Mais onze mulheres denunciaram terem sido vítimas de assédio sexual por parte de Plácido Domingo, noticiou a agência Associated Press (AP), que expôs as primeiras acusações a 13 de agosto deste ano. A porta-voz do cantor lírico espanhol diz que se trata de “campanha para manchar a sua imagem”.
As histórias recebidas pela AP apresentam pontos comuns sobre as alegadas investidas do antigo diretor da Ópera de Los Angeles: telefonemas a altas horas da noite, convites insistentes de encontros a dois, toques não desejados e tentativas de beijos nos lábios.
Os testemunhos das vítimas e das pessoas que trabalharam com o artista ou que trabalham no meio têm ainda outro ponto em comum: todos saberiam deste tido de abordagem de Plácido Domingo sobre as mulheres e arranjavam formas de as proteger. As jovens cantoras, bailarinas e demais assistentes do espetáculo eram avisadas para evitarem ficar sozinhas com ele e os assistentes escolhidos para o ajudar a vestir eram homens.
Até à primeira publicação da AP, no entanto, não havia registo de denúncias. As vítimas diziam ter — então e agora — medo de represálias e nem com os próprios diretores das óperas falaram. Dentro do meio, também ninguém denunciou a situação.
A porta-voz do cantor, Nancy Seltzer, acusou a AP de estar a conduzir uma campanha imprecisa e com falta de ética para criar uma imagem errada de Plácido Domingo. “Estas novas alegações estão repletas de inconsistências e, como na primeira história, de muitas maneiras, simplesmente incorretas.”
Já quando foram reveladas as primeiras nova acusações, Plácido Domingo disse, em comunicado, que as declarações eram imprecisas. “Ainda assim, é doloroso ouvir que posso ter perturbado alguém ou ter feito com que se sentisse desconfortável — independentemente de há quanto tempo aconteceu e apesar das minhas melhores intenções”, pode ler-se no comunicado. Sem nunca negar o envolvimento com as alegadas vítimas, o cantor diz que acredita que as “interações e relações sempre foram bem recebidas e consensuais”. “De qualquer forma, reconheço que as regras e padrões pelos quais somos — e devemos ser — regidos são hoje muito diferentes do que eram no passado”, concluiu.
Estas declarações fizeram a cantora Angela Turner Wilson, agora com 48 anos, reagir — a única das 11 mulheres que revelou o nome. A cantora conta como, num momento em que partilhava o camarim de maquilhagem com Plácido Domingo, ele se aproximou, apertou-lhe as mamas e saiu como se nada fosse. “Magoou. Não foi gentil. Apalpou-me com força”, diz, rejeitando não só a ideia de atos consentidos, como também que isso fosse um comportamento aceitável na altura — há 20 anos.
Depois da primeira notícia da AP, a Orquestra de Filadélfia retirou o convite ao cantor para atuar no concerto de abertura da temporada, agendado para 18 de setembro, e a Ópera de São Francisco cancelou o concerto de dia 6 de outubro que assinalava os 50 anos da relação do tenor com a instituição. A Ópera de Los Angeles diz que vai investigar as acusações, até porque foi palco de muitas delas.