Depois dos sindicatos é a vez de os patrões reunirem com o Governo em busca de uma solução que impeça a greve dos motoristas marcada para dia 12. Esta terça-feira, às 9h30 a Antram reúne com o ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos. Mas já fez saber que não cede a “chantagens dos motoristas” apesar de saudar o mecanismo de mediação avançada na segunda-feira pelo Governo na ronda negocial com os sindicatos.

“Saudamos esta decisão do Governo e reconhecemos que o Governo, de facto, tem feito um esforço grande para que as partes cheguem a acordo”, disse André Matias de Almeida, porta-voz da Antram em declarações à Lusa.

No entanto, o responsável da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram) lamentou que não tenham sido os sindicatos a colocar em cima da mesa esta possibilidade.

André Matias de Almeida notou ainda que, para que as duas partes cheguem a um entendimento, é necessário que o pré-aviso de greve, com início agendado para a próxima segunda-feira, dia 12, seja retirado e que os motoristas aceitem o protocolo convencionado em maio, que prevê que os aumentos pecuniários em negociação sejam indexados ao salário mínimo nacional.

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O porta-voz dos patrões vincou que a Antram está disposta ao entendimento, mas assegurou que a associação não vai ceder à “chantagem” feita pelos motoristas. “A Antram está disposta ao entendimento, desde que o entendimento não esteja assente na chantagem”, frisou.

Desta forma, a associação exige conhecer todas as propostas que estiveram na segunda-feira em cima da mesa na reunião que juntou os sindicatos representativos dos motoristas e o Governo. “A Antram mantém o diálogo de boa-fé negocial, sem radicalizar pontos e com cedências. A Antram tem de tomar conhecimento das propostas e só depois tomará uma posição”, concluiu.

Ainda na manhã desta terça-feira, e antes da reunião, a FECTRANS afirmou que quer continuar a negociar com a Antram: “Não faz sentido para nós qualquer outro espaço de negociação que não este. Discutiremos e analisaremos todas as propostas que nos queiram fazer chegar”.

José Manuel de Oliveira diz também que a FECTRANS não se sente pressionada. “As coisas neste momento não estão bloqueadas, todas as matérias que queremos e que achamos que são importantes que sejam revistas estão em discussão. Esperamos que haja condições pelo menos para que os processos possam evoluir. Como eu disse, sem pressa mas, para nós, o mais depressa possível”, destacou aos jornalistas antes de entrar para o Ministério das Infraestruturas.

O Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e o Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM) estiveram na tarde de segunda-feira reunidos, em Lisboa, com o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos.

O Ministério das Infraestruturas propôs aos sindicatos representativos dos motoristas a possibilidade de ser desencadeado “um mecanismo legal de mediação”, que obriga patrões e sindicatos a negociar e que permite que a greve seja desconvocada.

Combustíveis. Sindicatos dos motoristas mantêm greve, mas aguardam resposta dos patrões

“O Governo propôs hoje [na segunda-feira] aos sindicatos o desencadear de um mecanismo legal de mediação previsto no Código do Trabalho, no âmbito do qual as partes são chamadas a negociar e, caso não haja acordo, o próprio Governo, através da Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho, apresentará uma proposta de convenção coletiva de trabalho, nos termos da lei”, indicou, em comunicado, o ministério tutelado por Pedro Nuno Santos.

De acordo com o executivo, este mecanismo, caso seja aceite pelos sindicatos, vai permitir que “a greve seja desconvocada e que as partes retomem o diálogo e a negociação num novo enquadramento legal”.

À saída do encontro com o Governo, o assessor jurídico do SNMMP, Pedro Pardal Henriques, garantiu aos jornalistas que a greve vai manter-se até a Antram apresentar “uma contraproposta” que, a concretizar-se, será votada a partir de “sexta-feira, num plenário”.

“Estamos sempre disponíveis para desconvocar esta greve, só não estamos quando não há vontade da outra parte [Antram]”, sublinhou o antigo vice-presidente do SNMMP.

De acordo com este responsável sindical, na reunião foram apresentadas ao Governo as condições das quais os motoristas não abdicam para que seja desconvocada a greve. “O senhor ministro ficou hoje com um conhecimento muito mais profundo do que estava em cima da mesa e mostrou grande abertura e compreensão por aquilo que os motoristas estão a reclamar”, notou o responsável do SNMMP.

Posição semelhante foi defendida pelo representante do SIMM, Anacleto Rodrigues, salientando que só os trabalhadores é que podem aprovar uma contraproposta dos patrões. “Vamos ver se se regista alguma abertura por parte da ANTRAM e, depois, vamos esclarecer os nossos associados e eles é que vão votar”, afirmou.

A greve convocada pelo SNMMP e pelo SIMM, por tempo indeterminado, ameaça o abastecimento de combustíveis e de outras mercadorias. O Governo terá de fixar os serviços mínimos para a greve, depois de as propostas dos sindicatos e da ANTRAM terem divergido entre os 25% e os 70%, bem como sobre se incluem trabalho suplementar e operações de cargas e descargas.