Nancy Pelosi, a líder da Câmara dos Representantes dos EUA, confirmou formalmente o início do processo de impeachment do Presidente Donald Trump. “O Presidente tem de ser responsabilizado”, afirmou Pelosi depois de sair de uma uma reunião com os congressistas Democratas no Capitólio. “Ninguém está acima da lei”, rematou.
A medida anunciada por Pelosi — que afirmou ainda que “as ações do Presidente violaram gravemente a Constituição” — surge como um desenvolvimento surpreendente numa “novela” que já se estendia há alguns meses. Nos últimos meses, muitos democratas hesitaram em avançar para uma medida tão radical como o impeachment, mas este novo escândalo, ligado a alegadas pressões junto da Ucrânia, provocou uma avalanche de pedidos de impeachment que Pelosi decidiu ouvir e concretizar. No seu anúncio formal, Nancy Pelosi explicou que as alegadas ações de Trump e a recusa da sua administração em ceder detalhes sobre o sucedido junto do Congresso deixaram a Câmara dos Representantes sem alternativa.
Entretanto Donald Trump já reagiu, através da sua conta de Twitter, dizendo apenas “Eles nem sequer leram as transcrições. É uma caça às bruxas total!”. Lançando logo de seguida novo post onde apenas escreveu, com letras grandes, “Assédio Presidencial!” Sem perder tempo, o Presidente dos EUA já publicou um vídeo onde tenta virar o impeachment a seu favor defendendo que ele “é a única forma” dos democratas o conseguirem ganhar
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) September 24, 2019
They never even saw the transcript of the call. A total Witch Hunt!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) September 24, 2019
PRESIDENTIAL HARASSMENT!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) September 24, 2019
Também a campanha Trump | Pence 2020 já reagiu oficialmente através de Brad Parscale, o responsável por este movimento eleitoral que divulgou um comunicado através do twitter onde afirma que “a estratégia mal orientada dos democratas em perseguir o impeachment serve para apaziguar a sua base raivosa, extrema e esquerdista. Contudo vai apenas servir para da alento os apoiantes do Presidente Trump e criar uma vitória esmagadora para o Presidente.”
Democrats have officially paved the way for a @realDonaldTrump landslide victory. The witch-hunt continues…
Our campaign statement: pic.twitter.com/h3Y9sVCx04
— Brad Parscale (@parscale) September 24, 2019
Na comunicação de Pelosi ao país a responsável pela Câmara dos Representantes não poupou palavras ao classificar as ações de Trump como “uma traição ao seu juramento, à segurança nacional e à integridade das eleições.” Apesar de se ter optado por este caminho ainda não se sabe ao certo o que poderá mudar. O The Guardian explica que as investigações sobre o assunto vão prosseguir da mesma forma tendo apenas como diferença o facto de estarem sob o “guarda-chuva” de uma investigação formal de impeachment.
BREAKING: Speaker Nancy Pelosi: "Today, I'm announcing the House of Representatives is moving forward with an official impeachment inquiry."
"The president must be held accountable; no one is above the law." https://t.co/WZnIWjR7tP pic.twitter.com/fAM81LJUju
— ABC News (@ABC) September 24, 2019
As reações ao pedido de impeachment já começam a surgir e uma das primeiras veio da trincheira dos democratas, do congressista Al Green, que começou a pedir o afastamento de Donald Trump logo quatro meses depois da sua tomada de posse, depois de Trump ter afastado James Comey da liderança do FBI. “Fui vingado. Isto começa a setr guiado pela história. Os acontecimentos tomaram controlo”, lê-se num tweet partilhado pelo Jornalista da FOX Chad Pergram.
Rep. Al Green (D-TX) who has long pushed impeachment: “I am vindicated..This is being driven by history now..Events have taken control”
— Chad Pergram (@ChadPergram) September 24, 2019
Também do lado dos republicanos já se soube a opinião de Kevin McCarthy, que disse que Nancy Pelosi “não fala em nome de toda a América”. “O nosso trabalho é legislar, não continuar a investigar”, afirmou este representante do estado da Califórnia, acrescentando ainda que a decisão “não muda nada”.
Facts be damned. Democrats are insisting this is their moment to impeach President Trump.
Speaker Pelosi’s decree changes nothing.https://t.co/xiNp1WXYoy
— Kevin McCarthy (@SpeakerMcCarthy) September 24, 2019
O lider do Senado, Mitch McConnell, tambem já expressou a sua opinião, dizendo também pelo twitter que o impeachment de Pelosi e os democratas no geral estão atrás de uma “conclusão predeterminada”, reação nada surpreendente tendo em conta que o senador do estado de Kentucky é um dos maiores apoiantes de Trump.
Se o congresso seguir em frente com o impeachment, McConnell terá de presidir ao julgamento no Senado, cenário complicado já que para o afastamento ser confirmado seria preciso ter dois terços dos senadores a votar nesse sentido, algo complicado já que de acordo com os números de Republicanos e Democratas presentes nesta instituição governativa, 20 republicanos teriam de votar contra o Presidente da sua cor partidária.
My statement on Speaker Nancy Pelosi's impeachment inquiry announcement:https://t.co/6dtEHGTEMV pic.twitter.com/8zYrYD3Bhn
— Leader McConnell (@LeaderMcConnell) September 24, 2019
Em toda a história dos EUA nunca houve um Presidente a ser removido do cargo através de um impeachment. Como diz o The Guardian, só dois governantes enfrentaram esta medida, Bill Clinton em 1998 e Andrew Johnson em 1868 — ambos foram absolvidos. Richard Nixon demitiu-se antes de ser retirado de ter de enfrentar a medida.
Past impeachments
1) Articles of Impeachment for Andrew Johnson were reported from the House Committee on Reconstruction.
— Paul Blumenthal (@PaulBlu) September 24, 2019
A motivação deste impeachment prende-se com o recente escândalo ligado à Ucrânia, que dá conta de uma alegada pressão de Trump junto do Presidente Volodymyr Zelenski para que este lançasse uma investigação oficial à empresa do filho de Joe Biden (que opera nesse país do leste europeu) em troca de financiamento e apoio militar.
O Presidente dos EUA admitiu na segunda-feira ter falado do antigo vice-Presidente Joe Biden e do seu filho Hunter num telefonema com o Presidente da Ucrânia, caso que está a ser usado como prova de tentativa de pressão sobre um líder estrangeiro.
Trump congelou ajuda finaneira à Ucrânia antes de falar com Zelensky
De acordo com o Washington Post, os responsáveis pelo congelamento da ajuda financeira receberam indicações para dizer aos deputados que a decisão estava associada a “um processo entre organismos” e para não fornecer mais informações.
Donald Trump negou ter pressionado a Ucrânia para tentar prejudicar o seu rival político Joe Biden, afastando a possibilidade de ser dado início a um processo de impeachment (destituição do Presidente), apesar dos apelos da oposição democrata.
“Não pressiono a Ucrânia”, disse Trump, à margem da Assembleia Geral da ONU, que teve esta terça-feira início em Nova Iorque.
“Joe Biden e o seu filho são corruptos”, acusou, voltando a referir que existem rumores sobre um alegado caso de corrupção na Ucrânia ligado à empresa onde Hunter Biden trabalha.
Donald Trump admitiu ter feito um telefonema para o Presidente ucraniano em 25 de julho, no qual falou sobre este caso, mas garantiu que a conversa teve um tom “congratulatório” e focou-se nos problemas da corrupção nos países da Europa de Leste.
A oposição suspeita, no entanto, que Donald Trump tenha aproveitado a sua posição para pressionar Zelensky a investigar Joe Biden, usando a ajuda militar que é dada à Ucrânia como forma de pressão.
De acordo com The New York Times, Trump já autorizou que fossem reveladas as transcrições da chamada que fez com o Presidente Zelenski.