5G é uma sigla que já começou a ser falada devido a muitas notícias que têm surgido ultimamente. A maioria destas não fala da tecnologia, mas é, de facto, ela que vai mudar as nossas vidas; não só no que se refere à nossa vida pessoal, mas também no que diz respeito ao exercício das nossas profissões.
Até agora, a evolução das redes de comunicações móveis tem-se focado no aumento da velocidade de transmissão de dados, mas esta evolução está a sofrer uma grande mudança de direção, passando a englobar também a diminuição no atraso da transmissão da informação e o aumento da capacidade de conectividade de dispositivos.
O aumento da velocidade de transmissão tem sido importante até agora, pois tem permitido que acedamos a informação da Internet mais rapidamente, sendo já possível ver vídeos em tempo real e descarregar ficheiros grandes em alguns segundos. Hoje em dia, conseguimos fazer maravilhas com as velocidades disponíveis da ordem da centena de Mega-bit-por-segundo, e já não aceitamos que a Internet funcione “devagar”. Contudo, esta situação está a mudar.
Por um lado, prevê-se o surgimento de novos serviços que necessitam de velocidades de transmissão superiores às atuais, como, por exemplo, realidade aumentada (adicionar informação à visão que se tem de algo), realidade virtual (modificar a informação da visão que se tem de algo), vídeos de muito alta definição (designados por 4K e 8K) e a transmissão de hologramas (sim, já foram feitas várias demonstrações de conversas telefónicas com hologramas de pessoas). Para estes exemplos, é necessário o aumento da velocidade de transmissão para o nível oferecido pela 5G. Mas, por outro lado, quando conseguirmos descarregar a informação “instantaneamente”, ou seja, a uma velocidade tão grande que a grande maioria da informação (desde os portais da internet até vídeos de alguns minutos) se descarrega em menos de cerca de 100 milissegundos, teremos a perceção de instantaneidade. Isso significa que, a partir daí, não será necessário continuar a aumentar a velocidade de transmissão com o mesmo ritmo de desenvolvimento.
A diminuição no atraso da transmissão da informação surge, assim, como o próximo passo na evolução das redes. Este atraso é o tempo que a informação demora a ser transmitida e a reação a essa informação ser transmitida de volta para nós, independentemente da velocidade de transmissão. Os exemplos de serviços vão, para o utilizador comum, de jogos interativos através da Internet até veículos sem condutor, adicionando-se os profissionais, que podem ser cirurgia remota (um cirurgião operando através de um robot num hospital a muitos quilómetros de distância) ou gestão de equipamentos industriais (robots interagindo entre si). Nestes casos, o atraso na transmissão de informação tem que ser inferior a um milissegundo. Este é outro objetivo que se pretende atingir com 5G.
A conjunção de velocidades de transmissão muito elevadas e de atrasos na transmissão muito baixos vai permitir a transmissão de informação, e a reação a esta, de modo “instantâneo”. Ou seja, o ser humano deixa de ter a perceção de atraso, e isso vai abrir um mundo totalmente novo nos serviços que nos vão ser disponibilizados. E este novo mundo é precisamente o dos serviços ao dispor de e prestados por empresas, nomeadamente o da comunicação e interação entre dispositivos e máquinas.
O aumento da capacidade de conectividade de dispositivos à rede vem precisamente responder a esta última questão. Presentemente, muitos de nós já temos pessoalmente mais de um “cartão SIM” (leia-se, um número de telefone), não só por se ter mais de um telemóvel, mas também por termos um tablet e até um PC com comunicações via redes de comunicações móveis (a média em Portugal é um pouco superior a 1,5 cartões SIM por pessoa). Imagine agora que muito do que nos rodeia vai passar a ter um cartão SIM para comunicações, desde o carro (a partir do ano passado, os novos veículos ligeiros de passageiros na União Europeia têm de ter um dispositivo para comunicação em caso de emergência), até sensores na nossa roupa e outros dispositivos que usamos diariamente (relógio, óculos, cinto, sapatos …), englobando sensores e atuadores para sistemas de rega automática em agricultura de precisão, coletes com sensores para pós-operatório, e medidores de eletricidade, água e gás. Percebe-se facilmente que teremos no futuro centenas de cartões SIM por pessoa, ao que a 5G vem também responder.
Para já, não precisa de mudar de telefone, mas dentro de algum tempo deve comprar um novo, conjuntamente com o carro, casacos e sapatos, óculos (graduados ou não) e frigorífico, entre outros, além de ter de se preparar para, profissionalmente, usar técnicas de inteligência artificial para usufruir da análise de dados de todos os sensores e atuadores que o vão rodear.
Este é um artigo de opinião de Luis M. Correia, Professor de Comunicações Móveis, Instituto Superior Técnico