Morreu o piloto da aeronave de combate aos incêndios que caiu esta quinta-feira em Valongo, confirmou o Observador junto da Afocelca, a empresa detentora do aparelho. Em comunicado enviado à imprensa, a Afocelca avança que “as circunstâncias em que ocorreu o acidente estão a ser apuradas pelas autoridades competentes”.
A vítima mortal, Noel Ferreira, era a única pessoa a bordo do aparelho. Era comandante dos Bombeiros Voluntários de Cête e, segundo fonte oficial contactada pelo Observador, era também militar da Força Aérea Portuguesa na Base do Montijo. Tinha 35 anos e tinha pedido licença para ajudar no combate aos incêndios.
Bruno Fonseca, comandante dos Bombeiros de Valongo, descreve Noel Ferreira como “um comandante com muita experiência, muito humilde”: “Conheço-o pessoalmente porque fiz recruta com ele na Força Aérea”, conta. E acrescenta: “Quero enviar as minhas condolências à família, a todos os bombeiros de Cête e a todos aqueles que viviam o dia-a-dia e que trabalhavam com este grande e excelente profissional”. O corpo do piloto já foi levado para o Instituto de Medicina Legal.
Marcelo Rebelo de Sousa enviou, entretanto, as condolências aos familiares do piloto. “Foi com grande consternação que o Presidente da República acabou de receber a trágica notícia que dá conta da queda de um Celca durante o combate a um incêndio na zona de Valongo, da qual resultou, infelizmente, a perda de vida do piloto”, lê-se numa nota publicada no site da Presidência da República.
O Presidente da República deixou ainda uma mensagem de agradecimento a todas as equipas que continuam no terreno e que, “mesmo perante um momento tão difícil como o da perda de um colega e concidadão”, continuam “a sua exigente missão de proteger o próximo”.
No Twitter, António Costa transmitiu o seu “profundo pesar” pela morte do capitão Noel Ferreira. “Foi com profundo pesar que tomei conhecimento do falecimento do capitão Noel Ferreira, comandante dos Bombeiros Voluntários de Cete, Paredes, que operava um helicóptero de combate a incêndios ao serviço da Afocelca”, escreveu o primeiro-ministro.
Neste momento doloroso transmito os sentidos pêsames à família e amigos e uma palavra de agradecimento e confiança a todos os que diariamente dão o seu melhor neste combate que é todos.
— António Costa (@antoniocostapm) September 5, 2019
Na mensagem, António Costa referiu que transmitiu “os sentidos pêsames à família e amigos e uma palavra de agradecimento e confiança a todos os que diariamente dão o seu melhor neste combate que é todos”.
O ministro da Administração Interna manifestou igualmente “profundo pesar” pela morte do piloto do helicóptero que se despenhou, salientando a sua “dedicação ao serviço dos portugueses”. Em comunicado, Eduardo Cabrita transmite, “neste momento trágico, um voto de solidariedade aos familiares, amigos e colegas da vítima”, destacando “a dedicação de Noel Ferreira, ao longo de muitos anos, como comandante de bombeiros e como piloto, ao serviço dos portugueses e da sua segurança”.
Também João Gomes Cravinho lamentou a morte de Noel Ferreira, dizendo que o piloto perdeu a vida “ao serviço de Portugal”. “Foi com profundo pesar que tomei conhecimento da notícia do falecimento do capitão Noel Ferreira, piloto da Força Aérea, na sequência da queda de um helicóptero em Valongo, esta tarde”, refere o ministro numa declaração enviada à Lusa.
João Gomes Cravinho deixou ainda uma palavra à família e amigos do piloto. “Neste momento de profunda consternação, e reconhecimento que perdeu a vida ao serviço de Portugal, zelando pela nossa segurança, gostaria de endereçar uma palavra de apreço e as mais sentidas condolências à família do capitão Noel Ferreira, aos camaradas e amigos, nesta hora difícil”, salienta a mesma declaração.
Já a Esquadra 751 da Força Aérea Portuguesa, da qual fazia parte o piloto, agradeceu “toda a sua dedicação e camaradagem”. “É com profundo pesar que informamos que o Capitão Piloto-Aviador Noel Ferreira, militar da Esquadra 751, faleceu hoje vítima de um acidente com um helicóptero de combate a incêndios”, lê-se numa mensagem publicada na página da rede social Facebook da esquadra.
https://www.facebook.com/Esquadra751/posts/2793473347353016
Falando num momento de “profunda dor” para toda a família aeronáutica depois de a perda de “um dos seus” numa situação trágica, a Esquadra 751 envia as suas sentidas condolências à família e amigos do militar. “A ti que hoje partes e que sempre voaste “Para Que Outros Vivam”, o nosso sentido obrigado por toda a tua camaradagem e dedicação!”, termina a mensagem.
Acidente está a ser investigado
O helicóptero estava a combater um incêndio na freguesia de Sobrado que havia deflagrado às 16h05 e que estava a ser apagado por 47 bombeiros e por uma segunda aeronave. Terá colidido com um poste de alta tensão e explodido no ar. A fotografia aqui em baixo mostra os destroços do helicóptero, que foi localizado em Sobrado de Cima.
Uma equipa do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) está a caminho de Valongo, avança a Agência Lusa: “Fomos notificados do acidente e uma equipa de investigação está a caminho para recolha de evidências”, disse à Lusa Nelson Oliveira, diretor do GPIAAF. De acordo com Bruno Fonseca, as investigações vão continuar na manhã desta quinta-feira.
O responsável explicou que “nem sempre há uma deslocação” ao local pelo Gabinete, mas “atendendo às circunstâncias” do acidente em Valongo, nomeadamente a “aeronave danificada” e a morte do piloto, justifica-se a mobilização de uma equipa.
A Afocelca, dona do helicóptero que caiu, é uma empresa do grupo The Navigator Company e da ALTRI com 120 colaboradores que tem por missão o apoio ao combate aos incêndios florestais tanto nas propriedades das empresas agrupadas, como noutras áreas sempre que chamada pela Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC). Esta última vertente corresponde a 85% das intervenções da empresa, que tem três Celcass (helicópteros ligeiros para combate com água), três equipas de combate helitransportadas, 19 equipas de combate terrestre com 3.000 litros, 38 unidades de prevenção e vigilância com kit de 600 litros e 18 oficiais de ligação nos Comando Distrital de Operações de Socorro.
Neste caso, o helicóptero estava a ser emprestado à Proteção Civil para combater um incêndio numa região que não pertencia à empresa. O fogo está, entretanto, em fase de rescaldo, confirma o comandante dos Bombeiros de Valongo. Há uma equipa da REN no local do acidente para averiguar se o helicóptero colidiu efetivamente com um posto de alta tensão.
Temos a informação de que o incêndio de Sobreiro estará já em fase de rescaldo. Não há chamas nem fumo a esta hora. pic.twitter.com/qytfMLSH5V
— Joana Ascensão (@JoanaAscenso1) September 5, 2019
Estão no local bombeiros de Valadares, de Areosa, do Porto, de Rio Tinto, assim como carrinhas da proteção civil e várias ambulâncias do INEM. Há chamas ainda visíveis. pic.twitter.com/tljWLgDaLw
— Joana Ascensão (@JoanaAscenso1) September 5, 2019
De acordo com o comandante Bruno Fonseca, os bombeiros de Valongo foram chamados para um incêndio às 16h15. No momento em que chegaram, já se encontravam outros dois meios aéreos em combate — um dos quais o que caiu. “Estava a entrar no teatro de operações quando soube da queda. Este helicóptero já se encontrava a fazer o combate, até porque ia acompanhado por uma brigada”, descreve o comandante.
Noel Ferreira já tinha deixado a tripulação de bombeiros no terreno quando houve o acidente: “Se realmente estivesse ainda a fazer o reconhecimento, esta situação teria sido ainda mais grave”, explica. Essa equipa que acompanhava o comandante Noel instantes antes do acidentes “está preparada para acompanhar todo o trabalho que o meio aéreo vai desenvolvendo na parte de cima”.
Avião terá “explodido no ar”
Segundo contou uma testemunha ao Observador no local, o helicóptero “explodiu no ar” depois de passar pelo meio de fios de eletricidade. “O que vi foi só o helicóptero a passar pelo meio dos fios. A hélice de trás rebentou, explodiu no ar, e o helicóptero caiu”, descreveu Gonçalo Soares.
A mesma testemunha indica que o incêndio combatido pelo helicóptero estava “praticamente apagado”, mas que a explosão do aparelho fez com que as chamas se alastrassem. “Havia outro helicóptero e bombeiros cá em baixo. Estava tudo praticamente apagado. Quando o helicóptero explodiu, aí piorou o incêndio”, que se “alastrou a mais sítios”, refere.
Em declarações ao Correio da Manhã, vários populares explicam que o helicóptero explodiu no ar e que foi contra um posto de alta tensão. Ao Jornal de Notícias, uma testemunha, Manuel Esteves diz que viu “uma faísca quando a hélice bateu”: “Deu duas voltas no ar e caiu”, descreveu.
Questionado sobre as circunstâncias em que o helicóptero caiu, Bruno Fonseca afirma apenas que “estão a preparar toda a área para receber as entidades que vão estar presentes na investigação”. Sobre se a aeronave explodiu no ar ou se se incendiou já no chão, o comandante diz apenas que “o helicóptero ficou totalmente tomado pelas chamas”, não sabendo que a aeronave explodiu em voo, se explodiu ao cair no chão ou se foi tomado pelas chamas do próprio incêndio.
Noel Ferreira, o piloto inspirado pelo Top Gun
Em entrevista ao Jornal de Notícias em julho deste ano, quando assumiu a liderança dos Bombeiros de Cête, Noel Ferreira contou que sempre quis ser piloto da Força Aérea: “Desde que me lembro que o meu objetivo de vida, e era o que diziam as composições da escola, era ser piloto, apesar de não ter nenhum militar ou piloto civil na família. Pode ter sido de ver o Top Gun”. Aos 17 anos, alistou-se na Academia da Força Aérea para perseguir o sonho.
Passados quase 20 anos, e com centenas de operações no currículo, confessou que a mais difícil de todas aconteceu nos Açores quando acudiu um pescador com uma amputação parcial de um pé: “Estava uma tempestade descomunal com ondas de 14 metros, ventos de 100 quilómetros hora, muita chuva e pouca visibilidade. Houve um milésimo de segundo em que considerei desistir da operação. Foi a única vez que pensei desistir”, descreveu ao Jornal de Notícias.
Questionado sobre a importância de liderar os Bombeiros Voluntários de Cête, Noel Ferreira afirmou que nunca teve “essa ambição”, mas que “é um privilégio liderar estas pessoas”.
Quinto acidente com aeronaves desde o início do ano
Este acidente surge menos de 24 horas depois de outro helicóptero de combate aos incêndios ter caído em Pampilhosa da Serra, provocando um ferido ligeiro. O helicóptero, que iria ajudar no combate ao incêndio na zona de Proença-a-Nova, caiu durante a descolagem da pista no Centro de Meios Aéreos. A bordo seguiam cinco elementos do Grupo de Intervenção Proteção e Socorro (GIPS) e o piloto.
Aliás, desde o início do ano já houve cinco desastres com helicópteros de combate a incêndios. Além da queda da aeronave esta quinta-feira, registaram-se acidentes em Pampilhosa da Serra (Coimbra), Castelo do Bode (Santarém), Barragem do Beliche (Faro) e Sabugal (Guarda).
Este é também o segundo acidente com um helicóptero em Valongo em nove meses. Em dezembro do ano passado, quatro pessoas morreram depois da queda de um aparelho do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). O helicóptero caiu na Serra de Santa Justa, junto à aldeia de Couce após ter partido de Massarelos para reabastecer no heliporto de Baltar. Tinha acabado de transportar um doente grave para o Hospital de Santo António, no Porto.