Morreu na segunda-feira, aos 94 anos, o lendário fotógrafo e realizador Robert Frank, um dos nomes mais influentes da fotografia no século XX, considerado o pai da “estética do instantâneo” e autor do livro de referência The Americans. A notícia foi divulgada pela imprensa americana nesta terça-feira e confirmada pela Galeria Pace-MacGill, de Nova Iorque, que representa o artista desde 1983.

Filho de Regina e Hermann Frank, ambos judeus, Robert Louis Frank nasceu em Zurique, na Suíça, em 9 de novembro de 1924, e iniciou-se como aprendiz de fotografia em 1941. Menos de duas décadas depois inscreveu o nome na história visual do século XX, ao publicar The Americans. Com uma carreira construía à margem de convenções e em rejeição das ideias de fama e fortuna, assinou séries fotográficas inclassificáveis, marcadas pela linguagem experimental e pelo corte com os cânones. O livro de 1938 American Photographs, de Walker Evans, terá influenciado Frank na sua própria monografia.

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Robert Frank, que atualmente vivia na Nova Escócia, Canadá, emigrou para os EUA em 1947, à procura de alargar horizontes, e começou por trabalhar como fotógrafo de moda da revista “Harper’s Bazaar”. Em 1955, com uma bolsa da Fundação John Simon Guggenheim, iniciou uma longa viagem de dois anos pelos EUA, durante a qual terá captado mais de 28 mil imagens, de acordo com dados biográficos publicados pela Galeria Pace-MacGill. Dessas 28 mil imagens, a preto e branco, 83 viriam a ser escolhidas para a monografia “The Americans”, que conheceu uma primeira edição em França, em 1958, sob o título Les Americains, com textos de outros autores. Um segunda edição apareceu nos EUA no ano seguinte, apenas com as imagens.

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O livro fixou uma versão crua da América e influenciou gerações de fotojornalistas e artistas visuais em todo o mundo, ao “desafiar a fórmula vigente no fotojornalismo de meados do século, a qual se definia por imagens bem focadas, bem iluminadas e com composição clássica”, escreveu o New York Times. As fotos de Robert Frank, onde figuravam pessoas sozinhas, casais adolescentes ou funerais, era “cinemáticas, imediatas, desfocadas, com grão, tal como as emissões televisivas daquele tempo”. Daí que o tenham considerado o pai da “estética do instantâneo”, que pode ser descrita como a captação imediata de imagens, sem encenação, o que lhes dava uma autenticidade rara até então.

Em 2016, protagonizou o documentário “Don’t Blink – Robert Frank” (2016), da realizadora Laura Israel.

[trailer de “Don’t Blink — Robert Frank”]

Com “The Americans”, Robert Frank foi “catapultado para uma posição cultural influente” e “tornou-se porta-voz de uma geração de artistas visuais, músicos e figuras literárias, tanto nos EUA como no estrangeiro”, descreve a nota biográfica da galeria. “Recebeu críticas pela heterodoxia da composição, da iluminação e do foco”, mas entre os seus defensores contaram-se os escritores da geração beatnik Jack Kerouac e Allen Ginsberg.

Estendeu o seu trabalho ao cinema, tendo assinado filmes experimentais, como “Pull My Daisy” (1959), em colaboração com Kerouac, ou o documentário “Cocksucker Blues”, sobre a digressão americana dos Rolling Stones em 1972. Em 1960, fundou o New American Cinema Group, ao lado de Jonas Mekas, Peter Bogdanovich e outros cineastas independentes. Em 1988, realizou “Candy Mountain”, uma obra de traços autobiográficos, com Tom Waits num dos papéis.

Robert Frank casou-se duas vezes: em 1950, com a artista britânica Mary Frank, e em 1971, com a artista americana June Leaf. Teve dois filhos, Andrea, que morreu em 1974, e Pablo, que morreu em 1994.