Três ativistas pró-democracia foram detidos em Hong Kong esta sexta-feira — e entretanto libertados —, no mesmo dia em que foi cancelada a manifestação que estava convocada para o próximo sábado, um sinal de que as autoridades da região autónoma chinesa podem estar a aumentar a repressão ao movimento.
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A polícia de Hong Kong confirmou a detenção dos três ativistas, Joshua Wong, Agnes Chow e Andy Chan. Antes disso, já o partido Demosisto, do qual Wong é secretário-geral, tinha anunciado a detenção do seu líder no Twitter. “Joshua Wong foi detido esta manhã, por volta das 7h30 (00h30 em Lisboa), quando caminhava em direção à estação South Horizons MTR. Foi empurrado à força para uma pequena carrinha não identificada, no meio da rua, em plena luz do dia”, explicou o partido.
BREAKING: Our secretary-general @joshuawongcf was just arrested this morning at roughly 7:30, when he was walking to the South Horizons MTR station. He was forcefully pushed into a private minivan on the street in broad daylight. Our lawyers following the case now.
— Demosistō 香港眾志 ???? (@demosisto) August 30, 2019
Wong, que foi uma das figuras de destaque nos protestos Occupy, em 2014, está acusado de organizar, incitar e participar em manifestações ilegais a 21 de junho, segundo revela o jornal de Hong Kong South China Morning Post. Chow, outra ativista do movimento Occupy, está acusada de incitar e participar na mesma manifestação.
Já Andy Chan, ativista e fundador do Partido Nacional de Hong Kong (pró-independência), foi detido na noite de quinta-feira, quando ia embarcar num avião com destino a Tóquio, no Japão. É suspeito dos crimes de motim e de atacar um agente policial.
Em reação às detenções, o partido Demosisto afirmou que o objetivo da ação das autoridades de Hong Kong é o de “espalhar o medo”. “Querem apanhar os chamados ‘líderes’ do movimento para assustar as outras pessoas, que pensam que vão ser as próximas [detidas]”, afirmou Isaac Cheng, vice-presidente do partido.
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As detenções ocorrem na mesma altura em que é conhecida a proibição da manifestação que estava marcada para o próximo sábado, dia 31 de agosto. A Frente pelos Direitos Civis e Humanos, organizadora do protesto, anunciou esta sexta-feira que o pedido de manifestação não foi autorizado pelas autoridades: “O nosso princípio mais importante é o de proteger os participantes e garantir que não terão consequências legais por participar no protesto”, explicou Bonnie Leung, da organização, citada pela CNN. “Por causa da decisão, não vemos forma de conseguir manter este princípio e, ao mesmo tempo, avançar com a marcha. Assim sendo, a Frente não terá outra opção senão a de cancelar o protesto.”
Isaac Cheng do Demosisto, contudo, reforçou na sua declaração desta sexta-feira que “o terror não é útil quando se tem esperança” e afirmou estar convicto de que os habitantes de Hong Kong irão à mesma manifestar-se este sábado, com ou sem autorização das autoridades. Preparando-se para esse cenário, os responsáveis pelo aeroporto de Hong Kong estão já a estudar planos de contingência que podem incluir o cancelamento de voos.
“Já não há espaço para o diálogo. Eles não respondem às nossas cinco exigências e continuam a utilizar a violência”, disse o vice-presidente do Demosisto, numa radicalização de posições. As cinco exigências a que Cheng se refere são:
- A retirada do projeto de lei que permitira a extradição de habitantes de Hong Kong para a China continental — que deu origem aos protestos, em junho;
- A demissão da líder de Hong Kong, Carrie Lam
- Uma investigação à brutalidade policial
- A libertação dos ativistas que foram detidos durante os protestos
- Maiores liberdades democráticas
A situação em Hong Kong agrava-se pelo facto de a região fazer parte do chamado modelo “um país, dois sistemas”, em que Pequim concede mais liberdades à antiga colónia britânica face ao que acontece na China continental. Contudo, o movimento pró-democracia em Hong Kong tem estado cada vez mais ativo e uma série de manifestações intensas têm-se sucedido desde junho.
O aumento da repressão por parte de Pequim e das autoridades de Hong Kong, com a detenção de ativistas e cancelamento da marcha agendada para sábado, acontece um dia depois de as forças paramilitares chinesas terem realizado um exercício anti-motim em Shenzen, região que faz fronteira com Hong Kong. De acordo com o jornal chinês próximo do Partido Comunista Chinês Global Times, os exercícios envolveram centenas de homens armados que simularam ataques com cassetetes e canhões de água a outros militares que se faziam passar por manifestantes.
Ainda esta semana, a líder de Hong Kong, Carrie Lam, deixou em aberto a possibilidade de ativar poderes de emergência para lidar com os protestos: “O Governo é responsável por analisar todas as leis em Hong Kong que puderem fornecer meios legais para travar a violência e o caos”, afirmou. Segundo o South China Morning Post, a lei de emergência ou de “perigo público” dá às autoridades poderes reforçados para deter pessoas, censurar os media e suspender ou corrigir leis para lidar com a situação em causa.