É o mais novo de quatro irmãos, filhos do político conservador Stanley Johnson — de quem herdaram o cabelo — e da artista Charlotte Johnson Wahl. Jo, que um dia o Financial Times apelidou como o “sério Sr. Johnson” — por contraste ao “bombástico” Boris –, foi agora nomeado pelo irmão mais velho para secretário de Estado em duas pastas: Economia e Educação. E vai sentar-se junto a ele no conselho de ministros.
Membro do Partido Conservador, tal como o irmão, ocupar um cargo governativo não será uma total novidade para o benjamim do clã Johnson — já foi secretário de estado das Universidades e, mais tarde, dos Transportes, pasta da qual se demitiu no final do ano passado, alegando “desilusão” com a condução do Brexit pela então primeira-ministra Theresa May.
Embora hoje apoie o irmão na batalha pelo Brexit, Jo Johnson chegou a fazer campanha, ao lado do pai, pela permanência do Reino Unido na União Europeia, em 2016. E, segundo o The New York Times, informou Boris, via e-mail de que não iria apoiá-lo. “Desculpa por não ser útil nesta ocasião”, escreveu ao irmão. Mais tarde — e, novamente, à semelhança do pai — mudou de ideias. E o percurso foi tumultuoso: Jo passou de uma posição totalmente anti-Brexit, para um pró-Brexit relutante e, finalmente, a apoiante acérrimo do irmão.
“Não concordámos sobre o Brexit mas estamos unidos na indignação”
Jo Johnson nasceu em Londres em 1971. Estudou História Moderna em Oxford e frequentou o Institut d’études européennes na Université Libre de Bruxelas. Antes de chegar à política, ainda passou pelo Deutsche Bank e, depois, pelo jornalismo, no Financial Times, onde chegou a ser correspondente em Paris e em Nova Deli e, mais tarde, editor. Entrou na política em 2010, como membro do parlamento a representar a localidade de Orpington, em Londres. Três anos depois, foi convidado pelo então primeiro-ministro David Cameron, para o “Number 10 Policy Unit”, uma espécie de gabinete de aconselhamento em Downing Street sobre questões de políticas públicas.
E foi precisamente pela mão de David Cameron que entrou no governo, em 2014, como secretário de estado no gabinete do primeiro-ministro e, um ano depois, como secretário de estado das Universidades, Ciência, Investigação e Inovação. Na altura, um artigo de jornal dava conta de que “a reputação de Johnson como pró-europeu provavelmente agradará aos vice-chanceleres, muitos dos quais estão preocupados com a promessa dos Tories de realizar um referendo sobre a adesão à UE até 2017″.
[Milhares protestam em Londres contra Boris Johnson:]
Nesse cargo, Johnson ajudou a introduzir uma lei, em 2017, sobre Ensino Superior e Investigação, que o Times Higher Education descreveu como a legislação “mais significativa em 25 anos”: Jo substituiu o Conselho de Financiamento do Ensino Superior da Inglaterra por um novo regulador e estabeleceu mecanismos para responsabilizar mais as universidades pela qualidade do ensino e pelos resultados dos estudantes.
Em 2016, não conseguiu vencer os apoiantes do Brexit no referendo. Por isso, juntou-se a eles — neste caso, a Theresa May, assim que esta chegou ao cargo de primeira-ministra, após a demissão de David Cameron, em 2016.
Em janeiro de 2018, na primeira remodelação governamental de Theresa May, mudou-se para a pasta dos transportes, na qual ficou por 11 meses. A “desilusão” com a forma como May conduzia o Brexit — e o “terrível acordo” que na altura a primeira-ministra propunha — assim como a ambição de realizar novo referendo, motivaram a decisão.
With great regret, I'm resigning from the Government – I have set out my reasons in this article and the video below. https://t.co/hzimcS8uiR pic.twitter.com/hUN9RLzDfq
— Jo Johnson (@JoJohnsonUK) November 9, 2018
“Agora o abismo é tão grande entre o que foi prometido na campanha do referendo e o que está na proposta da primeira-ministra que não tive outra escolha senão submeter a minha demissão”, justificou, acrescentando que seria “totalmente correto voltar a pedir ao povo britânico que confirme a sua decisão de deixar a UE e, se decidirem fazer isso, dar-lhes a última palavra sobre se o vamos fazer com este acordo da primeira-ministra, ou sem ele.” Dizia ainda que o Reino Unido estava “à beira da maior crise desde a Segunda Guerra Mundial”.
Na carta de demissão, Jo acrescentava que “o Brexit dividiu o país (…). Dividiu os partidos políticos. E dividiu famílias também”. Nomeadamente a sua.
Na reação à demissão, Boris Johnson afirmou ter uma “admiração sem limites pelo irmão”. “Podemos não ter concordado sobre o Brexit, mas estamos unidos na indignação com a posição do Reino Unido, intelectualmente e politicamente indefensável.”
Boundless admiration as ever for my brother Jo. We may not have agreed about brexit but we are united in dismay at the intellectually and politically indefensible of the UK position 1/2 https://t.co/QI4tMpLecc
— Boris Johnson (@BorisJohnson) November 9, 2018
Os irmãos pareciam agora juntar forças. E quando Boris anunciou a candidatura à liderança do Partido Conservador, Jo ficou a seu lado. Tanto que se juntou ao irmão numa campanha, em Kent, em Inglaterra, onde vários populares acusaram Boris de ser “maluco”. “É uma pena que o seu irmão não esteja a concorrer“, ouviu-se dizer.
Sobre a nomeação de Boris como primeiro-ministro, Jo já veio dizer que este “é um momento crucial na História do nosso país. Vai proporcionar-nos a liderança e objetivos que precisamos e [Boris] terá com certeza todo o meu apoio”. Até mesmo no conselho de ministros, onde terá assento.