimbra, uma “mensagem muito forte” aos líderes políticos para uma reação imediata global às alterações climáticas.

“Temos de fazer alguma coisa nestes dez anos, mas tem de ser de imediato”, disse à agência Lusa José Xavier, docente do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), um dos coordenadores e o único português que integra o programa SCAR AnT-ERA.

Na sequência do encontro, que termina na quinta-feira, os especialistas vão elaborar um documento que será depois publicado.

“Teremos uma mensagem muito forte para a comunidade política”, disse José Xavier, indicando que os cientistas polares estão a analisar os factos e dirão aos dirigentes mundiais “o que está a acontecer” na região da Antártida.

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Nestes quatro dias, os 27 investigadores de 12 países discutem o progresso científico no mais meridional dos continentes – e o segundo menor, com uma superfície de 14 milhões de quilómetros quadrados – face às alterações climáticas ocorridas na última década e ao seu impacto na fauna daquela região do globo.

O papel das alterações climáticas no resto do planeta é cada vez maior. Daí a urgência de nos reunirmos”, adiantou o investigador do Centro de Ciências do Mar e Ambiente (MARE).

No âmbito do programa SCAR AnT-ERA, os académicos “avaliam os grandes desenvolvimentos científicos” neste domínio, procurando perceber em que medida e “quais os seres vivos que se vão adaptar e quais se vãos extinguir” devido às mudanças do clima na Terra. Perante o degelo na Antártida, “temos de agir na próxima década, temos dez anos para ir a tempo”, alertam, frisando que os efeitos do aquecimento global “estão a acelerar de uma maneira tão grande”.

Os factos científicos apurados pelo programa SCAR AnT-ERA devem pesar nas políticas ambientais e de gestão dos recursos marinhos que vierem a ser adotadas pelos diferentes governos e organizações internacionais.

A comunidade científica prevê que o nível dos oceanos suba em média 27 centímetros em todo o mundo, nos próximos 50 anos, devido ao degelo que ocorre da Antártida. Apesar de alguns impactos serem já irreversíveis, “é ainda possível” travar a subida das águas para apenas cerca de 20 centímetros. Mas os estados “têm de agir de imediato” e aplicar em conjunto as medidas necessárias, defendeu José Xavier.

Além do anfitrião da reunião, intervieram na sessão de abertura, no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (UC), Jorge Canhoto, professor do Departamento de Ciências da Vida, o alemão Julian Gutt, coordenador-chefe do programa internacional, e Enrique Isla, oriundo de Barcelona, Espanha), também coordenador do projeto.