A antecâmara do último jogo de preparação do FC Porto para a temporada 2019/20 não foi propriamente tranquila. A semana que antecedeu a apresentação do plantel aos sócios em pleno Dragão — que é também o último teste antes da primeira partida a contar, contra o Krasnodar na primeira mão da terceira eliminatória de acesso à Liga dos Campeões — começou com uma discussão entre Sérgio Conceição e Danilo Pereira durante o estágio no Algarve, continuou com uma reunião entre treinador, capitão e o presidente Pinto da Costa e culminou em notícias que davam conta de que o internacional português não queria usar a braçadeira no jogo deste sábado, com o Mónaco.

Nos instantes antes do apito inicial, e já depois da habitual cerimónia de apresentação que poucas surpresas trouxe, o FC Porto terminava com todas as dúvidas através de uma aparentemente rotineira publicação nas redes sociais: na hora de divulgar o onze inicial da equipa orientada por Sérgio Conceição, o nome de Danilo não só integrava as opções iniciais como a imagem do jogador era também a escolhida para ilustrar a lista dos titulares. Imagem essa onde Danilo surgia com a braçadeira de capitão que herdou de Herrera, que saiu para o Atl. Madrid — nas entrelinhas, o FC Porto deixava claro que o assunto está sanado, encerrado e teoricamente ultrapassado e que o jogador português seria mesmo o capitão de equipa na apresentação contra o Mónaco.

A apresentação do plantel do FC Porto para a próxima temporada, que conta com 30 jogadores, trouxe principalmente novidades no que toca à numeração das camisolas: Pepe regressa ao 3 depois da saída de Éder Militão e depois de ter sido o 33 na época passada; Marcano escolheu o 5; o jovem Romário Baró ficou com o 8 que era de Brahimi e Tiago Esteves, de apenas 17 anos, herda a histórica número 2 que foi de João Pinto, Jorge Costa e Bruno Alves; os reforços Nakajima, Luis Díaz e Zé Luís são, respetivamente, o 10, o 7 e o 20. A camisola 1 de Iker Casillas, que aceitou um cargo na estrutura azul e branca mas ainda não colocou um ponto final na carreira — pelo menos de forma oficial –, não foi anunciada.

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No reencontro com o Mónaco, adversário na histórica final de Gelsenkirchen em que o FC Porto se sagrou campeão europeu em 2004, Sérgio Conceição dava a titularidade a dois reforços, Marcano e Luis Díaz, e promovia ao onze inicial o jovem Baró. Vaná era o dono da baliza, Manafá, Pepe e Alex Telles completavam a defesa, Danilo, Corona e Sérgio Oliveira eram os escolhidos para o meio-campo e Soares fazia dupla com Díaz na frente de ataque. Quanto aos monegascos de Leonardo Jardim, que na terça-feira já haviam estado na apresentação do Sp. Braga (as duas equipas não foram além de um empate sem golos), atuavam com Gelson Martins e Fàbregas e mudavam quase metade do onze que jogou no Minho.

A primeira parte da partida trouxe um FC Porto mais dominador e apostado em jogar nas zonas mais avançadas do terreno, a mostrar desde logo que a inclusão do avançado colombiano Luis Díaz naquele que parece, à partida, ser o onze preferencial de Sérgio Conceição para a próxima temporada (ainda que Marega só esta semana tenha sido reintegrado depois da CAN), pode mudar a forma como os dragões atacam e penetram nas defesas adversárias. Até aqui, o alto pendor ofensivo de Alex Telles levava o lateral brasileiro a estender o jogo até à linha de fundo para depois tirar cruzamentos para a área à procura de uma concretização; agora, a capacidade de Díaz de jogar diretamente com Telles e criar lances mais embrenhados e que soltam espaços nas costas dos centrais reduz significativamente a quantidade de vezes que o lateral faz todo o corredor para depois cruzar, o que não só reduz o desgaste do brasileiro como também do médio que joga daquele lado e que acaba por ter de fazer dobras a cada subida.

Gelson aproveitou um erro da defesa do FC Porto para inaugurar o marcador ainda dentro da primeira meia-hora

Ainda assim, a primeira grande ocasião de golo do jogo surgiu precisamente de uma arrancada de Alex Telles e um cruzamento do lateral junto à linha de fundo: Romário Baró apareceu em zona frontal a cabecear mas a bola passou ao lado da baliza de Lecomte (12′). O Mónaco estava algo tímido no jogo, com dificuldades em entrar no último terço do FC Porto e causar perigo entre Marcano e Pepe, e só se lançava em tentativas mais arrojadas quando aproveitava os algo frequentes erros dos dragões na hora de sair para o ataque e efetuar as transições ofensivas. Foi assim que surgiu o primeiro golo da partida, numa altura em que o jogo tinha assumido um caráter mais incaracterístico e os monegascos iam tentando levar a cabo alguns lances mais rápidos que deixavam à flor da pele aquelas que ainda são fragilidades da equipa de Conceição: Pepe falhou um passe, os homens mais adiantados do Mónaco lançaram Gelson Martins e o internacional português só precisou de dois toques na bola para bater Vaná (23′).

O FC Porto caiu de rendimento depois do golo, numa curva descendente que começou nos instantes antes do remate de Gelson, e teve alguma dificuldade em voltar a entrar no ritmo competitivo que podia permitir o empate. Pepe esteve perto, com um cabeceamento forte que passou ao lado no seguimento de um cruzamento tenso de Corona, mas a apresentação dos dragões aos sócios foi mesmo para o intervalo com o Mónaco a ganhar no Dragão pela margem mínima. Enquanto destaque, do lado do FC Porto, Romário Baró era o elemento em maior evidência e com o rendimento mais elevado, tanto na enorme entrega e vontade de ficar perto do golo ou oferecê-lo aos colegas como na inequívoca solidariedade defensiva que tapou e corrigiu alguns erros na linha à frente da defesa.

Sérgio Conceição lançou os mesmos onze jogadores para a segunda parte — ou dez, já que Marcano demorou mais a regressar depois de se ter lesionado ainda no primeiro tempo e obrigou o FC Porto a jogar alguns minutos com menos um elemento — e viu Leonardo Jardim trocar apenas Fàbregas por Traoré. As substituições só apareceram já aos 59 minutos e já depois de Romário Baró ter tentado o empate com um remate forte de fora de área que só parou numa defesa algo improvisada do guardião monegasco (54′): saíram Soares, Sérgio Oliveira, Baró e Díaz e entraram Otávio, Nakajima, Zé Luís e Bruno Costa.

Os dragões demonstraram muitas dificuldades em assumir o controlo do jogo, cometendo os erros que já haviam sido recorrentes na primeira parte mas permitindo muito mais espaço ao Mónaco, acabando por passar longos períodos de tempo a defender e no interior do próprio meio-campo. A grande ocasião para empatar a partida surgiu ao passar dos 60 minutos, quando Corona foi derrubado em falta na área monegasca: Alex Telles foi o escolhido para bater a grande penalidade mas o remate a média altura foi parado por Lecomte.

Pepe voltou a ter uma boa oportunidade para empatar, com outro cabeceamento (67′), o jogo mexeu com a nova ronda de substituições promovida por Sérgio Conceição que pôs Fábio Silva dentro de campo (o avançado ainda foi a tempo de acertar na trave) mas o Mónaco já estava, por esta altura, totalmente confortável no papel que havia assumido na partida e não permitiu grandes aventuras por parte dos homens mais adiantados do FC Porto. Numa apresentação em que o resultado não é o mais importante e onde ainda é notória a falta que Herrera faz no miolo da equipa, os principais pontos de destaque dos azuis e brancos foram mesmo Romário Baró e Fábio Silva, os dois miúdos que foram campeões da Europa com os sub-19 do FC Porto na passada primavera e que são a maior injeção de energia e adrenalina que os dragões têm nesta altura. A espaços, foram mesmo a única injeção de energia e adrenalina que passou este sábado pelo Dragão. E mostram cada vez mais que podem ser as peças-chave da renovação obrigatória que Sérgio Conceição terá de empreender.

O FC Porto termina a pré-temporada com duas vitórias, uma derrota e um empate: ganhou ao Fulham (1-0), empatou com o Betis (1-1), bateu o Getafe (2-1) e perdeu agora com o Mónaco (0-1). O primeiro jogo a contar da época 2019/20 é então no próximo dia 7 de agosto, na Rússia com o Krasnodar, já a contar para a primeira mão da terceira eliminatória de acesso à Liga dos Campeões.