Maurice, o galo francês que ganhou fama em junho deste ano por ser o primeiro a ser processado no mundo, saiu nesta quinta-feira vitorioso do tribunal na aldeia de Saint-Pierre d’Oleron, avançou a AFP.

A batalha legal entre Corinne Fasseau – a dona de Maurice – e os vizinhos Jean-Louis e Joelle Biron, que levaram o galo a tribunal por cantar cedo demais e atrapalhar o sono do casal reformado, tornou-se notícia internacional depois de os críticos descreverem o caso como sintomático da tensão a cidade e o campo, algo intrínseco à sociedade francesa.

Maurice, o primeiro galo a ir a julgamento no mundo

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Fasseau lutava pelo direito de o galo ser livre para cantar à hora que quisesse, mas os recém-compradores de uma casa de férias ao lado da dela não estavam prontos para lidar com aqueles sons, já que vinham de uma região central e metropolitana. Agora, o advogado da dona de Maurice disse que o Tribunal de Rochefort decidiu que “os acusadores terão de a pagar mil euros pelos danos”.

Moradores da aldeia contaram à AFP que nunca ninguém tinha reclamado do canto matinal de Maurice, até este casal se mudar para ali. Mas o advogado dos Birons rejeitou a questão como uma batalha entre “bobos” (expressão francesa utilizada para denominar moradores de grandes cidades que deriva da junção das palavras “bourgeois bohemians”, burgueses boémios, em português) e habitantes do campo.

Jean-Louis e Joelle alegaram que estavam a ser acordados todos os dias às 4h da manhã por Maurice, ao que Fasseau respondeu fazendo diversas tentativas para o calar: chegou a tapar os galinheiros com lençóis pretos para evitar que o galo visse a luz do dia e assim cantasse, mas todos os esforços foram em vão.

Um oficial do tribunal foi escalado durante três noites para dormir na casa de Fasseau e apurar os hábitos sonoros do galo, nomeadamente os horários e nível dos cantos. E concluiu que Maurice cantava “intermitentemente” entre as 6h30 e 7h da manhã, e não a partir das 4h, além de classificar o som como “meramente audível”, enfatizando que o casal deveria ter fechado as janelas para dormir. O tribunal repreendeu os Birons por alimentarem um caso “frívolo” e não tentarem resolver de modo amigável.

“[A decisão] é uma vitória para todos na mesma situação que eu eu. Espero que isto estabeleça um precedente”, disse Fasseau, pedindo a criação da “lei Maurice” para salvaguardar os sons do interior. “Cocoricó!”, cantou ela ao comemorar.

Maurice tornou-se internacionalmente conhecido depois de uma petição com 140 mil assinaturas a defender a sua causa, além de mobilizar diversas pessoas que utilizaram tshirts com a frase “Let me sing” (“deixem-me cantar”, em português).