Catarina Martins guardou para o penúltimo comício, que aconteceu esta noite na alfândega do Porto, uma das intervenções mais marcantes destas duas semanas. A pouco mais de 24 horas do fim da campanha, a líder do Bloco de Esquerda contou às cerca de 700 pessoas que compunham a plateia aquilo que o partido fará na segunda-feira, dia 7 de outubro. “Se formos mais fortes — e eu acho que vamos ser –, todo o país sabe que o” BE contará para novas soluções que partem precisamente de onde a “geringonça” parou. Um novo começo”, afirmou a líder do Bloco de Esquerda.

O nível de compromisso assumido esta noite por Catarina Martins é um passo em frente ao relação ao que tinha dito até agora. E foram várias as referências que deixou ao longo da sua intervenção. “Se o Bloco de Esquerda estiver mais forte, tudo aquilo que alcançámos nos últimos quatro anos terá sido mais do que um breve parêntesis na política do país”.

Um cenário que só será possível, sublinhou diversas vezes, se o Bloco de Esquerda subir e se o PS não tiver maioria absoluta. Se assim for, a coordenadora do partido não tem dúvidas de que os últimos quatro anos de entendimento com o PS terão sido apenas “os primeiros passos” e não há quem não saiba que cumprimos os nossos compromissos.

O “novo começo” que diz estar disposta a assumir a partir de dia 7 não ficou definido. Fechou um pouco mais o ângulo sobre os objetivos bloquistas, mas não foi ao detalhe de falar do modelo do aprofundamento das tais “novas soluções”. Mostrou que o partido aposta tudo em continuar a contar para uma solução de governo e engrossou a voz ao PS, assumindo que se tiver o BE tiver mais força a usará para ser “mais exigente”. Defende um upgrade, mas sem especificar qual.

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A pergunta a que faltava responder começava a ecoar na cabeça de todos os presentes: está o BE disposto para ir para o Governo? Estará disposto a fazer uma nova geringonça? A resposta chegou no meio de duas frases e ia passando quase despercebida. “Estamos preparados para tudo“, afirmou. Ao longo do seu discurso repetiu que o BE é um partido que não guarda “surpresas para segunda-feira” nem esconde “segredos para a gente deste país”. Mas lá deixou um por desvendar.

“Tudo contra a maioria absoluta. Vai avante, Catarina!”

Para reforçar a mensagem da noite, o Bloco arregimentou um peso-pesado, o fundador e ex-líder do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã: “Tudo contra a maioria absoluta. Vai avante, Catarina!”. O PS e a possível maioria absoluta, foram alvos, mas a direita também saiu com as orelhas a arder: “Só tenho de agradecer aos chefes da direita, porque os dois são um postal ilustrado da troika”, satirizou.

O primeiro golpe foi direto para o primeiro-ministro: “Quando houve quem definisse o tom desta campanha pelo ataque ao Bloco, dizendo que provocaria ingovernabilidade se fosse mais forte, fomos muitos os que nos lembrámos de que António Costa é primeiro-ministro porque Catarina [Martins] e também Jerónimo de Sousa lhe deram a mão e nunca faltaram aos seus compromissos”, afirmou.

Uma frase que relembra a que Catarina Martins disse no início da semana, na feira de Espinho, quando foi instada a responder às provocações de Augusto Santos Silva, que avisou contra o perigo de o BE vir a ter uma “influência desmesurada”.

Comparando o Bloco de Esquerda a “uma força da natureza”, que cresceu “como partido do povo”, apelou ao voto dos indecisos — a que preferiu os eleitores com “votos decisivos” — para impedir a maioria absoluta socialista. E estabeleceu o objetivo de ver o BE a reforçar a posição de “terceira força política” e de ser “o mais capaz de resolver os impasses”. Sintomático do discurso que viria a seguir.